Encontros de Ronnie Lessa com irmãos Brazão aconteciam a um quilômetro da casa de conselheiro do TCE
Domingos Brazão foi um dos três suspeitosos presos neste domingo por envolvimento na execução da vereadora
A Polícia Federal descobriu que o local dos encontros para planejamento do homicídio de Marielle Franco ficava a dois quarteirões da casa do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE) Domingos Brazão, um dos presos neste domingo sob a acusação de ser mandante do crime.
Nos depoimentos de sua delação premiada, o ex-PM Ronnie Lessa afirmou que as reuniões com Domingos e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, aconteciam "nas imediações do então Hotel Transamérica, situado na Barra da Tijuca". Após o relato, a PF descobriu que o ponto apontado por Lessa ficava a apenas um quilômetro da casa do conselheiro. De acordo com investigadores, o detalhamento fornecido por Lessa foi fundamental para que o relato fosse corroborado, já que o ex-PM não sabia onde Brazão morava.
Segundo Lessa, ele foi levado ao local pela primeira vez pelo PM Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, apontado como intermediador do crime e morto em 2021.
O encontro teria acontecido por volta das 21h num dia no segundo semestre de 2017. Numa "parte erma das imediações do hotel", a dupla teria visto um carro parado. Dentro do veículo, os irmãos teriam acenado e Lessa estacionou seu carro.
No local, Domingos, "o mais verborrágico da dupla", segundo Lessa teria contado que "havia alocado um infiltrado de nome Laerte Silva de Lima nas fileiras do PSOL para levantar informações internas do partido". O conselheiro ainda contou que "Laerte o alertou que Marielle Franco, em algumas reuniões comunitárias, pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia", o que teria gerado a ira dos irmãos.
Nesse dia, os irmãos Brazão ainda teriam prometido um loteamento que Lessa poderia explorar e informado a Lessa sua única exigência: a execução não poderia se originar da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Segundo Lessa, Domingos teria afirmado que "tal exigência partiu do então Diretor da Divisão de Homicídios, o delegado Rivaldo Barbosa".
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O segundo encontro no local teria acontecido no mesmo local alguns meses depois, diante da falta de avanços na empreitada por conta da dificuldade em monitorar os passos de Marielle. Segundo a PF, "Lessa provocou Macalé para que fosse agendada uma nova reunião com os irmãos a fim de que eles fossem demovidos" da exigência de que o monitoramento não poderia partir da Câmara de Vereadores.
Nesse dia, Lessa teria dito que se a exigência fosse mantida, desistiria da empreitada. Domingos e Chiquinho, então, teriam dito que, "eles não poderiam passar por cima das ordens de Rivaldo. Apesar de frustrado, Lessa não desistiu do negócio.
O terceiro encontro entre Lessa e os irmãos teria acontecido somente o crime, já em abril de 2018. Em seus depoimentos, o ex-PM não esclareceu onde foi a reunião, mas detalhou o diálogo que teve com os mandantes.
"Pra deixar a gente mais tranquilo, ele garantia que o Rivaldo ia dar um jeito", disse Lessa, sobre o direcionamento das investigações do crime.