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Denúncia de assédio é vista como "desastre" por aliados de Bolsonaro; Guimarães deve deixar Caixa

Revelação de que funcionárias do banco estatal denunciaram executivo ao Ministério Público Federal complica ainda mais as dificuldades da campanha de reeleição entre as eleitoras

Pedro Guimarães e Jair BolsonaroPedro Guimarães e Jair Bolsonaro - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A revelação de que funcionárias da Caixa Econômica Federal denunciaram o presidente do banco estatal, Pedro Guimarães, por assédio sexual, caiu como uma bomba no núcleo político da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro.

Enquanto os aliados buscavam um fato novo para abafar as repercussões da prisão do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, o site “Metrópoles” publicou ontem uma reportagem e depoimentos em vídeo com uma série de depoimentos de cinco vítimas (cujas identidades foram preservadas) comportamentos inapropriados de Guimarães, como convites, frases constrangedoras e toques em partes do corpo delas.

A reportagem diz que as mulheres são testemunhas de uma investigação em curso, sob sigilo, no Ministério Público Federal (MPF). O MPF do Distrito Federal afirmou que não fala sobre procedimentos sigilosos.

O novo escândalo no governo logo acendeu o sinal vermelho entre os aliados de Bolsonaro, que enfrenta maior resistência no eleitorado feminino, segundo as pesquisas em que figura em segundo lugar na corrida presidencial. Assessores do presidente reproduzem a versão de que Bolsonaro disse a Guimarães que as denúncias são "inadmissíveis" e os dois concordaram com o afastamento do executivo.
 

Segundo o colunista do Globo Lauro Jardim, a demissão de Guimarães foi decidida na noite de ontem em uma conversa dele com Bolsonaro, e o executivo deve deixar o cargo hoje.

Em princípio, segundo relatos do entorno do presidente, Guimarães pedirá demissão para cuidar de sua defesa. A notícia, ainda segundo Lauro Jardim, deixou atônitos assessores do presidente durante a tarde de ontem.

Panorama parecido descreveram a colunista do Malu Gaspar e o repórter do blog dela no GLOBO Rafael Morares Moura. Segundo eles, a gravidade das denúncias levou o núcleo político da campanha de Jair Bolsonaro a pressionar pela saída imediata de Guimarães do cargo.

Os membros da cúpula da campanha, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, viram as denúncias como um desastre numa campanha em que um dos maiores desafios é reverter a altíssima rejeição de Bolsonaro no eleitorado feminino – que chega a 61% entre as mulheres, segundo a última pesquisa Datafolha.

Isso poucos dias depois de o presidente desistir de convidar uma mulher, a ex-ministra Tereza Cristina, para ser sua vice, como defendia Costa Neto. Bolsonaro preferiu o general da reserva e ex-ministro Braga Netto. O recado dos aliados a Bolsonaro ontem foi claro: o presidente não poderia passar nem mais um dia fazendo campanha eleitoral enquanto Guimarães estiver no cargo.

-- Nós precisávamos que algum fato viesse para desviar a atenção do caso do MEC. Mas não era bem nisso que estávamos pensando -- comentou um integrante da campanha bolsonarista ao blog de Malu Gaspar, que observou que Guimarães era o único comandante de uma grande estatal que se mantinha no cargo desde o início do governo Bolsonaro, em 2019.

De lá para cá, Guimarães se aproximou muito do presidente, a ponto de ser uma figura frequente nas transmissões semanais do presidente nas redes sociais. Ao concentrar os pagamentos do auxílio emergencial e do Auxílio Brasil, além de outras ações populares como o saque extraordinário do FGTS e o crédito para pequenas empresas durante a pandemia, Guimarães orientava sua atuação no banco estatal para funcionar como linha auxiliar dos interesses políticos de Bolsonaro.

Integrantes do governo também avaliaram que o presidente da Caixa deve se afastar imediatamente do cargo, e deram esse conselho ao presidente, segundo a colunista do GLOBO Bela Megale. Dois ministros e um auxiliar do presidente ouvidos pelo blog dela classificaram a situação de Guimarães como “insustentável” e defenderam a saída dele como necessária para “poupar” mais desgastes para Bolsonaro.

A Caixa negou que tivesse conhecimento do teor das denúncias e anunciou na noite de ontem o cancelamento de uma cerimônia sobre financiamento agrícola que estava marcada para hoje com a presença de Guimarães.

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