Flávio fala em "motivo infantil", e Eduardo em "esculacho'" filhos criticam ação contra Bolsonaro
Parlamentares se manifestaram após a Polícia Federal realizar busca e apreensão na casa do ex-presidente
Os filhos de Jair Bolsonaro saíram em defesa do pai no Congresso após a operação da Polícia Federal que apura suspeitas de fraude em dados de vacinação contra Covid-19. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que não faria sentido o pai ter adulterado o documento.
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— Alguns países exigiam que se apresentasse o comprovante, mas ele, como presidente, como chefe de Estado, nunca precisou apresentar cartão em lugar nenhum. Nunca tirou do bolso nada para comprovar que ele tivesse vacinado. Até porque era público que ele não tinha tomado vacina e ele arcou com o ônus e bônus disso. Então, não faz nenhum sentido o Bolsonaro adulterar um cartão de vacinação—disse Flávio em discurso no plenário do Senado.
— Ele não usaria para nada — completou, antes de questionar: — Qual é a intenção de alguém autorizar a busca e apreensão na casa de um ex-presidente por causa de um motivo infantil desses?
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz que mandado de busca e apreensão contra o pai tem motivo 'infantil'. Senador supõe que há 'tentativa de vincular Jair Bolsonaro ao assassinato de Marielle'.⁰⁰ #JornalOGlobo pic.twitter.com/4RX8OhaVjM
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) May 3, 2023
Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que sente honra do pai e que a operação se trataria de mais uma "perseguição da esquerda". O deputado também questionou sobre a PF não ter pedido as informações diretamente para o ex-chefe de Estado.
—Isso daí, pode ter certeza, é uma medalha. Nada dá mais honra em ser filho de Jair Bolsonaro do que a perseguição covarde, vil, baixa e bizarra que a esquerda tenta imprimir contra um presidente. Se ele tivesse roubado um centavo dos cofres públicos, ele já estaria preso. Mas não, a PF vai à casa dele para ver se ele foi vacinado, sendo que pública e notoriamente ele sempre falou que nunca tomou a vacina. (…) A pergunta que fica é: por que Bolsonaro teria motivos para falsificar um cartão de vacina? Por que a PF não podia pedir as informações ao presidente para o presidente dar as explicações por escrito? Ou ir à PF dar esse testemunho? Para que a necessidade de fazer esse esculacho? — disse Eduardo.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) defende o pai em discurso na Câmara, após operação da Polícia Federal: 'Nada dá mais honra em ser filho de Jair Bolsonaro do que a perseguição da esquerda', disse o deputado #JornalOGlobo pic.twitter.com/zgSoym7fVJ
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Entenda o caso
A investigação da PF apura suspeita de fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro, familiares e ex-assessores. A polícia identificou que documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de endereços de IP do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi antes mesmo do fim de seu mandato.
De acordo com o relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), foram quatro emissões, três delas ainda em dezembro de 2022, nos dias 22, 27 e 30. O ex-presidente embarcou para os Estados Unidos no próprio dia 30, horas depois do acesso ao sistema.
Ainda no plenário do Senado, Flavio justificou que a filha do presidente e de Michelle Bolsonaro, Laura, não teria tomado a vacina por recomendação médica.
A investigação apontou ainda que registros de vacinação de Laura foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde em 21 de dezembro de 2022 e apagados seis dias depois sob a justificativa de “erro”. No meio tempo entre a inserção e a exclusão dos dados, foi emitido o certificado de vacinação de Laura em língua inglesa, destacou a PF.
A suposta fraude teria sido possível por meio de um esquema montado na Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por onde os registros foram inseridos e excluídos do sistema da Saúde. À época, Bolsonaro e seus familiares estavam prestes a viajar para a Flórida, nos Estados Unidos, onde passaram uma temporada de três meses.
Buscas da Polícia Federal
Seis pessoas atreladas ao antigo governo de Jair Bolsonaro (PL) foram presas na manhã desta quarta-feira, e 16 foram alvos de busca e apreensão na Operação Venire, deflagrada pela Polícia Federal (PF), para apurar a inserção de dados falsos referentes à vacinação contra a Covid-19. No caso do ex-presidente, um mandado foi cumprido na casa onde ele mora, no Jardim Botânico, no Distrito Federal, e o seu celular foi apreendido.
Entre os detidos em Brasília, estão os ex-funcionários Mauro Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro. Outro assessor, Marcelo Câmara, é alvo de busca e apreensão. Todos os citados foram com o ex-presidente em seu autoexílio de três meses em Orlando, na Flórida.
Já no Rio, o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, foi preso. O deputado federal Gutemberg Reis (MDB), irmão do ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis, é alvo de busca e apreensão.
Os agentes cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro, além de análise do material apreendido durante as buscas e realização de oitivas de pessoas que detenham informações a respeito dos fatos.
Segundo a PF, o objetivo do grupo seria “manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas" e "sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”. Jair Bolsonaro não foi alvo de mandado de prisão. No entanto, as autoridades chegaram a agendar um depoimento do político para as 10h desta quarta, mas ele decidiu não comparecer.
A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes dentro do inquérito das "milícias digitais" que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). Na decisão, o ministro considerou "plausível" a linha de investigação da Polícia Federal de que grupo ligado a Bolsonaro inseriu informações falsas no ConectSUS para obter vantagens ilícitas.