Em depoimento à PF, 'kid preto' nega participação em plano para matar Moraes
Militar foi preso depois que a polícia identificou que ele usou o mesmo celular empregado em ação golpista
Preso por participação em plano para matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo negou em depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira ter atuado na ação golpista.
O militar fez o curso de Forças Especiais do Exército, e por isso integra o grupo dos chamados “kids pretos”.
A PF chegou ao nome de Azevedo depois de identificar que ele inseriu um chip em seu nome no celular usado no plano para assassinar Moraes.
A inserção ocorreu no dia 29 de dezembro, data posterior ao plano. O militar colocou um chip em seu nome e em seguida inseriu o chip no nome de um terceiro “aleatório”.
Azevedo alegou que não estava com o aparelho até o dia 29, e que o encontrou em uma caixa cheia de celulares antigos usado para missões em um departamento do Comando de Operações Especiais do Exército, justamente onde fica o batalhão dos “kids pretos”.
— No meio desses celulares tinha um aparelho que aparentava ser um pouco mais novo. Eu peguei esse celular e até falei, vou testar esse celular aqui, se ele estiver funcionando eu vou ficar com ele para utilizar em coisas de serviço, viagem a trabalho, etc. E aí eu fiz isso — disse. Ele afirmou que não se lembra se inseriu o chip usado na ação contra Moraes, ou se o chip já estava no celular.
— O celular pode ter sido utilizado por diversas outras pessoas (...) Eu não fazia ideia do que esse chip podia ter feito anteriormente. (...) Provavelmente esse chip já tava lá, eu coloquei um chip no meu nome e outro chip depois. O que eu quero deixar claro aqui é que eu não estava nesse dia 15, eu não usei o celular no dia 15, eu comecei a usar esse celular a partir do dia 20 e alguma coisa — disse.
O delegado da PF que conduziu o inquérito, Fábio Shor, afirmou que a declaração torna a situação “ainda mais grave”.
— Então, o senhor está confirmando que esse telefone é do Batalhão de Operações Especiais, ou seja, um telefone que foi usado numa ação para tentar prender, matar o ministro Alexandre de Moraes, o senhor acabou de confirmar que é um telefone do BAC [Batalhão de Ações de Comandos], que se torna mais grave ainda a situação — disse.
“Grupo perdeu a finalidade”
Na investigação, a PF aponta que o tenente-coronel Azevedo também fazia parte de um grupo no WhatsApp chamado "Dosssss!!!", que era administrado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
No dia 30 de dezembro de 2022, ele postou uma mensagem, lamentando a falta de ação das Forças Armadas.
"Rapaziada esse grupo aqui pra mim perdeu a finalidade.... deixo aqui um abraço pra FE de verdade que fizeram o que podiam pra honrar o próprio nome e as Forças Especiais... qqq coisa estou no privado!! Força!!", escreveu ele. No relatório final, a PF diz que aponta “a identificação de ações com emprego de técnicas e militares com formação em Forças Especiais do Exército para propiciar a consumação do Golpe de Estado em execução pelos integrantes da organização criminosa ora investigada”.
Questionado pelo delegado sobre o contexto da mensagem, o militar afirmou que foi um desabafo por questões internas, como efetivo reduzido.
— A gente estava perdendo gente, não estava recebendo ninguém. Foi uma questão também de material, a gente sucateado a questão de armamento, material de comunicações. E foi um desabafo mesmo em relação aos nossos chefes. (...) Mas um desabafo mesmo ali, estava de saco cheio também desse negócio de grupo. Tanto que eu acho que sai de todos os grupos que eu tinha — afirmou.