Escândalo do dinheiro na cueca abre espaço para avanço do centrão no Senado
O nome mais cotado para ocupar a vaga após a licença de Rodrigues, que foi flagrado com dinheiro na cueca e entre as nádegas, é de Kátia Abreu
A lacuna deixada pelo afastamento de Chico Rodrigues (DEM-RR) da vice-liderança do governo no Congresso abriu um espaço que pode ser ocupado pelo centrão. O nome mais cotado para ocupar a vaga após a licença de Rodrigues, que foi flagrado com dinheiro na cueca e entre as nádegas, é de Kátia Abreu (PP-TO).
A facilidade com que a senadora circula entre parlamentares da oposição e da situação é colocado como ponto principal para que o nome da parlamentar suba na bolsa de apostas dos parlamentares. "Eu acho a Kátia joia, uma senadora correta, muito ativa, que toca para frente. Seria um ganho ao governo se definisse pelo nome dela", defende o líder do PL na Casa, Jorge Mello (SC).
Mello, assim como Kátia Abreu, pertence a partidos que integram o centrão. Embora o bloco partidário seja pilar de sustentação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas articulações na Câmara dos Deputados, o grupo não tem conseguido deixar sua digital nas negociações no Senado.
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Kátia Abreu, por exemplo, costuma discutir projetos de interesses das suas bases políticas diretamente com os representantes do governo, sem interferência do partido. Mesmo diante da certa independência política, a senadora é vista como a chance de o bloco fortalecer suas bases no Senado, caso ela seja indicada pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga.
"Que ela é ativa, com capacidade de argumentação todo mundo sabe. Não seria nenhuma surpresa [ela ser escolhida]. Se você perguntasse há seis meses sobre o centrão, nem o centrão estava próximo do governo", disse o senador Esperidião Amin (PP-SC).
No Senado, o MDB domina os espaços de lideranças, com Eduardo Gomes (TO) no comando da base do Congresso e Fernando Bezerra (PE) no Senado. O PSDB chegou a ter um dos vice-líderes do governo, Izalci Lucas (DF), mas o senador se afastou do cargo para assumir a liderança do partido na Casa. Em seu lugar, o PP já emplacou outro representante: Elmano Férrer (PI), forte aliado do senador e presidente nacional da legenda, Ciro Nogueira.
Se Kátia Abreu for indicada, ela fortalece ainda mais o partido. Izalci Lucas, que deixou a vaga, é mais um dos que defende a indicação da senadora. "É lógico que ela é competente para o cargo. Eu acho que ela é muito boa, capaz e experiente, tem um poder de convencimento forte e seria a melhor escolha", disse.
Para Jayme Campos (DEM-MT), embora a escolha do vice-líder seja diretamente do presidente da República, a crescente mobilização em torno do nome da senadora mostra que ela tem a respeitabilidade necessária para o cargo.
"É um nome extraordinariamente bem aceito, se dá bem com todo mundo. Ela tem todos os componentes para ser uma grande líder. Seria um ganho para o governo". A flexibilidade política da senadora refletiu, nesta semana, na votação do desembargador Kassio Nunes, aprovado pelo Senado para ocupar uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). Kassio foi o primeiro indicado do presidente Jair Bolsonaro para a corte.
Durante o período de busca de votos pela aprovação, Katia Abreu reuniu senadores em um jantar em sua casa com a presença de Kassio, em uma espécie de sabatina prévia. Estiveram na casa da parlamentar o líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), o líder do PL no Senado, Jorge Mello (SC), o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP.
O PP é o quinto partido da carreira política da senadora, que antes foi filiada ao DEM, PSD, MDB e PDT. Já no MDB, Kátia Abreu assumiu o Ministério da Agricultura no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT). A senadora se tornou uma das amigas mais próximas da petista e uma de suas principais defensoras durante o processo de impeachment. Quando o MDB do então vice Michel Temer desembarcou do governo, ela se recusou a deixar o ministério.
Acabou sendo expulsa do partido em 2017, por suas críticas à sigla e ao governo Temer. Fortemente ligada às pautas econômicas, Kátia Abreu tem se transformado em uma espécie de porta voz das negociações que envolvem a equipe econômica do governo e o Congresso. Entre os colegas, é conhecida como a Mãe do Pronampe, o programa nacional de apoio à micro e pequenas empresas.
Recentemente, coube à senadora levar a proposta para que seja realizado um escalonamento no valor pago pelo governo ao Renda Cidadã, programa o qual o governo ainda busca recursos para conseguir implementar. A ideia apresentada ao ministro Paulo Guedes (Economia) trata de um pagamento de R$ 200 em 2021, valor intermediário de R$ 250, em 2022, e o benefício máximo, que chegaria a R$ 300, em 2023.
O último montante já estaria previsto no Orçamento do primeiro ano do próximo governo. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem dito a aliados que quer um benefício perto de R$ 300, o valor pago hoje no auxílio emergencial.
A congressista já conversou sobre o assunto também com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Na análise da senadora, o escalonamento no valor pago seria a fórmula necessária para o governo não estourar o teto de gastos e contemplar as famílias previstas. O teto limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior. Em outra frente, Kátia Abreu negocia tramitação do projeto de autonomia do BC (Banco Central). A intenção é acalmar o mercado financeiro em meio à grave crise da Covid-19.
A proposta prevê alteração nas regras para a demissão de presidente e diretores. Quando a dispensa for ordenada pelo presidente da República, ela precisará do aval do Senado, em votação secreta. "Durante todo o período da pandemia, votamos em uma velocidade enorme tudo o que era de gasto, tudo o que era de despesa para os Governadores, para a saúde, para a micro e pequena empresa; era uma agilidade tremenda. Agora, por que temos tanta dificuldade em votar as questões da macroeconomia, da política monetária?", disse.