Eleição da mesa, interrupções e bate-boca: cinco pontos Da instalação da CPI do dia 8 de janeiro
Primeira sessão da comissão teve protagonismo da relatora Eliziane Gama e confusão protagonizada por Marcos do Val
A comissão parlamentar de inquérito (CPI) que vai apurar os atos golpistas do dia 8 de janeiro foi instalada no Congresso Nacional nesta quinta-feira. A sessão inicial teve bate-bocas, narrativas conflitantes entre base governista e oposição e protagonismo da relatora Eliziane Gama (PSD-MA).
Veja em cinco pontos como foi o primeiro dia da CPI:
Definição da mesa
Na reunião, foram definidos os nomes dos integrantes da mesa. No desenho final, a CPI será presidida por Arthur Maia (União-BA), nome de confiança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), designado pelo centrão para essa missão desde o primeiro momento. A relatoria ficou nas mãos da governista Eliziane Gama (PSD-MA).
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Os vice-presidentes serão, respectivamente, Cid Gomes (PDT-CE) e Magno Malta (PL-ES).
Ao assumir a função, Arthur Maia disse vir de um partido independente, apesar do União ter o comando de três ministérios.
— É um momento da mais extrema importância para o Congresso Nacional e cada um dos membros temos de fazer uma investigação do que de fato aconteceu no dia 8 de janeiro. Essa comissão estará prestando um serviço à democracia — disse o presidente.
Protagonismo de Eliziane
Na noite desta quinta-feira, o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM) desistiu de participar da CPI, deixando o cargo de relator vago. Nesta manhã, o nome da Eliziane Gama passou a ser ventilado e a relatora eleita foi destaque na primeira sessão.
A escolha por Gama rendeu críticas da oposição devido a sua proximidade com o ministro da Justiça Flávio Dino. O senador Marcos do Val (PP-ES) chegou a chamá-la de "parcial". A parlamentar, no entanto, também foi saudada e recebeu elogios até do filho do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que afirmou fazer "muito gosto" por sua escolha.
Ao se pronunciar na sessão, ela foi alvo de machismo e foi interrompida quatro vezes pelos presentes, o que rendeu a solidariedade de Damares Alves (Republicanos-DF).
Gama afirmou que não irá se intimidar pela violência política de gênero:
— Intimidação, constrangimento podem até tentar fazer, mas não serei intimidada. Independentemente de quem quer que seja, meu papel como relatora vai ocorrer.
Bate-boca: Otto X Marcos do Val
A sessão começou com confusão provocada pelo senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES). Após seu pronunciamento, do Val tentou interromper a fala do colega Eduardo Girão (NOVO-CE). Neste momento, o presidente interino da comissão, Otto Alencar (PSD), pediu silêncio. Diante da insistência de do Val, Alencar subiu o tom:
— Vossa excelência está sendo antiético, interrompendo o seu colega. Sei da sua procedência na polícia, aqui não é delegacia de polícia não, se mantenha calado. Se comporte como senador, o senhor não tem se comportado como senador em outras datas aqui — afirmou Otto Alencar que foi aplaudido pelos presentes.
Disputa de narrativas: infiltrados X terroristas
Ao longo da sessão, base governista e oposição duelaram versões sobre os atos golpistas. De um lado, os aliados do presidente Lula (PT) repudiaram a depredação do patrimônio público e reafirmaram o caráter criminoso das manifestações.
O pastor Henrique Vieira (PL-RJ) foi um dos expoentes:
— Um atentato contra a democracia, contra o resultado das urnas — disse.
Já os defensores do ex-presidente voltaram a dizer que os atos foram realizados por infiltrados e defenderam os presos. Foram casos como o do deputado federal Marco Feliciano (PL-SP):
— Golpe sem coturno, golpe sem tanque de guerra. Vocês acabam com a vida das pessoas assim. Não vamos rotular essas pessoas de terroristas.
Caso Vini Jr e fala de Magno Malta
Parlamentares usaram seu tempo de fala para criticar o senador Magno Malta, eleito o segundo vice-presidente, por sua fala recente sobre o jogador Vini Jr., do Real Madrid, vítima de racismo na Espanha.
Na terça-feira (23), o bolsonarista fez discurso contra a repercussão na imprensa e classificou a reação ao caso como "revitimização". O deputado federal Rogério Correia foi o primeiro a criticar:
— Votei na chapa inteira, embora não tenha tido tranquilidade em votar no segundo vice-presidente pelo que ele vem dizendo sobre Vini Jr. e sobre os negros e negras brasileiras.Que isso não se repita no congresso — afirmou Correia.
Malta rebateu as críticas:
— Ninguém vai me intimidar, sou um homem negro, pai de uma negra. Fiz uma analogia para defender Vini Jr.