Disputa entre Bolsonaro e Valdemar em São Paulo motivou resolução da "lei de silêncio" no PL
Presidente do PL quer lançar candidatos em municípios onde já há adesão de bolsonaristas a outros nomes
Uma disputa entre o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente Jair Bolsonaro provocou a decretação de uma espécie de "lei do silêncio" para bolsonaristas e qualquer filiado sobre candidaturas de outros partidos. O conflito ocorre sobretudo em São Paulo, onde Bolsonaro acena com o apoio a nomes de políticos de outras legendas e não alinhados a Valdemar.
A partir de resolução publicada pelo presidente do PL no fim de semana, integrantes da sigla que ocupam cargos públicos estão proibidos de prestar apoio a nomes de fora do PL. O documento ressalta a possibilidade de abertura de processo ético-disciplinar àqueles que quebrarem a regra.
Os casos mais evidentes de "racha" entre os dois estão em municípios considerados estratégicos de São Paulo, como Guarulhos, São Sebastião e Ilhabela, onde Bolsonaro acena a pré-candidatos de outras legendas. Nesses casos, Valdemar ainda pensa em lançar outros nomes a prefeito. Ao impedir manifestações dos seus quadros, Valdemar espera conter movimentos que "joguem contra" a vontade da Executiva nacional do PL.
Guarulhos, por exemplo, é uma cidade considerada fundamental para o PL nas eleições deste ano pelo fato de ser o segundo maior colégio eleitoral paulista. Por lá, Valdemar quer o vereador Lucas Sanches, do PL, como candidato à prefeitura. Bolsonaro, porém, já gravou um vídeo com o líder do governo Tarcísio de Freitas na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o deputado estadual Jorge Xerife do Consumidor (Republicanos). Ao distribuir a circular com a proibição aos bolsonaristas, Valdemar visa impedir que empreitadas como esta cresçam.
Em Ilhabela, Valdemar defende apoio à reeleição do atual prefeito, Toninho Colucci (PL), enquanto Bolsonaro apoia a vereadora Diana Matarazzo (Podemos). Já em São Sebastião, no litoral norte do estado, não há consenso em relação ao nome de Reinaldinho Moreira, atual vice-prefeito e defendido por Valdemar a pedido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Bolsonaro segue defendendo a candidatura de Wagner Teixeira, um dos seus principais aliados na cidade.
Teixeira, que hoje está no União Brasil e contava com um vídeo gravado pelo deputado Eduardo Bolsonaro diz que agora terá dificuldades para ser visto como "o nome de Bolsonaro na disputa".
— A sensação que tenho é que o bolsonarismo está impedido de ter representante legítimo em São Sebastião. Estou sendo traído. Eu contava com um vídeo feito pelos membros da família Bolsonaro, mas agora eles ficarão sujeitos a punições por apoiarem o nome do Bolsonaro. Desta maneira, o bolsonarismo não fará vereadores, prefeito e nem vice-prefeito em São Sebastião — lamenta o escolhido pelo ex-presidente.
Leia também
• Moraes pede para PGR informar se ainda quer arquivar inquérito sobre Bolsonaro
• STF: maioria nega habeas corpus preventivo a Bolsonaro em caso de trama golpista
• Solto ex-assessor de Bolsonaro investigado por trama golpista
De acordo com integrantes do PL, Valdemar tem um outro objetivo com a medida: aumentar o número de vices do PL em chapas espalhadas pelo Brasil. Ele acredita que, para terem o apoio dos bolsonaristas, muitos cabeças de chapa optarão por dar ao PL o poder de escolha sobre seus vices.
Ameaças de processo
Valdemar disparou um aviso para integrantes da legenda bolsonarista que ocupam cargos públicos neste final de semana. De olho no sucesso do partido nas eleições municipais deste ano, o dirigente avisou que o PL monitora manifestações de seus quadros nas redes sociais e ressaltou que "traições" não serão toleradas. De acordo com o texto, quem fizer campanha — clara ou velada — para membros de outros partidos, em localidades nas quais o PL tenha candidato, ficará sujeito a processo ético-disciplinar.
"Diversas mensagens de apoio estão sendo gravadas em prol de candidatos de outras agremiações partidárias, o que pode prejudicar candidatos do PL. Conforme prevê o nosso estatuto, ficará sujeito a instauração de procedimento ético disciplinar quem apoiar clara ou veladamente, candidato de outro partido em eleição na qual o PL tenha candidato", diz um trecho da circular.
Todos os presidentes de diretórios estaduais do PL receberam o documento e foram incumbidos da responsabilidade de compartilhá-lo.
O PL tem planos de eleger ao menos mil prefeitos nas eleições deste ano. Em algumas cidades, porém, há resistências de alas dos diretórios locais em aceitar as escolhas do partido. Bolsonaro tem se engajado nas campanhas locais e viajado pelo Brasil, em eventos aos quais comparece acompanhado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Nas ocasiões, Bolsonaro pede apoio a seus correligionários.