Eleito com apoio do ex-presidente, Jorginho Mello acumula desgastes com núcleo do bolsonarismo em SC
Gafes e postura como dirigente estadual do PL têm afastado o governador de aliados do ex-mandatário; ala inicia um movimento de migração ao PSD
Apesar de apoiar veementemente Jair Bolsonaro (PL), o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), tem acumulado desgastes com políticos ligados ao ex-presidente no estado. Entre gafes e posturas consideradas mais fisiológicas como dirigente estadual do PL, Jorginho vem sendo criticado pelo núcleo duro do bolsonarismo, que inclusive flerta com uma mudança partidária, para o PSD.
Um episódio esta semana ajudou a inflamar os ânimos na direita do estado. Em entrevista à emissora Jovem Pan, o governador afirmou que Bolsonaro e o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, conversariam com frequência, apesar de estarem impedidos de manter contato pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois são investigados pela trama do golpe após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Articuladores ouvidos pelo Globo opinam que a fala reflete as sucessivas derrapadas do governador. Uma das avaliações é que sua experiência no Executivo, sem tantos holofotes, não o preparou para a exposição que passou a sofrer.
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As críticas não se restringem apenas às declarações de Jorginho, estendendo-se a seus aliados. No ano passado, o deputado Ivan Naatz (PL), muito próximo ao governador, chegou a criticar publicamente a gestão de Bolsonaro, alimentando a insatisfação.
O clima também azedou entre o governador e o núcleo duro do bolsonarismo durante as eleições municipais, quando o PL abraçou candidatos considerados mais fisiológicos. Um dos casos mais marcantes ocorreu em São José, onde o prefeito Orvino Coelho (PSD) recebeu o apoio dos bolsonaristas contra Adeliana Dal Pont (PL). O próprio Bolsonaro se recusou a fazer campanha para ela, por críticas passadas à sua condução no Planalto durante a pandemia da Covid-19.
PSD como rota de fuga
Após derrotar Adeliana, Orvino acolheu um forte aliado de Bolsonaro, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques. Além de ter assumido a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, Vasques se filiou ao PSD.
No ano passado, ele tentou ser o candidato pelo PL em São José, mas, após passar um período preso, terminou preterido. O ex-diretor da PRF é acusado de ter feito uso indevido do cargo no segundo turno das eleições de 2022 — ele teria dificultado o trânsito de eleitores, em favorecimento ao seu aliado, o então candidato à reeleição Bolsonaro.
Além de Silvinei, o movimento de aproximação com o PSD tem outros bolsonaristas, como o prefeito de Criciúma, Clésio Savaro, e o ex-deputado de Joinville Rodrigo Coelho. Em outubro, o partido foi vitorioso em um importante reduto do ex-presidente, Balneário Camboriú. Ao mesmo tempo que a cidade elegeu Jair Renan Bolsonaro como o vereador mais votado, Juliana Pavan derrotou Peeter Grando, do PL.
Flerte com MDB
Outro episódio marcante da insatisfação se deu quando Jorginho Mello iniciou um flerte com o MDB. A aproximação tinha em vista a eleição do ano que vem, quando ele será candidato à reeleição. O partido chegou a ser cotado para entrar na gestão, mas, diante da resistência, o governador recuou.
Apesar do distanciamento local, ele mantém seu prestígio em dia com Bolsonaro. Nesta quinta-feira, em entrevista à Revista Oeste, o ex-presidente citou o catarinense ao falar sobre políticos que tiveram seu apoio nas eleições de 2022.
— Jorginho Mello, que está fazendo um grande trabalho em Santa Catarina — disse Bolsonaro.