Marielle Franco

Ex-bombeiro usa fama de matador de Ronne Lessa para manter pontos de gatonet, aponta investigação

Ex-PM assumiu negócio ao lado de Maxwell Simões, o Suel, em 2018

Ronnie Lessa e Maxwell Simões Correa Ronnie Lessa e Maxwell Simões Correa  - Foto: Reprodução

As investigações sobre o esquema de exploração de gatonet no bairro de Rocha Miranda — da qual o ex-bombeiro Maxwell Simões, o Suel, é apontado como chefe — revelam como o negócio, pautado em ameaças, era mantido na região. Segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), Suel se aliou a Ronnie Lessa, preso acusado de matar a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, para desfrutar da fama de matador profissional do ex-PM e conseguir manter o controle dos pontos de internet clandestina no bairro, que eram disputados com traficantes da região. Lessa é conhecido na região desde os anos 90, quando trabalhou no 9º BPM (Rocha Miranda).

A denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPRJ, aponta que Suel prevalecia-se da reputação de Lessa — de pessoa perigosa — de forma que fosse temido. O negócio conjunto começou em 2018, apesar de Suel já explorar a atividade desde 2008, conforme aponta a Polícia Federal. Segundo uma troca de mensagens extraída do celular de Lessa, de setembro de 2018, um traficante da região exigia pagamentos para manter a internet clandestina na localidade que Suel dominava:

“Eu quero o tanto que vocês estão dando agora, só por causa do abuso dele. Se ele não der, eu vou mandar arrebentar… Eu vou mandar tirar as ‘gatonet’ dele toda, eu vou colocar um da sintonia nossa, irmão”, disse o traficante, num áudio encaminhado por Suel a Lessa.

Logo após, Suel alertou Lessa: “Se a gente não conseguir falar com o cara, vai perder lá no alto”. O ex-bombeiro ainda enviou um número de celular e pediu para que Lessa fizesse contato, “senão hoje o maluco vai lá arrumar caô”. O PM, então, respondeu: “Vou chamar ele aqui”.

Segundo a PF, Suel — que morou por muitos anos em Rocha Miranda e até hoje tem parentes que vivem no bairro — começou a explorar a atividade na região quando abriu a empresa Flash Net Prestadora de Serviços de Comunicação e Multimídia, em 2008. A empresa só funcionou até 2018, mas Suel seguiu com a exploração mesmo após o fechamento da firma, segundo contou o ex-PM Élcio de Queiroz, em delação premiada sobre o caso Marielle.

“O gatonet era com o Maxwell na área de Rocha Miranda. No caso do Ronnie, era mais para dentro da comunidade do Jorge Turco (no bairro do Colégio). A maior parte é do Maxwell, só uma parte que era do Ronnie”, disse Queiroz.

O monopólio do negócio na região era garantido por meio de ameaças: “Maxwell está impedindo moradores de instalarem seus serviços de internet, para que os mesmos solicitem os serviços da milícia. Os moradores têm fios de internet cortados e são ameaçados”, relata denúncia de 2019 citada no relatório da PF sobre a morte da vereadora.

Novos mandados de prisão
Maxwell Simões Corrêa Júnior, filho do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, teve o mandado de prisão expedido pela Justiça pela exploração de gatonet no bairro de Rocha Miranda, Zona Norte do Rio. Suel foi preso há duas semanas, acusado de participar da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio, Maxwell Júnior é responsável pelo repasse de ordens a subordinados no esquema e centraliza o recebimento do dinheiro recebido das vítimas.

Além de seu filho, Suel e Ronnie Lessa — ambos presos pelo homicídio da vereadora e de seu motorista — tiveram novos mandados de prisão expedidos pelo negócio ilegal na região. Os dois eram apontados como sócios no esquema de exploração do serviço e são réus por organização criminosa e lavagem de dinheiro.

A ação deflagrada pelo Ministério Público do Rio e pela Polícia Federal na sexta-feira visava ao cumprimento de sete mandados de busca e apreensão, além de mandados de prisão. Maxwell Simões Corrêa Júnior já é considerado foragido da Justiça. O policial militar Sandro dos Santos também tive mandado de prisão expedido e não foi encontrado. Wellington de Oliveira Rodrigues, o Manguaça, foi o único preso na operação.

Mudança no negócio
A estrutura do esquema foi alterada com o avanço das investigações nos homicídios de Marielle e Anderson. Com as suspeitas de envolvimento de Lessa e Suel no crime, os dois alteraram a estrutura do negócio e passaram a ter intermediadores.

Com isso, Maxwell Júnior assumiu a função de administrador da empresa, assim como Manguaça passou a atuar como gerente dos serviços de exploração de televisão e internet. Ele passou também a ser responsável pelo recolhimento de pagamentos após a morte de Jorge Vicente da Silva Neto, conhecido como Jorginho, assim como o filho de Suel.

Com o avanço das investigações, o sargento da policial militar Sandro dos Santos Franco, que é lotado na UPP Formiga, que era o responsável técnico do esquema, arrendou o gatonet de Suel e Lessa e passou a explorá-lo por meio da empresa TECSAT.

Operação contra exploração de gatonet
A ação ocorreu nos bairros de Lins de Vasconcelos, Rocha Miranda e Méier, na Zona Norte do Rio. Segundo a investigação, Suel teria arrendado seus pontos de gatonet quando foi preso pela primeira vez, em 2020. A PF teve como alvos endereços de pessoas que teriam envolvimento nesse esquema.

Um dos mandados de prisão preventiva que os agentes tentaram cumprir foi na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Morro da Formiga, no bairro da Tijuca, também na Zona Norte, contra um policial militar. Os agentes da PF tiveram o apoio da Corregedoria da corporação, por meio da 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (1ª DPJM). De acordo com a 1ª DPJM, foram realizadas buscas pelo militar também na casa dele. A PM afirmou, em nota, que “colabora com as investigações e não compactua com desvios de conduta praticados por seus integrantes”.

A esposa do ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, Aline Siqueira de Oliveira, de 41 anos, também foi alvo. Contra ela foi cumprido um mandado de busca e apreensão. Ao saber da ação, Aline foi para a Superintendência da PF, na Praça Mauá, região central da capital, acompanhada de sua advogada.

Lucro de R$ 31 mil em um mês
Segundo as investigações, após o afastamento de Suel e Lessa — réus no processo por organização criminosa e lavagem de dinheiro —, o sargento da policial militar Sandro dos Santos passou a atender em todo o bairro de Rocha Miranda com sua própria firma, após arrendar o esquema, e cobrava o valor de R$ 70 para instalação do serviço e mensalidade.

Anotações apreendidas pela Polícia Federal na Operação Lume apontam que a atividade de exploração de pontos de internet clandestina no bairro teve um lucro R$ 31 mil em apenas um mês. Além disso, o nome de Wellington de Oliveira Rodrigues, o Manguaça, também é apontado no documento obtido pela investigação.

Alvos da ação
Dentre os alvos da operação estão Suel e Ronnie Lessa, além de Maxwell Júnior — filho de Suel —, Welington de Oliveira Rodrigues, o Manguaça, o policial militar Sandro dos Santos Franco e Aline Siqueira de Oliveira — esposa de Suel.

De acordo com a denúncia, Suel e Aline também teriam usado um carro Land Rover Discovery Sport, no valor de R$ 213 mil, para lavar dinheiro proveniente da exploração do serviço ilegal. A Justiça pediu o sequestro do veículo, além do bloqueio das contas dos dois. Aline foi a única dos seis acusados de envolvimento no esquema que não teve prisão decretada, sendo aplicadas medidas cautelares.

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