Ex-comandante da FAB questionou ministro de Bolsonaro se minuta impediria a ''assunção'' de Lula
Documento foi apresentado pelo general Paulo Sérgio Nogueira aos comandantes das Forças. Baptista Júnior disse à PF que se negou a receber o documento
O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior afirmou em depoimento à Polícia Federal que, em dezembro de 2022, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apresentou a ele e aos outros dois comandantes das Forças uma minuta que previa um golpe de Estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.
Baptista Junior conta que, na ocasião, entendeu que havia uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito.
O tenente brigadeiro contou que, quando Nogueira apresentou a minuta, perguntou: "Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?", ocasião em que o general ficou calado.
“Que o depoente entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; que, diante disso, o depoente disse ao Ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento”, informa o depoimento à PF.
Segundo Baptista Junior, na ocasião ele afirmou ainda que a Força Aérea Brasileira (FAB) não admitiria a hipótese de golpe de Estado, e que o general Freire Gomes, então comandante do Exército, “expressou que também não concordaria com a possibilidade de analisar o conteúdo da minuta”.
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O ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, por sua vez, “não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da minuta’, contou Baptista Junior. Em seguida, o tenente brigadeiro saiu da sala.
Antes deste encontro, Bolsonaro já havia apresentado a minuta em reunião com os comandantes no Palácio da Alvorada.
Freire Gomes também falou à PF sobre esta reunião. Segundo ele, o documento mantinha a previsão de decretar o estado de defesa no país e instituía a criação da Comissão de Regularidade Eleitoral para “apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral”.
O depoimento dos ex-comandantes corrobora com as informações que já haviam sido levadas à PF pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fechou um acordo de delação premiada.
Cid contou sobre uma reunião entre Bolsonaro e os então comandantes da Aeronáutica, Baptista Júnior, da Marinha, almirante Almir Garnier, e do Exército, na qual a minuta golpista foi apresentada. O encontro, segundo depoimento, foi realizado em dezembro de 2022, com a presença do ex-assessor internacional da presidência Filipe Martins, apontado como a figura que explicou as minúcias do decreto aos comandantes das Forças.