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Depoimento

Ex-chefe da PRF passa mal ao depor à PF, nega crimes e diz que nunca viu mapa de eleitores de Lula

Silvinei Vasques precisou ser atendido por médicos da Polícia Federal nesta tarde; suspeito de ter tentado interferir nas eleições, ele voltou a negar irregularidades

Silvinei Vasques, ex-diretor geral da PRFSilvinei Vasques, ex-diretor geral da PRF - Foto: Evaristo Sa/ AFP

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso nesta quarta-feira (9), teve dois picos de pressão alta ao depor à Polícia Federal na tarde desta quinta (10). O depoimento começou pouco depois das 14h e terminou por volta das 19h.

Vasques se sentiu mal no início e no meio da oitiva e precisou ser atendido por médicos da PF. Ele é suspeito de ter usado a PRF para fins políticos no segundo turno da eleição do ano passado.

Vasques negou qualquer irregularidade na atuação da corporação no segundo turno, quando, de acordo com as investigações da PF, houve uma desproporcionalidade nas abordagens a veículos no Nordeste, principal reduto eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

A suspeita é que os bloqueios em estradas tenham tentado impedir o deslocamento de eleitores do petista, favorecendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que tentava a reeleição.

Questionado sobre um mapa encontrado no celular de uma ex-servidora do Ministério da Justiça que mostrava as localidades onde Lula havia tido mais de 75% dos votos no primeiro turno, Vasques disse aos investigadores que nunca viu o documento e não o utilizou para planejar as blitze.

A PRF é vinculada ao Ministério da Justiça, à época comandado por Anderson Torres, que mais cedo foi ouvido na CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal e também negou ter cometido crimes.

No pedido de prisão feito ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF listou uma série de elementos que indicam que Vasques tentou interferir nas eleições, como mensagens de WhatsApp trocadas entre membros da PRF na época do pleito.

Em 29 de outubro de 2022, o então coordenador de Análise de Inteligência da corporação, Adiel Alcântara, escreveu a um subordinado que o então diretor-geral pediu, durante uma reunião, um “policiamento direcionado” na data do segundo turno.

Além disso, segundo a PF, o número de policiais rodoviários federais destacados para atuar nas rodovias em 30 de outubro de 2022, incluindo os que estariam de folga, foi muito maior no Nordeste do que nas outras partes do país.

Foram escalados 795 policiais rodoviários federais para atuar naquela região, onde Lula havia aberto ampla vantagem sobre Bolsonaro no primeiro turno, contra 528 no Sudeste, 418 no Sul, 381 no Centro-Oeste e 230 no Norte. Em seu depoimento nesta tarde, Vasques negou que tenha havido direcionamento.

Depoimentos 'combinados'
Nesta quarta, além de prender Vasques com autorização de Moraes, a Polícia Federal ouviu 47 membros da PRF que participaram de uma reunião de cúpula, antes do segundo turno, na qual o então diretor-geral teria pedido o "policiamento direcionado" para regiões de predomínio de eleitores de Lula.

Os policiais rodoviários federais foram interrogados ao mesmo tempo por diferentes delegados da PF. Segundo relatos, no entanto, parte dos delegados teve a percepção de que houve uma combinação de versões, com trechos muito parecidos nos diferentes relatos.

Um dos argumentos para a PF pedir a prisão de Vasques foi a possibilidade de que ele pudesse interferir nas investigações por ainda manter certa ascendência sobre os colegas. Para a PF, "ainda que aposentado, é muito provável que haja uma reverência de tais Policiais Rodoviários Federais àquele Diretor-Geral que os indicou para as respectivas funções".

Vasques se aposentou no final de 2022, poucos dias antes de o governo de Jair Bolsonaro (PL) acabar. Nesta quinta, o Ministério Público junto Tribunal de Contas da União (TCU) pediu a anulação da concessão da aposentadoria e a devolução dos valores já recebidos, sob o argumento de que ele responde a processos administrativos e judiciais que, em tese, poderiam levá-lo à perda do cargo, caso ainda estivesse na ativa.

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