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Escalação final de Lula deixa pelo caminho aliados e políticos dados como certos na Esplanada

Apesar de ter ampliado o número de pastas, aliados fiéis e políticos que eram dados como certos no novo governo ficaram pelo caminho

LulaLula - Foto: Evaristo Sá/AFP

Na peça de teatro "Quase Ministro", o escritor Machado de Assis narra a história de um deputado que aguarda a sua nomeação para um ministério e é rodeado por aduladores. No entanto, a sua expectativa não se cumpre. "O ministério está completo, sem mim", diz o protagonista do livro. Esse mesmo drama foi vivido por aliados féis do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e políticos que eram dados como certos no novo governo, mas, de última hora, foram preteridos.

O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (MG), por exemplo, teve o nome especulado para três ministérios diferentes e chegou a ser convidado para assumir Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mas, diante da necessidade de Lula de ampliar o espaço para partidos de centro, ficou sem nenhum.

No início da semana, ele foi ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo de transição, com uma pasta embaixo do braço, dizendo que tinha uma reunião para discutir o organograma do MDA.

"Fui convidado para assumir o MDA, mas como teve um novo arranjo de governabilidade, em que o União Brasil passa a ter três ministros e também o PSD, não foi possível", explicou Lopes, na quarta-feira.

Pelo desenho final, quem assumirá a pasta será o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que foi realocado após perder o Ministério das Comunicações, para onde era nome dado como certo. A pasta foi entregue na última hora ao União Brasil, que indicou o deputado Juscelino Filho (União-MA) para o posto.
 

Ao deixar Lopes de mãos abanando, Lula acabou por não contemplar no primeiro escalão ninguém do PT de Minas Gerais, estado considarado decisivo para a sua eleição.

Outro nome que era tido como certo na Esplanada era o do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), que ficaria com a pasta da Integração Nacional. Aliado de primeira hora do presidente da Câmara, Arthur Lira, e relator da "PEC da Transição", ele havia sido indicado pela bancada do União na Câmara.

O parlamentar, no entanto, acabou sendo vetado pelo PT da Bahia, que tem forte influência no governo Lula por meio do futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa (BA), e do futuro líder do PT no Senado, Jaques Wagner (BA). Elmar Nascimento sempre foi visto com um opositor ferrenho do PT no estado, além de ter chamado Lula de "ex-presidiário" e articulado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Diretórios do PT baiano chegaram a fazer um manifesto contra ele, elencando as razões pelas quais não deveria virar ministro no governo Lula. A reação prosperou, e o indicado para a Integração Nacional acabou sendo o governador do Amapá, Waldez Góes, que entrou pela cota do União Brasil, mas é filiado ao PDT. Pesou a favor dele o apoio do senador David Alcolumbre (União-AP).

Líder do União na Câmara, Elmar não gostou de ter a nomeação barrada, e disse que a partir de agora votará contra o PT no Congresso:

"O que for ruim para o Brasil e bom para o PT, a gente vota contra. A posição do partido é de independência. As indicações não são partidárias, são convites pessoais do presidente Lula. Não há indicação de executiva, de filiados. As votações, na Câmara e no Senado, vão mostrar a independência", disse ele.

Outro aliado que foi preterido na montagem do ministério foi o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos coordenadores da campanha de Lula. No início da transição, ele chegou a ter o nome cotado para as pastas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Lula, no entanto, preferiu mantê-lo no Senado e anunciou ontem que será líder do governo no Congresso Nacional.

"Não é diferente do trabalho que fizemos até agora. Quem passou os últimos quatro anos combatendo o fascismo saberá reconstruir o Brasil nos próximos", disse Randolfe ao ser questionado se havia ficado satisfeito com o posto que assumirá.

Além de ficar de fora do primeiro escalão de Lula, o senador ainda viu um rival político ascender ao comando da Integração Nacional, uma das pastas mais cobiçadas pelo Centrão. O ministro será o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), a quem ele já chamou de "vergonha", numa indicação costurada pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), outro adversário no estado.

"Sendo o segundo menor estado em população, o Amapá ter postos importantes no governo é motivo de aplausos e júbilo. Eventuais diferenças políticas estão bem abaixo de quaisquer interesses que temos", afirmou Randolfe.

Braço-direito de Paes
Outro que ficou de fora dos Esplanada foi o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que ficaria com a pasta do Turismo. Ele era o nome indicado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), como forma de retribuir o apoio à eleição de Lula no segundo turno. No entanto, adversários buscaram minar a indicação, relembrando o episódio em que Pedro Paulo foi acusado de agredir a ex-mulher. Na época, ele negou ter agido com violência e o inquérito que apurou o caso foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal em 2016.

No fim, o PSD ficou com três ministérios: dois indicados pelo Senado. Alexandre Silveira (PSD-MG) em Minas e Energia, e Carlos Favaro (PSD-MT) na Agricultura. Da Câmara, o indicado foi o deputado André de Paula para a pasta da Pesca, que será recriada por Lula.

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