Filho de brasileiros, George Santos é cassado pela Câmara dos Deputados dos EUA
Parlamentar, envolvido em uma série de escândalos, havia sobrevivido a duas tentativas anteriores de cassação
O deputado republicano George Santos, filho de brasileiros, foi cassado, nesta sexta-feira (1º), pelo plenário da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, em uma decisão que contou com o apoio de deputados do seu partido.
Santos havia resistido a duas tentativas anteriores de cassação, e anunciado que não concorreria a um novo mandato na eleição do ano que vem, mas até agora se recusava a renunciar. Foram 311 votos a favor da moção, 114 contra e dois deputados que estiveram no plenário mas não votaram.
Apesar das alegações de falsificação de currículo, de negócios excusos — inclusive no Brasil, onde ele fechou um acordo, em maio, em um caso de estelionato em NIterói (RJ) — e de recebimento indevido de seguro desemprego, Santos parecia imune às tentativas de cassação, em sua maioria lideradas pelo Partido Democrata. Pelas regras da Câmara, são necessários dois terços dos votos da Casa para que um deputado perca o mandato. Em novembro, quando ocorreu a segunda votação, apenas 179 parlamentares votaram pela expulsão, enquanto 213 foram contra.
— Ele deveria ter renunciado. Não deveríamos ter chegado a esse ponto. Mas está aí. Agora vamos permitir de fato que o terceiro distrito [de Nova York] escolha um deputado. Alguém em quem possam confiar. Alguém que conheçam — disse ao Politico o deputado republicano Anthony D'Esposito. Ainda não há uma data para a votação do substituto de Santos, que cumprirá o restante do mandato.
George Santos despontou como uma das grandes e mais simbólicas vitórias do Partido Republicano nas eleições de 2022 — ele se tornou o primeiro gay assumido a se eleger pela sigla para o Congresso, e venceu em um distrito historicamente dominado pelos democratas no estado de Nova York. Na campanha, adotou a linha conservadora, louvando o ex-presidente Donald Trump e o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro. No mês passado, uma comitiva de políticos bolsonaristas, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se encontrou com Santos em Washington.
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Mesmo antes de assumir o cargo, ele foi alvo de denúncias de que seu currículo impecável estava cheio de inverdades. Passagens pelos bancos Citigroup e Goldman Sachs, por exemplo, foram negadas pelas próprias instituições, e universidades pelas quais ele disse ter se formado não confirmaram que ele frequentou as aulas. Ele tentou negar as alegações, feitas inicialmente pelo New York Times, mas acabou cedendo.
Conforme os meses foram passando, as denúncias foram se acumulando. Além das mentiras no currículo, suspeitas de que havia desviado dinheiro de campanha para fins próprios ganharam corpo, e motivaram alguns dos 23 processos que ele responde na Justiça Federal americana. Ele chegou a ser detido em maio e precisou pagar fiança de US$ 500 mil para responder os processos em liberdade.
A maré de sorte começou a mudar em 16 de novembro. Um relatório da Comissão de Ética da Câmara, liderada pelo republicano Michael Guest, detalhou em números e nomes as práticas indevidas do deputado. Nas 56 páginas, o documento aponta pagamento de US$ 1,4 mil em um spa em Nova York, em julho de 2022, US$ 4,1 mil em compras na loja de luxo Hermès, US$ 1,5 mil em uma aplicação de botox e, no item que chamou atenção especial, a assinatura de um site de conteúdo adulto. Pelas regras, o dinheiro arrecadado poderia ser apenas usado para atividades de campanha.
"O deputados [George] Santos buscou explorar, de forma fraudulenta, todos os aspectos de sua candidatura à Câmara para seu próprio benefício financeiro", diz o documento, que destroçou de uma vez por todas sua imagem junto aos colegas de partido, e pavimentou a cassação nesta sexta. No mesmo dia da divulgação do relatório, ele anunciou que não tentaria a reeleição no ano que vem. Não que suas chances de permanecer no cargo fossem boas: em janeiro, 78% dos eleitores do distrito que o elegeu queriam que renunciasse imediatamente.
Como apontou o site Politico, a votação também ficará marcada na História do Legislativo americano. Desde a Guerra Civil (1861-1865), jamais um deputado sem uma condenação criminal definitiva havia sido cassado — antes de Santos, apenas cinco deputados tinham sido expulsos da Casa, três deles por apoiarem os Confederados na Guerra Civil e dois por condenações judiciais.
Pouco antes da cassação, Santos deu uma entrevista à Fox News, na qual já antecipava seu destino, disse que a imprensa exagerou na cobertura de seu caso e até que, se fosse hoje, tentaria fazer as coisas de outra forma.