Deputado acusado de agredir ex-mulher se torna réu por abuso de autoridade e constrangimento
Quando ainda era delegado, Da Cunha teria obrigado uma vítima de um sequestro e o autor do crime a retornarem ao cativeiro para filmar ação de resgate
O deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado Da Cunha, se tornou réu na na Justiça de São Paulo por abuso de autoridade e constrangimento ilegal em uma ação policial, quando ainda atuava na Polícia Civil. O parlamentar já responde outro processo por agressão a ex-mulher, nutricionista Betina Grusiecki, que o acusou de bater sua cabeça contra a parede e apertar seu pescoço.
Segundo informações do G1, a denúncia do Ministério Público de São Paulo foi apresentada em fevereiro, por cu caso que ocorreu em julho de 2020, durante uma operação em uma comunidade da Zona Leste da capital paulista. Da Cunha teria participado de uma ação que desarticulou um sequestro, mas após a liberação do refém e prisão do autor do crime, ele obrigou os dois a retornarem ao cativeiro para que ele pudesse filmar uma cena em que ele aprece como o responsável pelo resgate.
A vítima do sequestro era um jovem que tinha sido capturado por criminosos para ser julgado pelo "tribunal do crime". Ele foi acusado de estuprar uma adolescente na comunidade que morava, o que ele nega.
Eleito deputado federal por São Paulo com mais de 180 mil votos, Da Cunha também é investigado por enriquecimento ilícito e abuso de autoridade, depois de ficar conhecido na internet com vídeos de operações policiais. Investigações apontaram que o delegado pagava até R$ 14 mil por mês para a equipe de filmagem. Atualmente, ele tem dois milhões de seguidores no Instagram.
Da Cunha chegou a ser afastado de suas funções em julho de 2021, quando a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo instaurou um processo administrativo por suspeita de peculato. A prática consiste na apropriação, por parte de um funcionário público, de um bem a que ele tenha acesso por causa do cargo que ocupa, em benefício próprio ou de outras pessoas.
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Violência doméstica
O delegado virou réu em outubro, numa ação por violência contra a nutricionista, de 28 anos. Os dois se conheceram em 2020, moravam juntos e não têm filhos. Ele é pai de três crianças, frutos de outra relação. Em depoimento, ela relatou à Justiça ter sofrido com episódios de agressão verbal e física durante o relacionamento de três anos com o deputado. Segundo ela, o casal discutia com frequência.
Segundo o Ministério Público, além de ameaças e agressões, ele também causou danos materiais à vítima. O caso foi registrado na 2ª DDM (Delegacia da Defesa da Mulher), na Zona Sul de São Paulo, como lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica, cuja acusação ainda vai a julgamento.
Em um vídeo divulgado pelo Fantástico, da TV Globo, é possível ouvir o deputado insultando a então companheira e a ameaça de morte. "Vou encher sua cara de tiro", diz o deputado na gravação. Em alguns momentos, dá pra ver o rosto de Betina e, em um relance, é possível reconhecer a imagem do delegado. A maior parte do vídeo é composta apenas por áudio. Segundo a vítima, ele havia consumido bebida alcóolica e, em um momento da gravação, ele bate com a cabeça dela na parede. "Desmaia aí, desmaia aí", diz ele.
A agressão registrada no vídeo aconteceu no apartamento onde o casal vivia em Santos, no litoral paulista, em 13 de outubro do ano passado. Segundo Betina, foi a última vez que ele a agrediu, já que, neste mesmo dia, ela deixou a casa onde os dois viviam.
À justiça, o deputado negou ter agredido a nutricionista, mas o IML atestou que Betina tinha escoriação no couro cabeludo e lesões corporais leves. O deputado registrou um boletim de ocorrência afirmando que era ele o agredido, por causa do ferimento com um secador. O Ministério Público concluiu que Betina tinha agido em legítima defesa.