Política

Dino diz que é "questão de honra" desvendar assassinato de Marielle

Senador eleito pelo Maranhão, Dino fez ainda um aceno ao Poder Judiciário dizendo que o seu governo será de paz

Flávio Dino (PCdoB)Flávio Dino (PCdoB) - Foto: Cadu Gomes / Secom

O ministro da Justiça, Flávio Dino, declarou nesta segunda-feira, ao ser empossado, que orientou a Polícia Federal a "desvendar" o morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. E fez um discurso marcado por recados aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que não aceitaram o resultado das urnas e pedem um golpe de Estado.

"Eu digo à ministra Anielle e a sua mãe que vou empreender todos os esforços cabíveis. E a Polícia Federal assim atuará para que esse crime seja desvendado: quem matou Marielle e quem mandou matar Marielle", exclamou Dino no momento ápice da cerimônia em que foi aplaudido de pé. Anielle estava sentada na segunda fileira.

Apesar da fala do ministro, a investigação é conduzida pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Em maio de 2020, o Superior Tribunal de Justiça rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) de federalização da investigação, que tentava deslocar o caso para a competência da PF. Com isso, a investigação foi mantida no âmbito estadual.

Em coletiva após a posse, o ministro explicou que há a possibilidade de federalizar o caso e que irá tratar do assunto diretamente com o governador do Rio, Claudio Castro (PL).

"É uma possibilidade. Nós vamos fazer uma análise técnica do Ministério. É um caso de repercussão nacional e internacional, e diz respeito à reestruturação do sistema institucional do Rio de Janeiro", declarou.

Dino ainda fez uma fala incisiva contra os bolsonaristas que não aceitaram o resultado das eleições. E orientou a direção da Polícia Federal a abrir inquéritos contra os atos antidemocráticos ocorridos desde o fim do segundo turno.

"Esta apuração é muito importante na dimensão preventiva para que não haja a compreensão errada de que, em razão da subida da rampa, tudo foi esquecido. Não pode ser, porque seria omissão criminosa da atual equipe governamental", declarou ele.

O ministro ainda frisou que no seu governo "não haverá orientação para perseguição, vingança e retaliação". Mas ressalvou que também não haverá "conivência nem omissão".

Segundo Dino, a ordem passada aos seus subordinados é de que todos os processos relativos aos atos antidemocráticos devem passar pela análise do novo delegado-geral da Polícia Federal, Andrei Passos.

Para fazer um contraponto à relação conflitosa do ex-presidente Jair Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal (STF), Dino enfatizou queo seu "governo será de "paz". E fez elogios ao Poder Judiciário por ter, segundo as suas palavras, assegurado o Estado Democrático de Direito "numa hora tão difícil".

"Ficaram no passado as palavras acintosas, agressões e tentativas de intimidação do Poder Judiciário, substituídos por harmonia e diálogo", disse ele.

A presidente do STF, Rosa Weber, se posicionou ao lado de Dino no palco. Os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes também compareceram à cerimônia ocorrida no Salão Negro do Palácio da Justiça.

Antes mesmo da posse, a gestão de Dino se iniciou com a publicação nesta segunda de um decreto que altera a política de armas do país - uma das principais promessas do novo governo para se contrapor com a bandeira armamentista de Bolsonaro. Entre as determinações, estão a suspensão de novos registros de clubes de tiro e de colecionadores, atiradores e caçadores (grupo conhecido como CACs) até que uma nova regulamentação seja baixada; e a redução no número de armas que cada pessoa pode comprar, de seis para três.

Perfil
Filiado ao PT em 1987, Dino iniciou a carreira política no movimento estudantil maranhense. Aos 26, se tornou juiz federal do Maranhão e Distrito Federal e chegou a presidir a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). Mais tarde, foi professor de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Em 2005, atuou como secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No ano seguinte, se filiou ao PCdoB, partido no qual permaneceu por 15 anos, até migrar para o PSB no ano passado.

No mesmo ano em que se filiou ao PCdoB, Dino se elegeu para uma vaga na Câmara dos Deputados. Com dois anos de mandato, disputou o cargo de prefeito de São Luís nas eleições municipais de 2008, sem sucesso.

Em 2011, durante o governo de Dilma Rousseff, assumiu a presidência da Embratur, com a promessa de aumentar o fluxo de turistas estrangeiros no Brasil, diante de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016. Em 2014, contudo, deixou o cargo para concorrer ao governo do Maranhão. Foi eleito com mais de 60% dos votos, vencendo o adversário do MDB, Lobão Filho. Sua gestão foi marcada por ações na Educação do estado, com investimentos na reforma de escolas e em medidas contra o analfabetismo.

Dino foi reeleito governador em 2018, ao disputar a vaga com Roseana Sarney, filha de José Sarney, poderoso cacique do estado. Ele sempre foi um dos principais políticos que fizeram oposição à família Sarney no Maranhão.

O novo ministro da Justiça chegou a ser citado na delação de um empreiteiro da Odebrecht durante a a Operação Lava Jato. Em 2017, José Carvalho Filho disse que Dino teria pedido R$ 400 mil para defender pautas de interesse da construtora no Congresso, enquanto era deputado.

Pai de três filhos e autor de diversos livros sobre Direito, deixará a vaga no Senado para sua primeira suplente, Ana Paula Lobato (PDT), vice-prefeita do município de Pinheiro.

Veja também

TCU diz que legislação não impede Exército de comprar blindados israelenses
Israel

TCU diz que legislação não impede Exército de comprar blindados israelenses

STF tem 5 votos pela recusa à transfusão por testemunhas de Jeová
STF

STF tem 5 votos pela recusa à transfusão por testemunhas de Jeová

Newsletter