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BRASIL E VENEZUELA

Embaixador venezuelano dirá que relação com Brasil não está estremecida, mesmo após crítica de Lula

Representante do governo de Nicolás Maduro pedirá audiência a assessor internacional, Celso Amorim

O embaixador da Venezuela, Manuel Vadell, ao lado de Lula O embaixador da Venezuela, Manuel Vadell, ao lado de Lula  - Foto: Presidência/Ricardo Stuckert

O presidente Nicolás Maduro não considera que as relações com o Brasil estejam estremecidas e quer trocar informações com Brasília sobre o processo eleitoral em seu país. Esta é a principal mensagem a ser levada pelo embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, nos próximos dias, ao assessor internacional do Palácio do Planalto, Celso Amorim.

Segundo um interlocutor próximo a Maduro, que falou ao GLOBO na condição de anonimato, no encontro, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tenha se colocado à disposição para colaborar para que as eleições na Venezuela, previstas para julho deste ano, ocorram sem problemas, Vadell não fará um convite nesse sentido a Amorim. Tudo vai depender de como irá transcorrer o diálogo.

A notícia de que o embaixador pedirá uma reunião com Amorim foi antecipada pela coluna de Lauro Jardim, no Globo. A data da conversa ainda não foi marcada, devido ao feriado prolongado. O pedido deve ser feito já na segunda-feira.

Impasse
Na última terça-feira, o Itamaraty divulgou uma nota questionando o fato de Corina Yoris, que havia sido escolhida pela oposição, ter sido impedida de se registrar para as eleições. No mesmo dia, a chancelaria venezuelana reagiu: disse que o Itamaraty estava interferindo em assuntos internos e que o texto parecia ter sido ditado pelo Departamento de Estado americano.

A mudança de tom do Brasil foi reforçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira. Ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, Lula afirmou ser "grave" que Corina Yoris não tenha conseguido registrar sua candidatura à presidência da Venezuela.
 

Yoris representa o principal grupo de oposição ao atual presidente venezuelano, aliado histórico de Lula. Ela foi indicada por María Corina Machado, que era a candidata favorita nas pesquisas, mas foi declarada inelegível por 15 anos pelo Tribunal Supremo de Justiça, controlado por maioria chavista.

'Trocar percepções'
Vadell deve destacar que a agenda bilateral é ampla e construída com diálogo e trabalho. A reunião terá o objetivo de "trocar percepções" e informar a Amorim que faltaram subsídios para o governo brasileiro avaliar o que na realidade está acontecendo naquele país.

A troca de notas entre as chancelarias dos países e a posição crítica de Lula sobre o que acontece na Venezuela não justificam um distanciamento, disse esse interlocutor. Isto porque a agenda bilateral é intensa, com muito trabalho a ser feito e uma fronteira comum de pouco mais de 2 mil quilômetros.

Do lado brasileiro, apesar da mudança de tom, Lula se colocou à disposição para ajudar no processo eleitoral. Mas integrantes do governo brasileiro frisam que isso só vai acontecer se o Brasil for convidado — assim como foi feito no ano passado, quando representantes de Maduro e da oposição firmaram o chamado Acordo de Barbados, para que as eleições sejam livres, transparentes e justas.

Na semana passada, o assessor internacional de Lula conversou com representantes de Maduro e da oposição. Sua conclusão era que havia diálogo entre as partes e, portanto, haveria boas razões para acreditar que as eleições na Venezuela ocorram sem problemas. Mas o governo brasileiro reagiu, ao tomar conhecimento do impedimento da candidatura de Corina.

Na última sexta-feira, Celso Amorim disse ao GLOBO que as últimas manifestações do Brasil em relação à Venezuela têm como motivação uma preocupação com o processo eleitoral no país, tratado por ele como "complexo".

— Nossa preocupação é ajudar em um processo complexo, difícil, de maneira que as eleições transcorram bem — afirmou Amorim, após participar de um almoço, no Itamaraty, oferecido a Emmanuel Macron.

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