Embates do MST com Lula se repetem com governadores petistas
Movimento cobra mais empenho para reforma agrária a gestores de Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Piauí, que também são alvos do agro
Correligionários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os governadores de Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí equilibram pratos na relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao mesmo tempo em que são alvos de representantes do agronegócio.
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Embora os chefes do Executivo tenham políticas alinhadas às causas do movimento, foi nos estados deles onde houve a maior investida dos sem-terra desde janeiro, que promoveram uma série de invasões para reivindicar assentamentos. Na outra ponta, o agro cobra mais investimentos públicos.
Incluído na lista de estados escolhidos pelo MST para ocupações, o Rio Grande do Norte soma pelo menos nove invasões promovidas pelo movimento entre janeiro e outubro. Em uma das ocasiões, o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Natal, chegou a ser ocupado. A governadora Fátima Bezerra, que fez acenos ao trabalhadores sem terra que incluíram postagens de apoio durante a CPI do MST, não foi poupada de críticas e é cobrada por mais investimentos na reforma agrária.
Do outro lado, Fátima também é alvo de queixas do agronegócio. Grande parte se deve à tramitação na Assembleia Legislativa de uma proposta que visa a manter o ICMS em 20%, o que atingiria o setor.
O governador baiano Jerônimo Rodrigues também não foi preservado dos atos do MST. Durante o Abril Vermelho, mês em que o movimento promoveu uma série de protestos, a Bahia foi palco de três ocupações, causando constrangimento para o governo. A relação mais desgastada, contudo, é com representantes do agronegócio. Rodrigues viveu um episódio tenso na semana passada, quando a pasta da Agricultura de seu governo cancelou a Feira Nacional da Agropecuária. Políticos da oposição chegaram a pedir a exoneração do secretário Wallison Tum. Na Câmara, o deputado Capitão Alden (PL) insinuou que o evento não teria sido cancelado se fosse do MST:
— Se alguém tinha alguma dúvida sobre a falta de comprometimento do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, com o agronegócio, agora ficou clara a posição dele. A Fenagro não será realizada este ano e deixará de movimentar no estado mais R$ 100 milhões em negócios — disparou o parlamentar em plenário.
O governador justificou que o setor deveria arcar com os custos de sua própria feira. Dias depois, o Rodrigues compareceu a um evento da Central de Movimentos Populares, escalonando a tensão.
O cenário é semelhante no Ceará. O estado é foco do MST, apesar de o governador Elmano Freitas promover ações como um convênio entre o estado e o movimento de R$ 1,5 milhão, destinados a realização de uma feira pró-reforma agrária. Por isso, na Assembleia Legislativa, Elmano foi alvo de duras críticas.
— O PT governa para os coleguinhas, para os amiguinhos, para as patotas. O que o governo estadual está fazendo? Dinheiro para o MST. Isso é um tapa na cara dos prefeitos do Ceará — disse Sargento Reginauro (União Brasil).
Petista distante
Entre os petistas, o que mais se distancia do MST é o governador do Piauí, Rafael Fonteles. Menos identitário, ele é constantemente criticado por nem sempre se associar às pautas dos sem terra. Desde quinta-feira, Fonteles está no Japão para buscar parcerias nas áreas de tecnologia, energias renováveis e agronegócio. O Piauí também integra a lista de invasões de terra.
Para o doutor em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará Marcos Paulo Campos, a polarização no campo é histórica, mas ganhou remodelação política.
— O fato de o Brasil não ter feito reforma agrária acabou abrindo um palco de conflitos rurais. O MST se consolidou como agente que disputa os investimentos públicos na agricultura familiar, ao mesmo tempo que as grandes fazendas aproveitaram o período da ditadura para se modernizar e ainda seguem poderosos. Os dois sempre disputaram investimento públicos, e os governos trabalharam com eles de forma complementar, mas agora a polarização foi remodelada nos moldes de lulistas e bolsonaristas — afirma.
A realidade nos estados é reproduzida em nível federal. O governo frequentemente vê a temperatura subir com ambos os setores. Nas últimas semanas, o MST esteve com cinco ministros de Lula, em Brasília, reivindicando um maior orçamento para a reforma agrária. O Planalto alega ter limitações financeiras e pede a compreensão dos sem terra.
O MST ainda culpa Lula, alinhado às suas causas, pelo da violência no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), encomendados pelo MST, ocorreram 973 conflitos neste ano, 8% a mais que no ano passado (791) — 19,33% teriam sido causados pelo governo.