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ELEIÇÕES 2022

Doria amplia impasse para escolha do candidato da terceira via e cria nova crise no PSDB

Presidente do PSDB, Bruno Araújo, convocou para terça-feira uma reunião da executiva nacional do partido para deliberar sobre o assunto

O governo de São Paulo, João Doria O governo de São Paulo, João Doria  - Foto: Divulgação/Governo de SP - Flickr

Uma carta divulgada pelo ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) rejeitando o critério de escolha do pré-candidato da chamada terceira via, e acusando a cúpula de seu partido de “golpe”, abriu nova crise no ninho tucano e aumentou o impasse nas negociações com o MDB e o Cidadania para construção de uma chapa única para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, convocou para terça-feira uma reunião da executiva nacional do partido para deliberar sobre o assunto.

A carta de Doria, escrita em papel timbrado com o logo de um escritório de advocacia, foi vista como uma ameaça de judicialização de uma discussão política e irritou a cúpula tucana. O ex-governador cobra respeito ao resultado das prévias realizadas pelo PSDB em novembro do ano passado, quando ele foi escolhido pré-candidato do partido ao Palácio do Planalto.

Na semana passada, o comando do PSDB manteve o entendimento de que a construção da chapa única da terceira via deve ser definida com base em pesquisas quantitativas e qualitativas, cujos resultados serão apresentados na próxima quarta-feira.
 

Esse critério de escolha deixa Doria em posição de desvantagem, já que ele possui alta rejeição entre os eleitores. Por isso, aliados do tucano têm acusado Araújo de atuar em prol do nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Integrantes do MDB optaram por não entrar no embate tucano. Para eles, tem ficado cada vez mais claro que Doria quer disputar o Planalto de qualquer forma, e que ele só aceitaria compor com os demais partidos da terceira via se encabeçasse a chapa única.

A intenção de Araújo, segundo pessoas próximas, é votar amanhã mesmo se o PSDB irá aceitar o resultado das pesquisas da terceira via como critério para definir o nome que poderá encabeçar a futura chapa única.

A reunião da executiva foi convocada por Araújo no sábado, após receber a carta de Doria, e também deve contar com a presença de senadores e deputados federais da legenda. No comunicado, o presidente do PSDB lembrou que as negociações de uma aliança em torno de uma candidatura única da terceira via se iniciaram com “notória anuência do ex-governador”.

Na mensagem ao presidente do partido, Doria afirmou não concordar “com qualquer outra pesquisa de opinião” a não ser as prévias do PSDB e chamou os parâmetros adotados pelas siglas de desculpas “estapafúrdias”.

— Apesar de termos vencido legitimamente as prévias, as tentativas de golpe continuaram acontecendo. As desculpas para isso são as mais estapafúrdias, como, por exemplo, a de que estaríamos mal colocados nas pesquisas de opinião pública e com altos índices de rejeição, cinco meses antes das eleições — escreveu Doria, que ainda descartou ser vice de Tebet e abrir mão do “protagonismo” na disputa.

Para garantir a candidatura, o ex-governador declarou guerra ao partido e disse que usará de todas as suas “forças”. Em uma sinalização de que pretende recorrer à Justiça caso seja preterido, ele disse na carta que ir na contramão dos poderes outorgados pelo estatuto do PSDB constitui “abuso de poder, ato antijurídico, passível de correção pela via judicial”. Todo o texto é acompanhado de menções à legislação brasileira e aos artigos do estatuto do PSDB.

Representantes da executiva do partido ouvidos pelo Globo consideraram um erro do ex-governador atacar todo o comando do partido, composto por 34 integrantes.

Apesar da ameaça de levar toda a discussão para a Justiça, os tucanos acreditam que Doria não teria elementos para abrir esse embate nos tribunais agora. Apostam que o mais provável é que ele faça essa ofensiva em agosto, depois das convenções, caso sua candidatura não seja chancelada.

Aliados de Doria ouvidos pelo Globo disseram que a carta, que traz a assinatura do advogado do ex-governador, Arthur Rollo, configura uma “ameaça” ao partido e é “antipolítica”. De acordo com relatos, a decisão de escrever e enviar o documento não passou pelo crivo de seus principais aliados, como seu ex-secretário e o coordenador de sua campanha, Marco Vinholi, e o marqueteiro Lula Guimarães.

Apesar da irritação de parte do comando do partido, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa do ex-governador.

“Agiu bem o candidato João Doria. Ressaltando que o resultado das prévias deve ser respeitado”, escreveu FH em uma rede social.

Em resposta à postagem, o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse que a decisão das prévias tucanas sempre foi respeitada ao longo das discussões entre os partidos da terceira via.

“Com todo respeito, em nenhum momento dos diálogos em busca da candidatura única da terceira via e desde quando ainda lá participava o União Brasil, as prévias do PSDB sempre foram acatadas: João Doria era o candidato do PSDB. O da unidade poderá ser ou não”, escreveu Freire.

Rival de Doria no partido, o deputado federal Aécio Neves (MG) saiu em defesa do paulista e afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que a terceira via “implodiu pelo pragmatismo de uns e pelo egoísmo do PSDB”. Aécio acusou Araújo de atuar mais como “advogado” dos interesses do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que busca a reeleição, do que como líder nacional do PSDB.

Aécio defende que o partido tenha candidatura própria, mesmo que sem perspectivas de vitória. Nas prévias tucanas, ele apoiou Eduardo Leite, então governador do Rio Grande do Sul.

Para o senador José Aníbal (SP), crítico da candidatura de Doria, a carta mostra que o ex-governador de São Paulo estaria encurralado.

— Ele está acuado e percebeu que o acordo da terceira via, do qual ele faz parte, fez uma pesquisa cujo resultado pode não ser favorável a ele — disse o senador, figura histórica do PSDB e para quem a candidatura do ex-governador leva o partido a uma “fragmentação maior” e “perda de representação” no Congresso Nacional.

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