Dores da cabeça, internação às pressas e perfuração no crânio: entenda o quadro que levou Lula a UTI
Presidente foi levado às pressas para São Paulo onde foi submetido a cirurgia de emergência
Cinquenta e um dias depois de bater a cabeça em uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao hospital na noite de segunda-feira. Com um quadro mais grave do que o registrado no dia do acidente doméstico, o petista precisou ser levado às pressas para São Paulo para ser submetido a uma cirurgia de emergência em que foi feita uma perfuração no crânio para acessar o cérebro e drenar um sangramento.
Segundo a equipe médica, o presidente está consciente e internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para observação após o procedimento. A expectativa é que ele deixe a UTI em até três dias e volte para Brasília somente na próxima semana. O médico particular do presidente, Roberto Kalil Filho, garantiu que ele não terá nenhuma sequela cerebral e que as perspectivas de recuperação são boas.
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— Lula não teve nenhuma lesão cerebral, não tem nenhum risco cerebral — disse Roberto Kalil, em entrevista coletiva.
O petista teve um sangramento entre as camadas do meio e mais externa do cérebro no lado esquerdo da cabeça. Segundo os médicos, esse tipo de sangramento tardio é comum em caso de contusão cerebral.
— No primeiro sangramento (ocorrido em outubro), o corpo dele tinha absorvido. Na fase de absorção, às vezes, fica mais liquefeito o sangramento. Ele acaba absorvendo mais água e pode ter um sangramento tardio. Isso pode acontecer meses depois. Ele já tinha absorvido o primeiro sangramento e agora acabou tendo um segundo. Por esse motivo ele estava liberado pela equipe médica lá em outubro, com a obrigação de que ele iria realizar exames de rotina — explicou o neurologista do presidente, Rogerio Tuma.
Não há, porém, uma previsão de quando Lula poderá voltar a despachar no Palácio do Planalto. Decisões centrais de governo, que dependem do presidente, devem ser adiadas. Ministros farão a articulação com o Congresso na ausência.
Desde a queda de outubro, Lula tinha passado por uma série de exames para verificar a evolução da contusão. Os testes constataram melhora do quadro, no começo de novembro, e o presidente, inclusive, recebeu autorização para voltar a viajar de avião.
Evolução do quadro
Mas na segunda-feira, Lula passou a relatar dor de cabeça. Auxiliares que despacharam com o presidente ao longo do dia disseram ter percebido que ele estava indisposto e “para baixo” (leia mais detalhes na página 6).
A infectologista Ana Helena Germoglio acompanhou o presidente desde o Palácio da Alvorada e durante todo o voo do translado para São Paulo. Ela salientou durante a coletiva de imprensa que o chefe do Executivo permaneceu lúcido durante toda a viagem.
Já em São Paulo, por volta de 1h30m de ontem, Lula foi operado. O procedimento realizado foi uma trepanação, que consiste numa perfuração no crânio em que se insere uma sonda para chegar até o hematoma e drená-lo (mais detalhes na página 5).
Segundo a equipe médica, ele está se alimentando e conversando normalmente após a cirurgia, sem complicações. Lula deve permanecer de 48 horas a 72 horas com o dreno.
No início da tarde, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, fez sua primeira manifestação pública sobre o estado de saúde do presidente, afirmando que ele está recebendo o cuidado necessário e que voltará em breve a trabalhar. “A angústia dessa noite deu espaço para a tranquilidade e para a certeza de que, com a dedicação da equipe médica e com a fé e o amor do povo, em breve ele estará novamente de volta ao trabalho. Por isso, fiquem tranquilos”, escreveu Janja em uma rede social.
Lula deu entrada no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, às 18h de segunda-feira e partiu para São Paulo às 22h30m. Segundo o boletim médico, Lula estava com dor de cabeça. “Ressonância magnética mostrou hemorragia intracraniana, decorrente do acidente domiciliar sofrido em 19/10”, afirma o hospital.
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que Lula está bem e não teve nenhuma alteração de consciência antes ou depois da cirurgia. Segundo Padilha, o procedimento foi exitoso, o presidente se alimentou pela manhã e sua recuperação está boa.
— Em uma situação como essa, é muito importante saber se ele teve algum tipo de alteração de consciência antes ou depois do procedimento. Não aconteceu isso em nenhum momento — disse o ministro em vídeo nas redes sociais.
Imprensa internacional
A cirurgia repercutiu nos principais jornais ao redor do mundo. No americano The New York Times, o título foi: “Lula passa por cirurgia de emergência por sangramento no cérebro”. O jornal destacou o posicionamento da equipe médica que associa a cirurgia à queda de outubro. Já no portal da BBC News, em Londres, a chamada foi voltada para o quadro de saúde estável do presidente após a cirurgia. A matéria ressaltou que Lula se queixou de dores de cabeça ao longo da segunda-feira. O jornal francês Le Monde noticiou que a cirurgia ocorreu “sem complicações”, segundo o boletim médico divulgado na manhã de ontem. Já o inglês The Guardian afirmou que o presidente brasileiro se recupera na UTI após procedimento de emergência.