Em delação, Cid disse que 'gabinete do ódio' tinha 'relação direta' com Carlos e era no Planalto
Depoimentos de Cid foram revelados nesta quarta após o ministro Alexandre de Moraes tirar o sigilo do processo
Em seu acordo de delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, deu detalhes sobre a atuação do grupo conhecido como "gabinete de ódio" que disseminava notícias falsas contra as urnas eletrônicas e as vacinas. Segundo Cid, o grupo era formado por "três garotos que era assessores" de Bolsonaro, tinham "relação direta" com o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho 02 do ex-mandatário, e funcionavam dentro do Palácio do Planalto.
Os depoimentos de Cid foram revelados nesta quarta-feira após o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes tirar o sigilo do processo.
"QUE era o Carlos BOLSONARO que ditava o que eles teriam que colocar, falar; QUE basicamente, o que acontecia era que o ex-presidente tomava conta de sua rede social Facebook; QUE CARLOS BOLSONARO tomava conta das outras redes do ex-Presidente (lnstagram, o Twitter e os outros)", diz trecho do depoimento transcrito pela Polícia Federal.
Leia também
• Cid diz em delação que repassou US$ 86 mil a Bolsonaro por venda de joias e relógio de luxo
• Michelle e Eduardo eram 'radicais' em defesa do golpe, disse Cid em delação
• Mauro Cid disse em delação que recebeu 'ordem' de Bolsonaro para falsificar cartão de vacina
De acordo com o relato de Cid, o gabinete do ódio tinha uma localização física - funcionava em uma "salinha pequenininha" no terceiro andar do Palácio do Planalto, o mesmo andar onde ficava o gabinete do então presidente.
A função dos assessores presidenciais era "sentir a temperatura das redes sociais" e "saber o que dava o engajamento e o que não dava", segundo Cid.
O tenente-coronel também afirmou que nem sempre o grupo concordava com as postagens feitas por Bolsonaro - "às vezes eles brigavam com o ex-Presidente porque o Presidente publicava" - e que Carlos Bolsonaro tinha comando sobre a postagem nas redes:
"Principalmente Carlos Bolsonaro não queria que as mídias sociais do presidente fossem aquelas mídias enfadonhas", disse Cid à PF.
A delação de Cid integra uma das provas levantadas pela Polícia Federal nos inquéritos que envolvem Bolsonaro. Nesta terça-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o ex-presidente, o ex-ministro Braga Netto e mais 32 pessoas por participação em uma trama golpista para mantê-lo no poder após ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
A denúncia foi oferecida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, e será apreciada pela Primeira Turma da Corte.