RIO DE JANEIRO

"É impossível despolitizar", diz Anielle Franco, ao falar das investigações sobre a morte da irmã

Ministra anunciou, junto com outras autoridades, o Viva Pequena África

Anielle FrancoAnielle Franco - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Muhcab (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira) recebeu, nesta sexta-feira (28), o lançamento do edital Viva Pequena África. Uma instituição gestora será selecionada para ações de fortalecimento do território da Região Central do Rio que concentra história e memória de ancestrais que vieram de diferentes países da África. Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial; Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; e Marcelo Calero, secretário municipal de Cultura, anunciaram o projeto.

Durante o lançamento do editar do projeto, a ministra da Igualdade Racial. Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle, assassinada em 2018, fez referência à ancestralidade ao falar da importância da Pequena África.

— Todo mundo que está aqui tem história de resistência. A minha, da minha família e minha irmã. Se a gente tem um lugar de berço ancestral, a Pequena África é esse espaço. Temos que trazer os que vieram à frente sustentando nos ombros quem está aqui. Pedir benção para quem é de benção, e axé a quem é de axé. Para mim, tem sido responsabilidade imensa representar um povo que está há tantos anos lutando. Tem sido dias de muito afeto, dedicação. A gente sabe que tem questões que estamos realizando juntos. É a gente criar e seguir com políticas públicas concretas. Não à toa a gente assina acordos aqui e fora para pensar oportunidades — destacou Anielle.

A abertura de seleção pública para escolher um parceiro gestor tem prazo para a inscrição é até 11 de setembro. A divulgação do resultado será dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Serão analisadas para concorrer ao edital, instituições sem fins lucrativos relacionadas à identidade cultural afro-brasileira ou à memória e herança africanas ou que desempenhe atividade relacionada a valorização do incentivo cultural afro-brasileiro. Um dos principais requisitos é que essas concorrentes à gestão tenham, em seu corpo de trabalho, um percentual mínimo de 30% de pessoas autodeclaradas negras.

Entre as iniciativas, também está a de mapear, ainda, outros territórios do entorno que contemplem as heranças africanas no Brasil. O evento de anúncio acontece na mesma semana em que foram anunciadas novas etapas na investigação sobre os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Na abertura do evento, o presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, anunciou um investimento de R$ 20 milhões para o edital, que trata de uma primeira etapa. E falou da relevância dos espaços de memória e agradeceu à Polícia Federal deste momento de avanço nas investigações sobre a morte de Marielle Franco:

— Nós queremos saber quem matou Marielle e vocês estão finalmente se debruçando. E quero dizer que essa energia poderosa dessa companheira (Anielle) sempre na luta que carrega essa história e essa memória. Isso aqui também é uma homenagem a você e à sua irmã — ressaltou Mercadante.

O projeto faz parte de um conjunto de iniciativas do BNDES no Grupo de Trabalho Interministerial, coordenado com os ministérios da Cultura e com o da Igualdade Racial. Segundo a assessoria do órgão, ele foi "motivado pelo reconhecimento do sítio arqueológico Cais do Valongo como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco em 2017". Com a divulgação deste edital, serão contemplados centros de memória sobre a escravidão e também homenagens às pessoas de diferentes países da África que chegaram ao Brasil pelo Rio de Janeiro.

O secretário municipal de Cultura, Marcelo Calero, que também esteve presente à cerimônia, destacou a importância do Muhcab e anunciou mudanças no projeto.

— Queria destacar algumas instituições que serviram de pulmão para esta região aqui. A importância do Muhcab como um vértice de ações em todo o território e também um lugar de pensamento, política antirracista e letramento racial — ressaltou Calero. Sobre as mudanças, o secretário de Cultura disse que serão feitas atualizações do ponto de vista estrutural. E que, em breve, vai apresentar um projeto arquitetônico "à altura do que merece este museu.”

No início deste mês, foram anunciadas obras no Cais do Valongo, que também compõe a Pequena África. O Patrimônio Mundial da Unesco era porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas no século XIX. Ali será instalada uma estrutura que substituirá parte da mureta. Haverá ainda, nova iluminação e uma exposição que remonta a história dos povos que formaram o lugar.

Estas adaptações são coordenadas pelo nstituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG e pela Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar, da Prefeitura), têm previsão de serem inauguradas em novembro.

As intervenções são tópicos para cumprimento de exigências da Unesco no processo de padronização de Bens Materiais como Patrimônio Histórico da Humanidade. Os trâmites se deram após abertura de licitação pública e são patrocinados pela empresa State Grid Brazil Holding, que investiu mais de R$ 2 milhões por meio de financiamento pela linha Investimento Social para Empresas - ISE, do BNDES. As obras na área têm apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nas consultas técnicas e da Prefeitura na logística.

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