Depois de dizer que "não se vê alguém pedindo pão" por fome, Bolsonaro diz "olhou" pelos mais pobres
Em comício na Bahia, presidente afirma que país passou "momento difíceis com pandemia e com a guerra", e que " o mundo sem o Brasil passa fome"
Um dia depois de dizer que não existia "fome para valer" no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que olhou "e muito" para os mais humildes. Bolsonaro deu a declaração em comício na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia, ao lado do seu candidato a vice, general Braga Netto, e o ex-ministro da Cidadania João Roma, candidato ao governo do estado.
– Vocês sabem que nós também olhamos, e muito, para os mais humildes, para os mais pobres
Em entrevista ao Pânico concedida na sexta-feira (26), Bolsonaro disse que há, no Brasil, pessoas que passam mal de fome e que se encontram abaixo da linha da pobreza, mas não se vê alguém pedindo pão em padaria por fome.
– Essa senadora (Simone) aí falou besteira. Gente passa mal? Sim, passa mal no Brasil. Alguém já viu alguém pedindo um pão na caixa da padaria? Você não vê, pô. Até no interior. Tem gente que passa mal? Tem gente que passa mal, sim. Mas quem porventura está na linha da pobreza, passando fome, sim, deve ter gente que passa fome, e só – afirmou o presidente durante a entrevista.
Leia também
• Bolsonaro garante que irá participar do debate presidencial este domingo (28)
• Lula destaca importância do combate à fome e da geração de empregos
• Fome: rotina de 25,7% das famílias no Norte, diz pré-candidato indígena mais jovem do país
Em 2021, mais de 62 milhões de brasileiros, ou 29,6% da população, tinham renda per capita mensal de até R$ 497, equivalente a R$ 16,5 por dia, de acordo com o "Mapa da Nova Pobreza", divulgado pela FGV Social em julho deste ano. A pesquisa mostra que, em dois anos (2019 a 2021), 9,6 milhões de pessoas tiveram sua renda comprometida e ingressaram no grupo de brasileiros que vivem em situação de pobreza.
Pouco depois, em entrevista ao Ironberg Podcast, do professor de educação física e atleta de fisiculturismo Renato Cariani, Bolsonaro afirmou que não existe "fome para valer" no Brasil.
–Fome no Brasil? Fome pra valer. Não existe da forma como é falado. O que é a extrema pobreza? É você ganhar até 1,9 dólares por dia. Isso dá R$ 10. O Auxílio Brasil são R$ 20 por dia. Então, quem por ventura está no mapa da fome, pode se cadastrar e vai receber. Não tem fila. São 20 milhões de famílias que ganham isso aí – afirmou o presidente.
O tema voltou a este sábado na Bahia:
– Passamos momentos difíceis com a pandemia e com a guerra, mas o Brasil emergiu. Hoje os números da economia são os melhores do mundo e cada vez mais o mundo olha para nós. O mundo sem o Brasil passa fome – disse Bolsonaro.
Neste sábado, ainda durante o comício, Bolsonaro afirmou que não iria admitir "qualquer ação contra" a democracia e contra a liberdade.
– Não admitiremos qualquer ação contra a nossa democracia e contra a nossa liberdade
Na sexta-feira, também em entrevista ao Pânico, Bolsonaro voltou a criticar, embora sem citar o magistrado, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e afirmou que o ministro interfere na Polícia Federal. Depois, na mesma entrevista, Bolsonaro afirmou diretamente que Moraes pratica "censura" e é "parcial" contra ele e tem o objetivo de prejudicar sua campanha.
Os primeiros comícios de Bolsonaro acontecem em regiões estratégicas para a campanha. Na quarta-feira, esteve em Belo Horizonte, Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. Hoje, em seu segundo comício, o presidente foi ao Nordeste, região que apoia majoritariamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário na corrida pelo Palácio do Planalto.
A propaganda que marca a estreia de Bolsonaro no horário eleitoral usou um narrador com sotaque nordestino em aceno ao eleitorado da região. No programa, o presidente da República defendeu o Auxílio Brasil, dizendo que o Bolsa Família, marca dos governos petistas, pagava menos do que o atual programa. O mandatário ainda voltou a culpar o isolamento social pela piora na economia.
Bolsonaro ainda abordou o compromisso de manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 no próximo ano. A política de transferência de renda está prevista para terminar em dezembro, o que é alvo de críticas por parte dos demais candidatos.