Deputada do MDB 'garante' emendas com Lira um dia após trair o partido
Reunião entre presidente da Câmara e Daniela do Waguinho foi divulgada nas redes sociais após votação importante para governo
Poucas horas após a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que foi concluída na madrugada de quinta, e contrariar a posição de seu partido, a deputada Daniela do Waguinho (MDB-RJ) foi recebida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tratar da destinação de verba ao município de Belfort Roxo, sua base eleitoral.
Quem admitiu o propósito da reunião, em que houve uma “garantia” para o envio de recursos, foi o marido da parlamentar e prefeito da cidade, Waguinho. O prefeito divulgou um vídeo nas redes sociais após participar da conversa no gabinete do presidente da Câmara. Lira foi um dos principais fiadores da PEC aprovada no dia anterior, ocasião em que monitorou e cobrou o voto de seus pares.
Leia também
• Vitória de Lira e Bolsonaro expõe falta de coesão na terceira via e abre crise no PDT
• Lira elogia deputados do PDT e diz não acreditar em 'nenhum tipo de baixa' para segunda votação
• Voto do exterior e alteração da proposta: os 'atalhos' de Lira para votar a PEC na madrugada
"Estou em Brasília, no gabinete da minha querida e amada esposa, Daniela do Waguinho. Vim despachar as emendas para a nossa querida Belfort Roxo. Inclusive, também estou aqui porque, além de Belfort Roxo, ela está ajudando várias outras cidades do Rio de Janeiro" relatou Waguinho.
Em seguida, o prefeito citou o acordo político firmado com Lira.
"O trabalho está sendo muito bom. Hoje estivemos com o deputado Arthur Lira, que garantiu mais recursos, a pedido da deputada de Belfort Roxo. E para outras cidades do Rio".
Daniela do Waguinho foi uma das parlamentares do MDB que votaram a favor da proposta do governo. O texto parcela o pagamento de precatórios, que são dívidas da União sem direito a contestação judicial.
A PEC é importante para o Palácio do Planalto porque alarga o teto de gastos e abre espaço fiscal para despesas na ordem de R$ 90 bilhões para 2022, ano eleitoral. É considerada também o principal instrumento para o pagamento do Auxílio Brasil, uma reformulação do Bolsa Família.
Antes da votação, em reunião da bancada do MDB, deputados decidiram votar contra a PEC. Enquanto 13 deputados da legenda seguiram a orientação, 10 se manifestaram de forma contrária, entre eles Daniela. Outros 10 não sequer marcaram posição, o que contribuiu para minar o apoio ao governo. O texto foi aprovado em primeiro turno por 312 votos, com uma estreita margem de quatro votos a mais do que o necessário.
Nas redes sociais, Daniela postou uma foto com o marido e Lira. A legenda: “Vem muita coisa boa pela frente”. O GLOBO fez um questionamento à parlamentar sobre quais emendas foram “garantidas” por Lira. Mas não obteve resposta. Já o marido foi genérico sobre o assunto.
"A gente estava falando sobre os programas do governo federal. São vários programas da saúde, da educação, do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação)".
Waguinho afirma que Lira estava ajudando para que Belford Roxo fosse "incluída nos programas desses ministérios" para conseguir recursos para ônibus escolares e creches, mas não sabe ao certo de onde viria essa verba.
Às vésperas da votação da PEC dos Precatórios na Câmara, o governo Bolsonaro liberou para parlamentares, em apenas dois dias, cerca de R$ 900 milhões em emendas de relator, verba sobre a qual não há transparência nas indicações.
Lira é o principal negociador deste tipo de emenda. Perguntado pelo GLOBO quais seriam as emendas citadas pela deputada e pelo prefeito, o presidente da Câmara não quis comentar.
Veja também
PT: indiciamento de Bolsonaro e organização abre caminho para que venham a pagar pelos crimes
