Extrema-direita de Portugal se mobiliza contra visita de Lula ao país
Últimas declarações do presidente brasileiro sobre a guerra na Ucrânia desagradaram políticos lusitanos
Grupos de extrema-direita de Portugal estão organizando manifestações durante a passagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo país. O incômodo com a visita aumentou após as declarações do petista sobre a guerra da Ucrânia deste domingo (16), quando voltou a afirmar que a Ucrânia também é culpada pelo conflito com a Rússia.
— A construção da guerra será mais fácil que a saída da guerra. Porque a decisão da guerra foi tomada por dois países. E agora nós estamos tentando construir um grupo de países que não têm nenhum envolvimento com a guerra, que não querem a guerra, que desejam construir paz no mundo, para conversarmos tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia — declarou o presidente durante visita a Abu Dhabi, última escala da viagem que teve como destino principal a China.
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A visita de Lula a Portugal está prevista para acontecer entre os dias 22 e 25 de abril, quando o presidente participa da Cúpula Luso-Brasileira, reunião bilateral que acontece de dois em dois anos. Para o período, o partido de direita Chega está convocando pelas redes sociais uma manifestação contra Lula. André Ventura líder do partido radical, constantemente acusado de xenofobia, André Ventura promete manifestação de repúdio jamais vista no país.
O incômodo dos políticos lusitanos com a viagem começou assim que o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, anunciou que o brasileiro faria um discurso no Parlamento na sessão solene do 25 de Abril, data da Revolução dos Cravos.
Parte da extrema-direita no país se mostrou contrária à escolha de um chefe de Estado estrangeiro para falar de um evento que marca o êxito da democracia sobre a ditadura do Estado Novo, extinta em 1974.
O anúncio m desagradou parlamentares de outros partidos, já que ele foi feito sem a decisão ter sido tomada em conferência dos líderes partidários do Parlamento, como determina o regimento da Casa. Após as reclamações, foi necessário divulgar que Lula fará um discurso no Parlamento de Portugal no 25 de Abril, mas não na sessão principal. Ele será o primeiro chefe de Estado estrangeiro a discursar em sessão solene comemorativa da data em Portugal.
Chico Buarque
Além dos compromissos políticos, Lula também deve aproveitar a estadia em Portugal para prestigiar o amigo e apoiador Chico Buarque, que irá receber o prêmio Camões.
Criado em 1988 pelos governos brasileiro e português para destacar autores de língua portuguesa, o Prêmio Camões de Literatura tem o valor de 100 mil euros, divididos entre os dois países. Por conta do revezamento entre os países, a cerimônia de premiação a Chico deverá ser feita em Portugal.
Tradicionalmente, os presidentes das duas nações assinam o diploma, mas em 2019, quando foi anunciado que a honraria iria para o cantor e escritor, Jair Bolsonaro (PL) se recuou a assinar. Na época, o presidente afirmou que a assinatura do documento não estava entre suas prioridades. "Eu tenho prazo? Então 31 de dezembro de 2026, eu assino", afirmou, supondo a vitória em um segundo mandato.
A falta de assinatura de um dos presidentes não impede a entrega do prêmio — o artista, inclusive, já recebeu o valor de 100 mil euros a que tem direito. Após a fala do presidente, Chico respondeu através de sua conta no Instagram. "A não assinatura do Bolsonaro no diploma é para mim um segundo Prêmio Camões", escreveu.