É preciso evitar mudanças na legislação por "paixão momentânea", diz Pacheco
Declaração do presidente do Senado é dada um dia após bolsonaristas anunciarem projetos sobre caso de Daniel Silveira
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou nesta terça-feira que é preciso evitar mudanças nas legislações que sejam motivadas por "paixão momentânea" ou "interesses não republicanos". As declarações foram dadas pelo senador, que também preside o Congresso, um dia depois de bolsonaristas na Câmara anunciarem propostas para dificultar a cassação de mandatos e anistiar demais aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).
No mesmo evento, realizado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu "harmonia nas discussões institucionais":
— Em tempos de dificuldades, de instabilidades, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal sempre deram demonstrações muito claras, muito evidentes, de que buscamos sempre independência, centralidade nas nossas discussões, mas uma harmonia permanente tanto nas discussões institucionais, como na confecção de leis e aprimoramento delas.
Tais movimentações acontecem após o indulto concedido por Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ameaçar e incitar à violência contra ministros da Corte. O perdão presidencial foi dado menos de 24 horas depois da condenação do parlamentar.
— A nossa responsabilidade enquanto Parlamento é fazer modificações que sejam equilibradas, úteis, importantes e que não sejam vulgarizadas ou banalizadas por uma vontade de minoria, ou por interesses não republicanos, ou por uma vontade por vezes movida por uma paixão momentânea que logo passa, mas a lei fica — disse Pacheco em seminário do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No seminário, Pacheco também defendeu um estreitamento da relação entre o Poder Legislativo e Judiciário. Desta forma, afirmou Pacheco, o Congresso poderá evitar erros na elaboração de novas leis:
— Quero estabelecer que seja de fato um marco de renovação da relação entre o Poder Judiciário e o Poder Legislativo, para que eventuais mudanças que venham no futuro, em relação ao código civil, mas em relação também a outros tantos diplomas legais, possam ter a participação significativa da magistratura e, sobretudo, do Superior Tribunal de Justiça, para que possamos evitar erros na elaboração das leis.
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Com o indulto concedido por Bolsonaro, o presidente causou um novo atrito entre os Poderes. O perdão presidencial foi dado antes do trânsito em julgado do processo contra Daniel Silveira, que foi condenado a oito anos e nove meses de prisão, além da perda do mandato e dos direitos políticos.
Parlamentares e partidos da oposição reagiram à medida questionando o indulto tanto no Supremo Tribunal Federal quanto no Congresso. Já governistas se movimentaram para apresentar propostas que pudessem beneficiar Silveira e demais bolsonaristas investigados por atacar as instituições democráticas.
Após a concessão do perdão presidencial, Pacheco afirmou, em nota, que o Congresso não poderia suspender o decreto de Bolsonaro, já que ele é uma prerrogativa do chefe do Executivo nacional. O senador, porém, completou afirmando que as duas Casas legislativas poderiam avaliar mudanças no instrumento do indulto.
Agora, no seminário do STJ, Pacheco afirmou que o Parlamento tem a responsabilidade de não mudar as leis "ao sopro do vento" nem por "aparentes necessidades de mudança":
— Essa responsabilidade legislativa de não mudar a legislação ao sopro do vento, de não mudar a legislação em relação a um caso concreto que por vezes desperta paixões ou aparentes necessidades de mudança. Essa é uma lógica que nós temos que ter muito firmemente para conferir aquilo que é o mais importante quando se edita uma lei.