CPI DA COVID

Marconny não aparece para depor e CPI aciona polícia legislativa para 'condução sob vara'

Com ausência na CPI, suposto lobista da Precisa Medicamentos descumpriu decisão da ministra Cármem Lucia, do STF

Participam da reunião secreta senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP); senador Renan Calheiros (MDB-AL); senador Marcos Rogério (DEM-RO); senador Humberto Costa (PT-PE); senador Izalci Lucas (PSDB-DF); senadora Simone Tebet (MDB-MS)Participam da reunião secreta senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP); senador Renan Calheiros (MDB-AL); senador Marcos Rogério (DEM-RO); senador Humberto Costa (PT-PE); senador Izalci Lucas (PSDB-DF); senadora Simone Tebet (MDB-MS) - Foto: Pedro França/Agência Senado

Com a ausência ao depoimento da CPI da Covid do suposto lobista da Precisa Medicamentos, Marconny Faria, que foi convidado a depor nesta quinta-feira (2), na Comissão, por volta das 11h, o presidente Omar Aziz (PSD) suspendeu a sessão e iniciou uma reunião secreta para deliberar sobre as medidas a serem tomadas.

A CPI da Covid aprovou requerimento para requerer ao Supremo Tribunal Federal a condução coercitiva e a apreensão do passaporte do depoente, por um período de 30 dias. O requerimento aprovado também prevê que Marconny não pode deixar a comarca em que reside sem a prévia autorização da CPI.

Por causa da ausência de Marconny, a CPI decidiu realizar ainda nesta quinta-feira o depoimento do ex-secretário de Saúde do Distrito Federal Francisco de Araújo Filho, que recentemente foi preso acusado de corrupção.

Inicialmente, a cúpula da comissão havia determinado para a polícia legislativa a 'condução sob vara' de Marconny. No entanto, após a reação de governistas, que apontaram que a ação configuraria abuso de poder, a cúpula decidiu recorrer ao STF, solicitando a condução coercitiva.

 

O vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também havia levantado a hipótese de pedir a prisão preventiva do lobista, mas houve resistência entre os demais membros do colegiado.

Ao chegar para a sessão, Randolfe havia afirmado que a polícia legislativa já havia sido acionada para colocar em prática a condução sob vara de Marconny, instrumento jurídico semelhante à condução coercitiva, mas que é prerrogativa de uma comissão parlamentar de inquérito. Segundo o senador, não é necessária autorização judicial.

"A direção da Comissão Parlamentar de Inquérito já determinou a condução sob vara. Nós estamos a partir de agora procurando a localização dele, em alguns endereços aqui de Brasília. Caso a gente não consiga localizá-lo para conduzi-lo ao depoimento ainda no dia de hoje, irei requisitar a prisão preventiva", afirmou o vice-presidente da comissão.

Marconny conta com um habeas corpus concedido pela ministra Carmen Lúcia, que garantiu seu direito ao silêncio durante o depoimento. No entanto, não permitiu sua ausência na oitiva.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania), em entrevista aos jornalistas, durante o intervalo da sessão da CPI da Pandemia desta quinta-feira (2), no Senado Federal, disse que na reunião secreta foram apresentados documentos e áudios para que se possa deliberar sobre outros fatos".  A CPI pretende considerar Marconny foragido e decretar sua prisão e condução coercitiva.

"A ministra Cármem Lúcia será informada. Ele está em flagrante desrespeito de uma ordem judicial". Segundo Alessandro, com a ausência do depoente, a CPI deverá ouvir o ex-secretário de saúde do DF, Francisco Araújo Filho.

 




Marconny é apontado como lobista da Precisa Medicamentos e de outras empresas. Ele aparece em diálogos tratando da venda de testes para detectar a Covid-19.

O advogado de Marconny, William de Araújo Falcomer, que também não foi localizado pela CPI, auxiliou na abertura do registro da empresa de Jair Renan Bolsonaro, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira. A ajuda foi dada após Marconny solicitar ao advogado que recebesse o filho do presidente para ele o auxiliasse.

As informações constam de conversas no WhatsApp obtidas pela Folha de S.Paulo entre o lobista e Renan, após quebra judicial de sigilo do lobista a pedido do Ministério Público Federal do Pará, e de análise de documentos da Receita Federal.

Os diálogos foram enviados à CPI pela Procuradoria, depois que os investigadores daquele estado, que apuravam a influência do lobista em uma indicação para órgão público, viram que Marconny havia sido citado nas negociações da Precisa Medicamentos.

O telefone registrado no cadastro da Receita Federal como sendo da Bolsonaro Jr Eventos é o mesmo contato do escritório de William de Araújo Falcomer dos Santos. Nesta terça-feira (31), a Folha de S.Paulo ligou para o local e a secretária confirmou que se tratava do escritório de William, mas que o advogado estava em viagem.

Ele não respondeu os contatos feitos pela Folha de S.Paulo por telefone, celular, emails e mensagens no WhatsApp, assim como Marconny e a Precisa Medicamentos também não se pronunciaram.

Randolfe Rodrigues descreveu Marconny como o "senhor de todos os lobbies" e relembrou a reportagem publicada pela Folha de S.Paulo.

"Temos um material probatório vastíssimo. Esse senhor não é um lobista somente da Precisa. Esse é o senhor de todos os lobies. Esse senhor está presente em esquemas, sobretudo no Ministério da Saúde, desde o ano passado ou antes. Então não se trata apenas de uma farmacêutica. Ele é o senhor de todos os lobbies, sobretudo no Ministério da Saúde, e com diálogos com pessoas próximas do presidente da República e contatos com pessoas próximas do presidente da República", afirmou.

O vice-presidente da comissão ainda afirmou que não descarta a convocação de Jair Renan Bolsonaro para explicar a sua ligação com o lobista.

Antes do início da oitiva de Francisco de Araújo Filho, os senadores da comissão realizaram uma sessão secreta para ouvir áudios de conversa envolvendo o lobista. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a veicular esses áudios durante a sessão aberta, mas foi alertado de que eles fazem parte de um inquérito sigiloso.

Marconny chegou a enviar um atestado médico para a comissão, alegando que estava com dores pélvicas. O documento previa um afastamento das suas atividades por até 20 dias.
A cúpula da comissão desconfiou da versão.

"Se um trabalhador brasileiro tiver o que o doutor Marconny teve, duvido ele conseguir 20 dias para ficar em casa com uma dor pélvica", afirmou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

Randolfe depois informou que manteve contato com o médico, que levantou dúvidas sobre a real situação do paciente, e por isso o depoimento foi confirmado para esta quinta-feira.

"O médico que concedeu o atestado do senhor Marconny Faria, entrou em contato conosco e disse que foi ele que concedeu o atestado, mas que notou uma simulação por parte do paciente e que deseja cancelar o mesmo. Com isso, amanhã receberemos o Sr. Marconny na CPI da Covid", escreveu em suas redes sociais.

 

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