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Eleições 2022

Em guerra no PSDB e diante do avanço de Tebet, Doria procura Temer para acordo de terceira via

Em sua ofensiva mais recente, Doria jantou com o ex-presidente Michel Temer e a senadora Simone Tebet (MDB-MS)

João DoriaJoão Doria - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Diante de forte resistência no PSDB contra sua pré-candidatura presidencial, o ex-governador João Doria busca apoio dos partidos de centro na tentativa de não ficar de fora de uma prometida chapa da chamada "terceira via".

Em sua ofensiva mais recente, Doria jantou com o ex-presidente Michel Temer e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) na noite de segunda-feira no momento em que o nome da emedebista é visto como mais "viável" entre os partidos que negociam a composição como PSDB, Cidadania, MDB e União Brasil. As legendas negociam um acordo para o lançamento de uma candidatura única no dia 18 de maio.

O movimento do paulista ocorreu um dia após o coordenador de sua campanha e presidente do PSDB, Bruno Araújo, admitir publicamente que o pacto dos partidos de centro está acima das prévias presidenciais tucanas realizada em dezembro, quando Doria derrotou o ex-governador Eduardo Leite na eleição interna.

Nas negociações entre os partidos, aliados dizem que Doria já recebeu sinalizações de que MDB e União Brasil veem dificuldade de sua participação na aliança em razão da alta rejeição do paulista nas pesquisas de intenção de voto.

Enquanto isso, no PSDB está consolidada a tese de que só haverá candidatura se for na aliança com os demais partidos e de que não faz sentido gastar recursos do fundo eleitoral com um candidato que não decola nas pesquisas.

Doria tem 2% das intenções de votos no último levantamento do Instituto Datafolha, divulgado no mês passado. A prioridade entre os tucanos é abrir o cofre para as campanhas de governadores e aumentar a já combalida bancada de parlamentares no Congresso Nacional — o partido perdeu nove integrantes na janela partidária.

Em entrevista à CNN nesta manhã, Tebet deixou claro que a rejeição é um fator que complica uma composição, apesar de não ter citado Doria.  O paulista precisa aplacar uma rejeição de 30% dos eleitores, de acordo com o Datafolha. Trata-se de uma média inferior somente à de Bolsonaro, sob a recusa de voto de 55% dos eleitores, e de Lula, com 37%.

— Sem dúvida nenhuma não é possível haver crescimento quando você tem um índice de rejeição muito alto — afirmou Tebet ao canal a cabo.

Numa declaração anterior, ela ainda havia feito um aceno ao rival do paulista e ex-governador gaúcho ao dizer que trata-se de um "bom nome para vice" e que "homens da envergadura de Eduardo Leite somam". 

Estrategistas de Tebet dizem que pesquisas qualitativas mostram que uma chapa com o gaúcho teria mais chances de quebrar a polarização. Entre as razões que sustentam esse argumento estão não só a baixa rejeição e a baixa taxa de conhecimento de ambos pelo eleitorado, como também o fato de que a maioria das mulheres nesses levantamentos aparecem como indecisas e podem definir a eleição.

Ainda assim, a entrada de Leite na composição é vista como difícil entre os partidos de centro, já que haveria risco de judicialização da disputa por parte de Doria e ainda acirraria mais as divisões no PSDB.

Ao mesmo tempo em que vê Doria isolado, a cúpula do PSDB foi convencida pelo presidente do MDB, Baleia Rossi, de que a sigla vai bancar o apoio a Tebet, apesar de que alguns caciques do partido sejam contra e tentem minar a pré-candidatura.

Na segunda-feira, o ex-presidente Lula se reuniu com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-presidente do senado Eunício Oliveira (MDB-CE) e o ex-presidente José Sarney. O entorno de Tebet afirma que a senadora reúne hoje o apoio da maioria dos diretórios estaduais do MDB e da bancada federal.

Em resposta ao movimento das lideranças do nordeste, alguns presidentes de diretórios (Rio, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná, Tocantins, Acre, Pernambuco, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul) declararam apoio a Tebet na segunda-feira.

A dificuldade de Doria se tornou mais evidente num evento do PSDB na Zona Oeste da capital na noite de terça-feira em homenagem ao ex-prefeito Bruno Covas, morto em decorrência de um câncer em maio de 2021. Lá, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que também estava presente, e que havia se aproximado de Doria no ano passado, afirmou que o seu partido vai bancar Tebet como pré-candidata:

— Temos 37 deputados federais e apenas cinco são contrários e apoiam Lula. A grande maioria é de apoio a Simone e ela vai vencer — afirmou Nunes à imprensa.

No evento tucano, os discursos de integrantes da cúpula do partido exaltaram o governador Rodrigo Garcia e, em sua maioria, não citaram Doria - ele foi o primeiro a falar, mas saiu logo no começo do evento sem falar com a imprensa.

O caso que mais chamou atenção foi o do presidente do PSDB que não mencionou Doria e disse que, se estivesse vivo, Bruno Covas seria o maior entusiasta da candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo de São Paulo. A defesa do ex-governador ficou por conta apenas do presidente do PSDB municipal, Fernando Alfredo, e de Marco Vinholi, presidente do diretório estadual da sigla.

Em seu discurso, Garcia apenas fez uma referência a Doria e disse que o governador "passou por aqui". Pessoas próximas ao atual governador atribuem o gesto dele à crise detonada no final do mês passado, quando Doria ainda então governador ameaçou desistir da candidatura presidencial e permanecer no cargo. No PSDB, o movimento de Doria foi como uma ameaça de implosão da candidatura de Garcia, atual prioridade da sigla, em troca de obter o apoio da cúpula do PSDB.

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