Exército investiga coronel ex-assessor do GSI que defendeu golpe e ameaçou Flávio Dino
José Placídio também afirmou nas redes sociais que "centenas de militares da ativa" participaram dos atos terroristas em Brasília
O Exército investiga a conduta do coronel do Exército José Placídio Matias dos Santos, que usou as redes sociais para ofender e ameaçar o ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) e pedir um golpe de estado no dia dos atos terroristas que depredaram as sedes dos três poderes no Distrito Federal. Na reserva desde março de 2022, o militar ocupou durante cerca de três anos um cargo no Gabinete de Segurança Institucional, no governo Jair Bolsonaro (PL).
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Em nota, o Exército informou que "os fatos seguem em apuração pelas autoridades competentes". E acrescentou que "militares, sejam da ativa ou da reserva, estão sujeitos a todas as prescrições jurídicas previstas na legislação militar vigente".
Sob o comando do general Augusto Heleno entre 2019 e 2022, o GSI é um dos órgãos que integram a Presidência da República e sua função é assessorar o chefe do Executivo em temas militares e de segurança. Nele, o coronel Placídio ocupou um cargo de confiança de fevereiro de 2019 até março de 2022, como assessor chefe militar da Assessoria Especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos da Secretaria Executiva do GSI.
Entre agosto de 2021 e abril 2022, o militar atuou como representante Poder Executivo Federal no Conselho Nacional de Proteção de Dados e da Privacidade (CNPD), órgão consultivo ligado a Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Ele também fez parte da equipe técnica que redigiu o Plano Nacional de Política sobre Drogas, de 2022.
Formado em 2014 no Curso de Altos Estudos da Escola Superior Guerra, no Rio de Janeiro, o coronel Placídio fez como monografia de conclusão de curso um trabalho intitulado "Questão indígena na Amazônia: ameaças à soberania e à integridade territorial do Brasil". Nele, argumenta que a legislação brasileira e o texto constitucional ao tocar em temas relativos às populações indígenas "expõem o Brasil a riscos de intervenção em assuntos nacionais e perda de território".
No dia dos atos golpistas, o militar publicou uma mensagem no Twitter direcionada ao comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, na qual pedia a insubordinação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em outras, dirigiu-se às Forças Armadas como um todo:
A atuação de Placídio nas redes, no entanto, havia começado meses antes, em abril de 2022, quando a conta foi criada. Nessas primeiras postagens, ele critica a esquerda e interage com perfis da direita na rede social. Em outras, acusa Tite, então o treinador da seleção brasileira de futebol, de ser um comunista.
Nos últimos meses do ano, após a derrota de Bolsonaro nas eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o coronel começa a fazer publicações com dizeres como: #SOSMARINHADOBRASIL, #BOLSONAROUSEABIC, #GENERALFREIREGOMESSALVEOBRASIL. Esta última faz referência ao general Freire Gomes, que chegou a ocupar o cargo de comandante do Exército antes de Júlio César de Arruda e tomou posse após seu antecessor rejeitar alinhar-se politicamente a Bolsonaro e entregar o posto.
Placídio ainda publicou uma ameaça ao ministro da Justiça Flávio Dino, com um ataque homofóbico. Em outra, afirmou que militares da ativa estava presentes nos atos. Ele também chega a se referir ao governo eleito como ilegítimo:
Após os atos golpistas do dia 8, Placídio passou a atacar as medidas tomadas contra os envolvidos. Ele foi um dos que compartilhou a informação falsa, já desmentida pela Polícia Federal, de que um a idosa teria morrido no ginásio para onde foram enviados presos. Em outras postagens, compara a ação policial no dia dos ataques aos órgãos de repressão nazista, como a Gestapo.
Desde que as mensagens compartilhadas por Placídio vieram a público, ele deletou muitas das publicações.