Empresa investigada pela CPI da Covid é acusada de dar calote na entrega da vacina Covaxin
Precisa Medicamentos é processada por receber R$ 24 milhões e não entregar imunizantes contratados por fornecedora de Goiás
BRASÍLIA - A Precisa Medicamentos, empresa que negociou a venda da vacina indiana Covaxin com o Ministério da Saúde, recebeu R$ 24 milhões como adiantamento de uma empresa de produtos médicos para uma potencial parceria na venda do imunizante também para o setor privado no Brasil. O pagamento aparece em registros da quebra de sigilo bancário a que o GLOBO teve acesso. O produto, porém, não foi entregue e, de acordo com a compradora, a Nutriex, o valor ainda não foi ressarcido. Procurada, a Precisa Medicamentos não respondeu sobre o caso.
A Nutriex entrou com uma ação na Justiça para cobrar a devolução do que pagou. "Sempre contribuímos para o enfrentamento da pandemia, disponibilizando produtos essenciais ao mercado e, por isto acreditamos na aquisição das vacinas da mesma forma que várias outras clínicas, laboratórios e associações acreditaram, mas infelizmente todos nós fomos enganados", disse a empresa de Goiânia (GO), em nota enviada ao GLOBO.
Em agosto, o GLOBO revelou que a Precisa arrecadou pelo menos R$ 9,5 milhões vendendo o imunizante a 59 clínicas privadas no início do ano, segundo documentos obtidos pela CPI da Covid. As empresas pagaram um "sinal" de 10%, mas ficaram sem a vacina. Algumas buscam ressarcimento, já que o prazo contratual para a entrega das doses, estipulado no final de abril, expirou. A Nutriex é mais uma empresa que buscava vender vacinas contra Covid-19.
Na busca e apreensão na sede da Precisa Medicamentos realizada pela Polícia Federal (PF), foi encontrado o rascunho de um contrato de parceria entre a Precisa e a Nutriex, não assinado, datado de 12 de janeiro. No documento, o estipulado é que a Precisa receberia US$ 20 por dose de vacina, US$ 5 a mais que o valor negociado com o Ministério da Saúde. O governo brasileiro comprou 20 milhões de doses de vacina, mas o contrato acabou sendo cancelado.
Segundo os dados bancários da Precisa, a Nutriex pagou R$ 24,8 milhões entre 17 e 26 de fevereiro de 2021, mesmo período em que o contrato com o governo brasileiro estava sendo assinado. A empresa compradora afirmou ao GLOBO, porém, que o valor investido chegou a R$ 30 milhões. Em uma das versões do rascunho do contrato de parceria, havia uma expectativa de comprar de 500 mil a 3 milhões de doses da Covaxin.
"A Nutriex investiu R$ 30 milhões de reais na aquisição de vacinas contra COVID, visando a doação, a comercialização e a distribuição no mercado privado", dizem em nota. "Porém, as vacinas não foram entregues conforme previa o contrato. Assim, cobramos a devolução do valor pago antecipadamente, porém infelizmente não tivemos êxito, e por isto foi necessário ajuizar duas ações junto ao Poder Judiciário para assegurar o direito de receber o valor investido."
Os negócios com a Nutriex e com outras clínicas não foram adiante porque, além de a vacina não ter sido aprovada pela Anvisa, o Congresso não liberou clínicas privadas para vacinarem seus clientes contra Covid-19 até agora. O menor preço oferecido pela Precisa às empresas privadas era de US$ 32,71 para quem comprasse mais de 100 mil doses.
Após o avanço das investigações da CPI da Covid, a Bharat Biotech, fabricante indiana da vacina Covaxin, anunciou em julho a rescisão de seu contrato com Precisa Medicamentos.