Ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio atuou para pressionar adesão de comandantes ao plano de golpe
Relatório afirma que a abolição do Estado Democrático de Direito não ocorreu porque não teve a adesão do comandantes do Exército e da Aeronáutica
A Polícia Federal afirma no relatório da investigação que apura a existência de uma trama para o estabelecimento de um golpe de Estado no país que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira – que esteve à frente da pasta durante o governo de Jair Bolsonaro – agiu para pressionar os comandantes das Forças Armadas ao plano.
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De acordo com os investigadores, a PF diz que diligências realizadas com base na doutrina que rege a colaboração premiada evidenciam que o então ministro da Defesa – dentro da divisão de tarefas ajustadas na trama – "atuou de forma concreta para tentar pressionar os então Comandantes das Forças Armadas a aderirem ao plano de golpe de Estado".
Segundo a PF, o objetivo dessa pressão era garantir o "suporte armado para as medidas de exceção que seriam adotadas pelo então presidente Jair Bolsonaro".
Depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas presentes no relatório ressaltam o que está sendo descrito pela PF.
No depoimento prestado à Polícia Federal em março deste ano, o ex-comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Baptista Junior confirmou que foi convocado por Paulo Sérgio Nogueira para uma reunião no Ministério da Defesa no dia 14 de dezembro de 2022 ao lado dos outros comandantes para a apresentação da minuta.
A PF afirma que Baptista Junior descreveu a dinâmica dos fatos, após o então Ministro da Defesa Paulo Sérgio apresentar o Decreto.
"O depoente disse que fez o seguinte questionamento ao Ministro “Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?”. Baptista Junior afirmou que, após sua indagação, PAULO SÉRGIO ficou calado, e diante disso entendeu que que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito. Em seguida, o depoente relatou que disse ao Ministro da Defesa que não admitiria sequer receber o documento e que a Aeronáutica não admitiria um golpe de Estado. Em seguida, retirou-se da sala", diz a PF.
As informações constam em um documento de 884 páginas enviado pela PF ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que o encaminhou nesta terça-feira à Procuradoria-Geral da República (PGR). O relatório pede o indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro.