Em ato em SP, Bolsonaro diz que Lula "aparelha e interfere nas instituições'
Ex-presidente participou de protesto com apoiadores em São Sebastião contra inquérito por "importunação" a baleia-jubarte
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira que Lula “aparelha e interfere nas instituições". O ex-mandatário reuniu nesta tarde apoiadores em São Sebastião, no Litoral Norte paulista, em protesto contra o inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar suposta “importunação” do ex-mandatário a uma baleia-jubarte durante passeio de jet-ski realizado em junho do ano passado.
Bolsonaro havia sido intimado a prestar depoimento nesta quarta, assim como seu ex-secretário e advogado Fabio Wajngarten, que acompanhava o ex-presidente no passeio de moto aquática que deu origem ao inquérito. A oitiva, porém, foi adiada para o dia 27 deste mês.
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Para o ex-presidente, a abertura da investigação contra ele partiu “da decisão de um cara lá de Brasília”.
O inquérito contra Bolsonaro foi aberto após vídeos publicados nas redes sociais mostrarem o ex-presidente próximo a uma baleia no Litoral Norte de São Paulo. Uma lei de 1987 proíbe “qualquer forma de molestamento intencional, de toda espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras”. A pena para o descumprimento pode chegar a cinco anos de prisão, mais o pagamento de multa.
Em novembro, Bolsonaro ironizou o inquérito com um comentário tido como gordofóbico em alusão ao então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a quem a PF estava subordinada à época.
— Todo dia tem uma maldade em cima de mim. A de ontem foi que estou perseguindo baleias. A única baleia que não gosta de mim na Esplanada é aquela que está no ministério, que diz que eu queria dar golpe, mas some com vídeos — disse o ex-presidente.
O ato em São Sebastião acrescenta novo capítulo à jornada de Bolsonaro na defesa da tese de que é alvo de perseguição por parte do governo Lula e do Judiciário. No fim do mês passado, quando um dos filhos do ex-presidente foi alvo de buscas da PF no âmbito das investigações sobre a existência de um ‘Abin paralela’, Bolsonaro disse enfrentar uma “perseguição implacável” e que o objetivo da operação era o de “esculachar” sua família.
O termo “perseguição implacável” já havia sido usado antes, em julho, para atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro reagiu na ocasião à declaração do atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, de que “derrotamos o bolsonarismo”.
Para manter sua militância engajada, o discurso do ex-presidente se estende também aos apoiadores punidos pela participação nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro. Em outubro, Bolsonaro disse em discurso em Goiânia que “inocentes estão pagando uma pena muito cara” e pediu um minuto de silêncio para o que chamou de "patriotas que estão indevidamente presos na Papuda", em referência às pessoas que respondem a inquérito no Supremo por envolvimento na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.
O giro de viagens do ex-presidente visa a manter o bolsonarismo vivo nas eleições municipais deste ano e cacifar seu grupo político para voltar ao poder em 2026. A estratégia é comparável à que Lula adotou em 2017, quando fez a chamada “Caravana Lula pelo Brasil” antes de ser preso na Lava-Jato e impedido de disputar as eleições do ano seguinte.
Assim como o petista em 2018, Bolsonaro também está inelegível por decisão do TSE e não poderá disputar o próximo pleito presidencial.