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Ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem foi delegado da PF e se elegeu deputado com apoio de Bolsonaro

Hoje parlamentar, ex-coordenador da segurança presidencial esteve à frente da agência de inteligência no período em que o governo operou um sistema secreto de monitoramento

Alexandre Ramagem chegou ao comando da Abin com o apoio de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em julho de 2019Alexandre Ramagem chegou ao comando da Abin com o apoio de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em julho de 2019 - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

À frente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o órgão operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional, Alexandre Ramagem (PL) tem um amplo histórico com a família Bolsonaro. A proximidade começou em 2018, quando o delegado da Polícia Federal (PF) foi convidado para liderar a segurança do então candidato à Presidência após a facada em Juiz de Fora (PL). Enquanto diretor da Abin, em várias ocasiões, Ramagem foi acusado de usar a estrutura da agência para atender a interesses do ex-presidente. No ano passado, com a benção do clã, foi eleito deputado federal com 59 mil votos.

Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 2000, Alexandre Ramagem é delegado da Polícia Federal desde 2005. Na PF, foi responsável pelas Divisões de Administração de Recursos Humanos (2013 e 2014) e de Estudos, Legislações e Pareceres (2016 e 2017).Também fez parte da equipe de investigação da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro em 2017.

Após a facada de 2018, Ramagem chegou ao comando da Abin com o apoio de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), em julho de 2019. Com a eleição de Bolsonaro, o então chefe da segurança foi convidado a trabalhar no Palácio do Planalto e, durante todo o mandato, teve passe livre na residência presidencial.

Em 2020, Bolsonaro chegou a nomear Ramagem como diretor-geral da PF. A posse, no entanto, foi barrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob suspeita de interferência do presidente na corporação. As acusações foram feitas, à época, pelo ex-ministro Sérgio Moro, que se elegeu senador no palanque de Bolsonaro. Rolando de Souza assumiu a posição sob indicação do ex-diretor da Abin.

Foi neste período que Ramagem começou a investir nas suas redes sociais, e fazer publicações mirando as eleições de 2022. Carlos Bolsonaro chegou a gravar vídeos pedindo votos para o aliado, que terminou eleito para a Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro. Ramagem dizia ser o candidato do "02" para a Casa.

"Eu, por estar envolvido com aquilo tudo, fiz parte de toda aquela preocupação, de toda a sua atuação perante a segurança envolvendo o então eleito presidente da República", disse Carlos.

Relatório para clã Bolsonaro

Antes da denúncia desta terça-feira, Ramagem foi alvo de acusações por suspeita de favorecer os interesses do clã Bolsonaro. Em 2020, a revista Época revelou que a Abin teria produzido ao menos dois relatórios de orientação para o senador Flávio Bolsonaro e seus advogados no pedido de anulação da investigação do escândalo das rachadinhas. A autenticidade e procedência foram confirmadas pela defesa do senador.

No ano passado, O Globo mostrou que um agente disse à PF que recebeu missão extraoficial para levantar informações de negócios envolvendo Jair Renan, o filho mais novo do presidente. Flagrado numa operação, o agente admitiu em depoimento que recebeu a missão de levantar informações de um episódio relacionado ao "04", sob apuração de um inquérito da PF. Segundo o espião, o objetivo era prevenir "riscos à imagem" do chefe do Poder Executivo.

Programa secreto de Bolsonaro

Durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional, segundo documentos obtidos pelo GLOBO e relatos de servidores. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho.

A prática suscitou questionamentos entre os próprios integrantes do órgão, pois a agência não possui autorização legal para acessar dados privados. O caso motivou a abertura de investigação interna e, para especialistas, a vigilância pode ainda violar o direito à privacidade. Procurada, a Abin disse que o sigilo contratual a impede de comentar.

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