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INVESTIGAÇÃO

Delação de Ronnie Lessa: além de mandantes, acordo deve esclarecer motivação e preço do assassinato

Detalhes que o ex-sargento contou aos agentes vai preencher as lacunas da investigação que perduraram sem respostas há seis anos

Ronnie Lessa, acusado de matar vereadora Marielle FrancoRonnie Lessa, acusado de matar vereadora Marielle Franco - Foto: Reprodução / JN

A delação premiada do ex-policial militar Ronnie foi validada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que deve elucidar a investigação das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Os detalhes que o ex-sargento contou aos agentes vão preencher as lacunas da investigação que permaneceram sem respostas por seis anos. Além de apontar o mandante e qual foi a motivação da execução, Lessa também pode fornecer detalhes sobre como o crime foi contratado, quanto custou e confirmar a participação de cada um dos envolvidos.

Quanto custou a morte da vereadora?
Em delação, Queiroz disse que Ronnie Lessa jurou para ele não ter recebido dinheiro para matar a vereadora, mas que o crescimento no patrimônio do PM reformado fez com que ele desconfiasse dessa afirmação.

Segundo Élcio, Lessa tinha uma Range Rover Evoque, uma Dodge Ram blindada e uma lancha. Além disso, custeava duas casas e ainda fazia manutenção em um terreno em Angra dos Reis. Só esse imóvel na Costa Verde estaria avaliado em R$ 1,2 milhão. A polícia descobriu ainda que o ex-sargento também pagava R$ 2.049,95 em uma vaga para sua lancha, que custou R$ 261.449,95. Ele seria proprietário ainda de um imóvel no condomínio Píer 51, em Mangaratiba.

Agora, Lessa deve esclarecer quanto o crime custou e dar detalhes de quais foram os termos para a contratação dos executores.

Quem mandou matar Marielle Franco?
Lessa apontou duas pessoas como mandantes da morte da vereadora. Um dos envolvidos revelados por ele tem foto privilegiado e por isso a colaboração foi para a Corte Suprema. Com isso, os dois suspeitos de ordenar serão julgados pelo Supremo.

O próximo passo deve ser feito pela Procuradoria-geral da República, a quem cabe denunciar os acusados e pedir as prisões. O ministro Alexandre de Moraes decidirá sobre os pedidos e os nomes devem ser revelados em breve.

Detalhes da tentativa frustrada de matar a vereadora em 2017
A delação do ex-PM Élcio de Queiroz revelou que houve uma tentativa de matar Marielle Franco ainda em 2017. Ele contou que soube dessa informação em uma festa de réveillon de 2017 para 2018, quado estava com sua a família e a de Lessa no condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste, onde o atirador morava.

No meio da noite, Ronnie, alcoolizado, confidenciou que estava chateado, pois não consegui concluir um trabalho há algum tempo com dois cúmplices: Maxwell Simões Correa, o Suel (preso em operação da PF), e Edimilson Oliveira, o Macalé, que foi assassinado.

Lessa então detalhou a noite que saiu com os dois: Maxwell era o motorista do Cobalt, o atirador no carona com sua submetralhadora e Edimilson no banco traseiro com um fuzil Ak-47.

Marielle estava num táxi, também no Estácio, bairro onde foi assassinada meses depois. Em seu desabafo ao amigo, o atirador contou que o trio se aproximou do veículo da vereadora, mas, apesar da ordem de emparelhar com o carro, Suel não conseguira se aproximar. O motorista explicou a Lessa que o carro dera um problema, mas o ex-Bope não acreditou e achava que Suel tinha ficado com medo. Em delação, Lessa deve ter dado ainda mais detalhes de como se deu essa tentativa e como foi acordado com os mandantes a condição para a execução da parlamentar.

Qual foi a motivação do crime?
O que motivou o assassinato da vereadora Marielle Franco é uma das principais perguntas do caso. Desde que Lessa falou pela primeira vez com a PF, os agentes investigam se uma disputa por terra na Zona Oeste do Rio motivou o crime que ocorreu em março de 2018.

Nesta segunda-feira, Lessa teve uma audiência com um juiz auxiliar do ministro do STF Alexandre de Morae e concordou com os termos do acordo firmado com a PF e a Procuradoria-Geral da República. A delação foi homologada e, a partir de agora, a PF deve cruzar as informações fornecidas por Lessa e Queiroz e buscar provas que corroborem o relato dos dois ex-policiais.

Com esses cruzamentos, os agentes vão confirmar ou descartar a hipótese que Marielle teria virado vítima por defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda. Seguindo essa linha de investigação, ela se tornou alvo ao defender que o processo de ocupação fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio (Iterj) e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

O mandante do assassinato apontado por Lessa buscaria, segundo ele, a regularização de um condomínio inteiro na região de Jacarepaguá sem respeitar o critério de área de interesse social, ou seja, o dono tinha renda superior à prevista em lei. O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária. A PF ainda deve provar se essas informações estão corretas.

Outros envolvidos
Além de detalhar ainda mais a participação dos envolvidos já citados na investigação, Lessa pode revelar o nome de outros envolvidos no crime. Quando o também ex-PM Élcio de Queiroz fez uma delação, ele apontou o ex-bombeiro Maxwell Simões, o Suel, como responsável pelo monitoramento e sumiço do Cobalt usado no crime, o que era desconhecido pela polícia.

Foi Élcio quem trouxe também para o inquérito o mecânico Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, acusado de desmanchar o carro, e o sargento da PM Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé. Este último teria sido o elo entre mandantes e Ronnie Lessa. Quase três anos depois, ele foi assassinado em 2021 como suposta "queima de arquivo".

Com a colaboração de Lessa, ele pode explicar o que motivou a execução de Macalé, em novembro de 2021 e dar mais detalhes das conexões do submundo do crime. Além da relação com o assassinado de Marielle e Anderson, Macalé já foi citado em inquéritos relacionados ao jogo do bicho, aparecendo como integrante da equipe de segurança de Bernardo Bello e apontado como um dos braços direitos do bicheiro.

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