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Política

Em Palestina, Alagoas, um voto fez a diferença nas eleições

Para garantir uma vaga na Câmara Municipal, os vereadores já articulam a criação de chapas

Todas as Canções de Amor (2018)Todas as Canções de Amor (2018) - Foto: Divulgação

 

Na Palestina do Oriente Médio, os conflitos na Faixa de Gaza entre israelenses e palestinos são uma demonstração de força do Estado de Israel frente às forças palestinas que buscam a independência. Na pequena Palestina brasileira, encravada no Sertão alagoano, a 220 km de Maceió, os conflitos, também históricos, entre as famílias Cabudo e Alcântara, se dão pelo voto em busca do poder. Na eleição de domingo passado, apenas um único voto permitiu que a mais legítima representante dos Cabudo - a prefeita Eliane Silva Lisboa, a Lane Cabudo (PSD) - continuasse com a chave do cofre nas mãos.

A cidade rachou, literalmente, ao meio. Entre os pouco mais de 3,6 mil palestinos que foram às urnas, 1.869 votaram pela reeleição de Lane e 1.868 no seu adversário, Júnior Alcântara, do PMDB, um voto apenas de diferença. Em termos percentuais, Lane teve 50,01% dos votos e Júnior 49,99. Pequenina e pobre, Palestina tem apenas 12 seções eleitorais, onde ocorreram ainda 28 votos brancos e 112 nulos. O percentual de abstenção foi de 6,47%, deixando de votar exatamente 226 eleitores.

Impossível saber quem deu o voto decisivo em Palestina. Judêncio Rodrigues, 47 anos, residente no sítio de Baixo, se apresenta na cidade como o dono deste precioso voto. Ele conta que foi o último a votar. “Eu estava na fila e um amigo pediu para votar na minha frente, porque estava apressado e eu acabei saindo da secção eleitoral como o último votante. Como votei em Lane, decidi sua vitória”, diz Rodrigues, mais conhecido na cidade como Pandeirinho. Teoricamente, o voto decisivo, entretanto, pode ter vindo de longe.

Residente em São Paulo, o jovem Ecledson Silva Lisboa, irmão da prefeita, veio à Palestina especialmente para votar, como faz em toda eleição. “Quem sabe, não foi este voto”, diz a prefeita reeleita, adiantando que o seu candidato à vice também teve um parente residente em Curitiba que veio também votar. Seja lá quem tenha partido o voto de minerva, o fato é que fez a diferença e a alegria da família Cabudo, que saiu às ruas para comemorar depois de uma apuração que deixou todo mundo com os nervos à flor da pele.

“Nunca tinha passado em minha vida por igual experiência. Aqui, o resultado só foi conhecido na apuração da última urna”, diz a prefeita. Emocionada, mas ao mesmo tempo preocupada em ter que administrar uma cidade literalmente rachada ao meio, Lane agora até ri e se diverte com as versões dos moradores. “Todo mundo quer ser o dono do último voto. O Pandeirinho disse: agradeça sua eleição a mim. Agora, a senhora está em minhas mãos”, afirmou.

Na Câmara, a prefeita construiu a maioria com a vantagem de apenas um vereador. A coligação que apoiou a sua reeleição elegeu cinco dos nove vereadores. O mais votado, Nah Ferrari, do PMDB, de oposição à prefeita, teve 258 votos e último a conquistar uma cadeira, Lenilson, do DEM e aliado das forças governistas, obteve 178 votos. Com um vereador a mais, a prefeita vai garantir a eleição do próximo presidente da Câmara também pela diferença de um voto.

Versões para o voto
A prefeita credita à compra de votos, por parte do seu adversário, pelo resultado apertado da votação. Bruno Alcântara, a quem derrotou, já foi prefeito por duas vezes do município e, segundo ela, vem de uma família rica, que costuma torrar dinheiro nas eleições. “Eles só aparecem aqui na época de eleição e saem comprando o voto de todo mundo”, afirmou. Bruno não foi encontrado em Palestina, porque não mora na cidade, mas um dos seus aliados, o vereador Nah Ferrari, saiu em defesa dele.

“Quem comprou voto aqui, na verdade, foi a prefeita”, rebate o parlamentar. Ele se refere ao poderio de quem manda de fato na família de Lane: o seu marido Toninho Cabudo, duas vezes prefeito. “Ele é tão poderoso, que mesmo preso, ainda elegeu a mulher pela primeira vez”, diz José Pereira, um morador da cidade, referindo-se ao processo que Toninho respondeu por suposto desvio de dinheiro destinado à merenda escolar quando prefeito do município pela última vez.

Servidora concursada da Prefeitura, Lane confessa que foi forçada a entrar na política por causa do marido, que, segundo ela, ficou desgostoso com tudo que aconteceu e não quis mais se candidatar a nada. Ela chegou à reeleição depois de um processo extremamente complicado. Candidata em 2012 perdeu por 212 votos para Beto Barbosa, do PMDB, ligado à família Alcântara.

Mas Beto não teve sua votação reconhecida pela Justiça Eleitoral porque o seu então candidato a vice renunciou na véspera. Quando encontrou outro nome, no cartório eleitoral já não havia mais prazo para o registro. Diante disso, ocorreu uma eleição suplementar, mas só em dezembro de 2013, tendo Lane vencido e assumido em abril de 2014. “Ganhei o pleito suplementar por 74 votos”, ressalta.

 

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