REIVINDICAÇÕES

Embates do MST com Lula se repetem com governadores petistas

Movimento cobra mais empenho para reforma agrária a gestores de Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e Piauí, que também são alvos do agro

Integrantes do MST ocupam fazenda na Bahia: somente em abril, o estado registrou três invasõesIntegrantes do MST ocupam fazenda na Bahia: somente em abril, o estado registrou três invasões - Foto: Divulgação / MST

Correligionários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os governadores de Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí equilibram pratos na relação com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao mesmo tempo em que são alvos de representantes do agronegócio.

Embora os chefes do Executivo tenham políticas alinhadas às causas do movimento, foi nos estados deles onde houve a maior investida dos sem-terra desde janeiro, que promoveram uma série de invasões para reivindicar assentamentos. Na outra ponta, o agro cobra mais investimentos públicos.

Incluído na lista de estados escolhidos pelo MST para ocupações, o Rio Grande do Norte soma pelo menos nove invasões promovidas pelo movimento entre janeiro e outubro. Em uma das ocasiões, o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Natal, chegou a ser ocupado. A governadora Fátima Bezerra, que fez acenos ao trabalhadores sem terra que incluíram postagens de apoio durante a CPI do MST, não foi poupada de críticas e é cobrada por mais investimentos na reforma agrária.

Do outro lado, Fátima também é alvo de queixas do agronegócio. Grande parte se deve à tramitação na Assembleia Legislativa de uma proposta que visa a manter o ICMS em 20%, o que atingiria o setor.

O governador baiano Jerônimo Rodrigues também não foi preservado dos atos do MST. Durante o Abril Vermelho, mês em que o movimento promoveu uma série de protestos, a Bahia foi palco de três ocupações, causando constrangimento para o governo. A relação mais desgastada, contudo, é com representantes do agronegócio. Rodrigues viveu um episódio tenso na semana passada, quando a pasta da Agricultura de seu governo cancelou a Feira Nacional da Agropecuária. Políticos da oposição chegaram a pedir a exoneração do secretário Wallison Tum. Na Câmara, o deputado Capitão Alden (PL) insinuou que o evento não teria sido cancelado se fosse do MST:

— Se alguém tinha alguma dúvida sobre a falta de comprometimento do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, com o agronegócio, agora ficou clara a posição dele. A Fenagro não será realizada este ano e deixará de movimentar no estado mais R$ 100 milhões em negócios — disparou o parlamentar em plenário.

O governador justificou que o setor deveria arcar com os custos de sua própria feira. Dias depois, o Rodrigues compareceu a um evento da Central de Movimentos Populares, escalonando a tensão.

O cenário é semelhante no Ceará. O estado é foco do MST, apesar de o governador Elmano Freitas promover ações como um convênio entre o estado e o movimento de R$ 1,5 milhão, destinados a realização de uma feira pró-reforma agrária. Por isso, na Assembleia Legislativa, Elmano foi alvo de duras críticas.

— O PT governa para os coleguinhas, para os amiguinhos, para as patotas. O que o governo estadual está fazendo? Dinheiro para o MST. Isso é um tapa na cara dos prefeitos do Ceará — disse Sargento Reginauro (União Brasil).

Petista distante
Entre os petistas, o que mais se distancia do MST é o governador do Piauí, Rafael Fonteles. Menos identitário, ele é constantemente criticado por nem sempre se associar às pautas dos sem terra. Desde quinta-feira, Fonteles está no Japão para buscar parcerias nas áreas de tecnologia, energias renováveis e agronegócio. O Piauí também integra a lista de invasões de terra.

Para o doutor em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará Marcos Paulo Campos, a polarização no campo é histórica, mas ganhou remodelação política.

— O fato de o Brasil não ter feito reforma agrária acabou abrindo um palco de conflitos rurais. O MST se consolidou como agente que disputa os investimentos públicos na agricultura familiar, ao mesmo tempo que as grandes fazendas aproveitaram o período da ditadura para se modernizar e ainda seguem poderosos. Os dois sempre disputaram investimento públicos, e os governos trabalharam com eles de forma complementar, mas agora a polarização foi remodelada nos moldes de lulistas e bolsonaristas — afirma.

A realidade nos estados é reproduzida em nível federal. O governo frequentemente vê a temperatura subir com ambos os setores. Nas últimas semanas, o MST esteve com cinco ministros de Lula, em Brasília, reivindicando um maior orçamento para a reforma agrária. O Planalto alega ter limitações financeiras e pede a compreensão dos sem terra.

O MST ainda culpa Lula, alinhado às suas causas, pelo da violência no campo. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), encomendados pelo MST, ocorreram 973 conflitos neste ano, 8% a mais que no ano passado (791) — 19,33% teriam sido causados pelo governo.

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