CPI do MST

Ex-MST convocada por opositores é liberada antes que governistas fizessem perguntas

Deputados da base aliada pediram a anulação da sessão desta terça-feira da comissão

Ex-integrante do MST, Nelcilene Reis, depõe na CPI Ex-integrante do MST, Nelcilene Reis, depõe na CPI  - Foto: MyKe Sena/Câmara dos Deputados

Deputados governistas pediram a anulação da sessão desta terça-feira (30) da CPI do MST. O motivo da solicitação foi a presença de Nelcilene Reis, ex-integrante do MST que participou do encontro do colegiado.

Entretanto, embora tenha sido convidada, Nelcilene se portou como testemunha e foi questionada pelos deputados oposicionistas como se estivesse em um depoimento.

Quando foi a vez de os governistas fazerem perguntas à ex-ativista, ela foi liberada pela presidência da CPI — o que gerou revolta dos governistas.

Sem prestar juramento ou apresentar provas, Nelcilene fez acusações contra lideranças do MST e disse ter visto práticas análogas ao trabalho escravo e extorsão. Ela também afirmou que era tratada como "massa de manobra".

— Quem senta aqui para falar na CPI tem que estar sob juramento de falar a verdade sob pena de cometer crime ao imputar aos outros crimes que estão sendo imputados aqui. A depoente por várias vezes imputou crimes como tortura, violência, perseguição e foi seguida por outros parlamentares que, na mesma toada, fizeram isso. Quero que o senhor presidente desta CPI decida essa questão de ordem ou tornando nula essa sessão, esse depoimento, ou então que a convidada se transforme em testemunha e tudo o que ela disse aqui tem que ter a responsabilização. Precisa trazer provas — afirmou a presidente do PT e membro da CPI do MST, a deputada Gleisi Hoffmann.

O pedido dela foi negado pelo presidente da CPI, Coronel Zucco (PL-RS). Assim que terminaram as perguntas feitas por opositores, a convidada foi liberada pela presidência da CPI, o que provocou protestos de governistas.

Crise entre governo e MST
Deputados do PT ligados ao MST cobraram uma atuação mais firme do governo na CPI instalada na Câmara para investigar supostas irregularidades no movimento. O recado foi passado em reunião com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, na manhã desta terça-feira.

Os parlamentares presentes alegaram que, embora os fatos levantados pela oposição na comissão sejam antigos, eles podem desgastar a imagem do governo federal. A avaliação entre os deputados é que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo "corpo mole" em relação à CPI.

Eles pedem a abertura de diálogo com líderes partidários para não deixar o MST "exposto". Aliados do governo nos embates com bolsonaristas, no âmbito do colegiado, parlamentares do PSOL também se queixam de ainda não terem sido convidados para uma reunião de alinhamento estratégico com o alto escalão do governo.

Tanto o presidente, o deputado tenente-coronel Zucco (Republicanos-RS), quanto o relator, Ricardo Salles (PL-SP), estão alinhados com o bolsonarismo. De acordo com um deputado que esteve na reunião com Padilha, a comissão deve criar narrativas para atacar o PT e criminalizar o movimento.

Apesar de manter uma relação histórica com o PT e com o presidente Lula, o MST foi alvo de críticas de integrantes do governo no mês passado por ter promovido uma série de invasões pelo país. Até uma área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Pernambuco chegou a ser ocupada.

O movimento, por sua vez, se queixava da gestão federal pela demora tanto para promover trocas nos postos de comando do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) nos estados como para a apresentação de um plano de reforma agrária.

Em relação à CPI, o entendimento do MST é que o governo poderia ter agido para que a comissão fosse comandada por parlamentares não tão vinculados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Os deputados querem agora que a gestão Lula mobilize os partidos da base para tentar conter os danos.

– O governo vai atuar e teremos uma estratégia na CPI – disse o deputado Valmir Assunção (PT-BA).

Além de Assunção, também participaram da reunião com Padilha, entre outros, os deputados petistas João Daniel (SE), Nilto Tatto (SP), Dionilso Marcon (RS) e Camila Jara (MS).

Na última semana, já com a CPI em curso, membros do PT e PSOL se reuniram pela primeira vez com lideranças do MST e com interlocutores do governo. Apesar disto, os deputados presentes reclamaram do fato de não ter havido a presença de membros do primeiro escalão do governo e o reconhecimento à postura combativa que os psolistas vêm adotando desde o início dos trabalhos da comissão.

PSOL na linha de frente
Pressionado pelas primeiras derrotas sofridas na CPI do MST, colegiado dominado pela oposição, o governo montou uma estratégia que divide os seus representantes na comissão em diferentes núcleos de atuação: enfrentamento direto com a direita, elaboração de requerimentos e construção de um canal de diálogo com o relator, o deputado Ricardo Salles, integrante da bancada ruralista e ex-ministro de Jair Bolsonaro.

A necessidade de um plano ficou evidente quando foram aprovados convites para que dois ministros de Lula, Carlos Fávaro (Agricultura) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), prestem esclarecimentos à CPI.

A oposição também derrotou pedidos apresentados por governistas, que pretendiam colher informações sobre recursos públicos destinados ao agronegócio e sobre anistias a infrações e multas ambientais.

A ausência de estratégia já provocou contratempos ao Planalto em outra comissão: integrantes da base já desistiram de participar da CPI dos Ataques Golpistas em função da falta de coordenação.

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