Em Minas, educação, segurança e saúde articulam paralisações para pressionar Zema
Governador ofereceu 10% de reajuste a todos os servidores
Três categorias do funcionalismo público mineiro pressionam o governador Romeu Zema (Novo) por reajustes salariais e ameaçam paralisações contra o pedido de adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) — o que impediria futuras negociações por aumentos.
No início do mês, Zema ofereceu 10% de reajuste a todos os servidores, o que foi considerado irrisório pelos profissionais que acumulam perdas inflacionárias desde 2019.
Nesta quinta-feira (10), depois de uma decisão judicial que suspendeu a greve dos professores anunciada na véspera, o Sindicato dos Trabalhadores da Educação informou que vai recorrer da medida, além de anunciar nova assembleia, com a convocação de profissionais do interior do estado para a paralisação. Na quarta, mais de 50 mil profissionais da Segurança Pública se reuniram no Centro de Belo Horizonte em um ato que teve pessoas feridas por bombas arremessadas por manifestantes. Profissionais da saúde também articulam manifestos e podem parar.
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De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sind-UTE), os profissionais cobram o pagamento de reajustes equivalentes a 33.24%. O desembargador Raimundo Messias Junior, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) , no entanto, determinou a suspensão da greve iniciada a menos de 24 horas, sob pena de multa diária no valor de R$ 100 mil.
Além de solicitar uma audiência de conciliação com o Executivo mineiro e recorrer da decisão, o Sind-UTE afirma que " a iniciativa do governo revela que o movimento está com forte adesão em todo o estado".
Em paralelo, os profissionais que atuam nos hospitais públicos de Minas buscam a legalização de um movimento de greve. No início do mês passado, os trabalhadores dos hospitais da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) decidiram que entrariam em greve. A Justiça mineira, mais uma vez, considerou o movimento ilegal, a pedido da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Entre outros pontos, os trabalhadores exigem reposição salarial e suspensão da privatização do Hospital Regional João Penido, em Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Em nota, o governo de Minas Gerais informa que reconhece a necessidade de reposição salarial. Segundo o governo, o estado se mantém aberto ao diálogo e em busca de uma solução, “mas com responsabilidade e previsibilidade fiscal”. E condiciona a recomposição dos salários à adesão ao regime de recuperação fiscal. O governo diz ainda que acompanha todas as manifestações dos servidores.
Zema reagiu às bombas explodidas e ruas interditadas, na tarde desta quarta, durante manifestação de agentes de segurança pública que pediam por reajuste salarial, em Belo Horizonte. Uma repórter da TV Band Minas sofreu um trauma auditivo causado pela explosão de um artefato arremessado por ativistas. Outro jornalista foi atingido de raspão por uma bomba, na Praça da República.
Os manifestantes ignoraram uma decisão judicial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) que determinou que as forças de segurança não poderiam interditar ruas, bloquear o acesso a prédios públicos ou privados, além de portar armas de fogo durante o ato, com a possibilidade de multa de R$ 100 mil por hora, em caso de descumprimento.
"Manifestar sem infringir a lei é legítimo e democrático. Mas atos de desordem e que coloquem em risco outras pessoas, não serão aceitos. A liberdade caminha junto com a responsabilidade. Minha solidariedade aos jornalistas atingidos por bombas durante as manifestações hoje em Belo Horizonte. A liberdade de imprensa será sempre defendida, assim como o direito de manifestar, desde que pacificamente", postou Zema, sem especificar qual seria a reação do governo ao descumprimento das proibições.
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Na semana passada, ele propôs 10% de aumento para todos os servidores mineiros, possibilidade que foi rechaçada por policiais civis e militares, agentes penitenciários e bombeiros do estado. Como O Globo mostrou no último mês, parlamentares e uma associação alinhada ao bolsonarismo encabeçam o movimento que ameaça paralisar os serviço. O insucesso nos diálogos com o Executivo provocou a manifestação desta quarta, que contou com policiais que atuam no interior do estado
Questionado sobre o descumprimento das decisões judiciais durante a manifestação, o sargento Marco Antônio Bahia, vice-presidente da Aspra (Associação dos Praças de Minas Gerais), que se apresenta como um dos articuladores do ato, disse ser difícil controlar tantas pessoas.
— Tínhamos mais de 50 mil pessoas na manifestação, vindas de todos os cantos do estado. Não temos muito controle sobre a turma que vem. Algumas pessoas foram atingidas, lamento, mas o nosso movimento é brilhante e não será isso que vai mudar — disse. O policial afirmou que o ato desta quarta é um "aviso" ao governador. — Se Zema seguir sem querer negociar, faremos outros movimentos. O recado está dado — afirma ele, que considera o aquartelamento de policiais uma medida possível de ser adotada nas próximas semanas.
As forças de segurança reivindicam recomposição salarial para corrigir a perda com a inflação alta. Em 2020, Zema havia feito acordo com os policiais e enviou projeto de lei à Assembléia Legislativa que previa recomposição de 41% para os profissionais, a ser paga em três parcelas. No entanto, depois de aprovado pelo Legislativo, somente a primeira parcela foi paga, após Zema vetar as duas últimas. Agora, os servidores tentam fazer com que o governador cumpra o acordo inicial.