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BRASIL

Ex-sócio de Gilmar que enquadrou Bolsonaro x pianista crítico da Lava-Jato: os favoritos à PGR

Após quatro anos no posto, Augusto Aras está deixando o comando do Ministério Público Federal (MPF) nesta terça-feira

O presidente Lula em evento no Palácio do Planalto O presidente Lula em evento no Palácio do Planalto  - Foto: Evaristo Sá/AFP

Escolhido pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2019, e reconduzido ao cargo dois anos depois, Augusto Aras baterá ponto pela última vez como chefe do órgão nesta terça-feira (26).

A saída de Aras levou a uma corrida pela sucessão, com diversos nomes tentando se cacifar ao posto na reta final da gestão. Embora um terceiro nome não esteja totalmente descartado, a disputa pela preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem cabe a nomeação, afunilou entre dois postulantes.

Um deles é o vice-procurador-geral eleitoral Paulo Gustavo Gonet Branco, autor do parecer que pediu a condenação de Bolsonaro durante o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que resultou na inelegibilidade por oito anos do ex-chefe do Executivo. Seu principal adversário é Antônio Carlos Bigonha, conhecido como uma das principais vozes contrárias à Operação Lava-Jato — que chegou a levar Lula à prisão — entre seus pares.

Conheça, abaixo, os dois candidatos à PGR.

Paulo Gustavo Gonet Branco
Gonet já era um dos nomes mais ventilados para o posto pelo menos desde junho, quando Bolsonaro foi condenado. Em seu parecer, ele defendia que o ex-presidente deveria ser enquadrado nos crimes de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação em virtude da reunião com embaixadores na qual, ainda como presidente, fez ataques infundados às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral.

"O discurso atacou as instituições eleitorais, e ao tempo que dava motivo para indisposição do eleitorado com o candidato adversário, que seria o beneficiário dos esquemas espúrios imaginados, atraía adesão à sua posição de candidato acossado pelas engrenagens obscuras do tipo de política a que ele seria estranho", escreveu Gonet na ocasião.

Curiosamente, Gonet chegou a ser cotado para comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR) no período em que Aras acabou escolhido pelo próprio Bolsonaro pela primeira vez, em 2019. Ele chegou a se encontrar pessoalmente com o então chefe do Executivo, após ser levado ao Palácio do Planalto pela deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e pelo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Walton Alencar, que o apoiavam para o cargo.

 

Já um dos principais fiadores da escolha de Lula foi Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que trabalhou com afinco nos bastidores por Gonet. No passado, os dois foram sócios no Instituto de Direito Público (IDP), que pertence a Gilmar. Alexandre de Moraes, também ministro do STF, foi outro defensor do vencedor do páreo.

Antônio Carlos Bigonha
Crítico da Lava-Jato, chegou a pedir a palavra durante uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) para, em nome da Procuradoria-Geral da República (PGR), fazer um "pedido formal de desculpas" por declarações de integrantes da força-tarefa de Curitiba — pouco antes, o então procurador Deltan Dallagnol havia feito críticas públicas a uma decisão da Corte. Bigonha ingressou no MPF em 1992 e presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), de 2007 a 2011.

Ele é apoiado na disputa por grande parte do PT, tanto por deputados e senadores em exercício de mandato tidos como mais ideológicos, quanto por algumas das lideranças clássicas da sigla, como José Genoino e José Dirceu. Bigonha também é o preferido de importantes nomes do Direito brasileiro, como o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, ambos figuras próximas a Lula.

No MPF, Bigonha atuou em alguns casos de repercussão, como no escândalo dos "anões do orçamento", marcado pelo desvio de recursos federais por parte de um grupo de parlamentares na década de 90. O procurador foi autor da denúncia contra parte dos acusados.

Fora dos tribunais, Bigonha guarda um talento inesperado: é pianista profissional. Ele começou os estudos na área aos 7 anos e chegou a cursar a Escola de Música de Brasília, onde também adquiriu conhecimentos básicos de violino, flauta doce, canto coral e teoria musical. Em 2004, ele lançou seu primeiro CD, "Azulejando", integralmente autoral, com a participação de artistas de renome como Toninho Horta, Marina Machado, Chico Amaral e Juarez Moreira. Sempre ao piano, Bigonha protagonizou outros três álbuns: "Urubupeba" (2010), "Anathema" (2018) e "Saudades de amanhã" (2020) — um deles, inclusive, com arranjos e orquestrações de Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi.

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