Eventual candidatura de Mourão no Rio ameaça dividir base de Cláudio Castro
Mesmo sem confirmação oficial, o general faz afirmações de interesse em concorrer ao governo do estado do Rio ou à vaga ao Senado
Para cacifar uma eventual candidatura no Rio, o vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão (PRTB), ameaça dividir a base do governador do estado, Cláudio Castro (PL), e disputar o espaço de candidato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Hoje, a alcunha ainda se mantém com o atual ocupante do Palácio Guanabara, que tenta atrair para si o apoio de eleitores bolsonaristas. No entanto, partidos aliados de Castro avaliam desembarcar de seu palanque caso vejam no general um nome mais viável ao cargo.
Na última semana, o vice se reuniu com o comando de seu partido, hoje presidido por Aldinéa Fidelix, para discutir sua estratégia para o estado. Ainda que não tenha confirmado publicamente o seu interesse de ser candidato no Rio, Mourão afirmou ao presidente do PRTB fluminense, Antonio Carlos dos Santos, sua intenção de concorrer ao governo do estado ou à vaga ao Senado, segundo noticiou o colunista Lauro Jardim. A articulação para isso ficará a cargo de Antonio Carlos, que já começou a conversar com parlamentares fluminenses.
Internamente, o partido avalia que há mais chances de o general concorrer ao Palácio Guanabara. Mourão, porém, tem desconversado sobre o caso. À jornalistas na porta do Planalto, o vice-presidente disse que ainda não decidiu o que fará em 2022.
— Quando eu decidir, eu vou comunicar e não serão terceiros que o farão, né? Não tem nada decidido ainda. Se eu decidir que vou seguir na carreira política, vou informar e vou informar qual será o cargo que eu pretendo concorrer — afirmou.
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Pesquisas recentes mostram que a entrada de Mourão na disputa ao governo mexe o cenário atual, que, além de Castro, já têm como pré-candidatos o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves e o presidente da OAB Nacional, Felipe Santa Cruz, que vai se filiar ao PSD. De acordo com a sondagem feita pela Quaest, feita no mês passado a pedido do Globo, o general fica em segundo lugar na intenção de votos, atrás apenas do líder da minoria na Câmara. Ele aparece com cinco pontos à frente do governador.
Mourão tem uma conversa marcada com o presidente do PSL no Rio, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, que firmou recentemente seu apoio à reeleição de Castro. O alcaide deve assumir o comando estadual do União Brasil, partido fruto da fusão entre PSL e DEM e que terá acesso a um invejável tempo de TV e fundos partidário e eleitoral milionários.
Embora tenha declarado o endosso a Castro, insatisfações com promessas ainda não cumpridas pelo governador podem fazer com que o prefeito deixe a aliança com o governador e migre para um palanque mais favorável na disputa. Na semana passada, Waguinho se reuniu com Washington Quaquá, vice-presidente nacional do PT, e Joãozinho, presidente estadual da legenda.
Outro aceno que Mourão recebeu de partidos aliados de Castro veio da esfera nacional. O general foi convidado recentemente a se filiar ao PP, do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Antonio Carlos afirma que a decisão de concorrer ao Palácio Guanabara ou à vaga do Senado é de Mourão, mas o presidente do PRTB fluminense vê como forte uma eventual candidatura do vice ao governo do estado.
— Para o governo do estado, o jogo está aberto. Esse jogo não está fechado, e a gente veio para mexer nesse cenário. E para entrar nesse jogo, eu entro para vencer — diz Antonio Carlos.
Mesmo que decida concorrer ao Senado, há uma avaliação entre políticos do Rio de que dificilmente o general faria uma composição com Castro.
Segundo o presidente do PRTB do Rio, uma das estratégias é se aproximar de políticos com nomes menos expressivos:
— Já venho conversando com pessoas fantásticas que não são políticos de experiência larga ou medalhões, mas que são pessoas completamente comprometidas e disciplinadas e que vão aceitar essa missão nossa.
Embora uma candidatura de Mourão tente atrair eleitores de Bolsonaro, políticos aliados do presidente avaliam que o vice terá dificuldade de fazer essa transferência de votos.
— Um general que apoia o aborto não terá o apoio do evangélicos e católicos praticantes. Mesmo que ele seja general — afirma o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos principais representantes da bancada evangélica.
No ano passado, Mourão disse em entrevista à BBC que o aborto “é mais que necessário, é recomendado". A declaração foi feita ao comentar sobre o caso da criança de 10 anos que ficou grávida após ser estuprada pelo tio.
O parlamentar também aponta que Castro deve manter o apoio de bolsonaristas, principalmente se Bolsonaro seguir para o PL, partido em que o governador se filiado este ano.