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Flordelis relata alucinações e pesadelos em avaliação na prisão

Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, e será julgada no dia 12 de dezembro deste ano

Flordelis, ex-deputada federalFlordelis, ex-deputada federal - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Presa desde 13 de agosto de 2021, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza relatou, em avaliação psicológica e psiquiátrica, alucinações e pesadelos. A pastora e cantora foi avaliada em 27 de abril no Hospital Penal Psiquiátrico Roberto Medeiros, no Complexo de Gericinó, a pedido de seus advogados. Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, e será julgada no dia 12 de dezembro deste ano.

Flordelis foi avaliada pelo psicólogo Marcos José de Souza Martins e pelo psiquiatra Mauro Acselrad. Ambos concluíram que não havia motivos para que a ex-parlamentar ficasse internada na unidade psiquiátrica, para onde ela foi apenas para passar pela avaliação. Flordelis está na penitenciária Talavera Bruce. O Globo teve acesso aos laudos, que foram anexados ao processo criminal no qual a pastora é ré.

Em seu laudo, o psiquiatra responsável pela avaliação cita que Flordelis relata “escuta alucinatória eventual de longa data”, além de ouvir gritos e a própria voz, mas ressalta não ser certo “tratar-se de alucinações genuínas”. Ele acrescenta que a ex-deputada cita outros problemas, descritos como “reflexos de imagens”, “flashbacks” e pesadelos que teriam se agravado com a prisão. Flordelis atribui o quadro ao fato de estar mais isolada e ociosa.

Ao psicólogo que a avaliou, Flordelis também relatou escuta alucinatória e alegou ouvir gritos e a própria voz misturados. A pastora apresentou também queixas de perda de apetite e sono perturbado por pesadelos recorrentes. “Nega uso de álcool ou outras drogas”, escreveu o psicólogo. O profissional atestou, assim como o psiquiatra, que não se observa “atitude ou sinais sugestivos de atividade alucinatória genuína”.
 

Aos profissionais, Flordelis relatou ainda que teve perda de memória e só se recorda de episódios ocorridos há 29 anos, quando começou a acolher crianças e adolescentes em sua casa na favela do Jacarezinho. Ela contou também ter feito acompanhamento psiquiátrico na infância, após a morte do pai. Segundo ela, os atendimentos decorriam de “surtos e desmaios”. A pastora diz ter conhecimento desses fatos pela mãe e irmã.

Flordelis ainda relatou um episódio de isquemia cerebral há alguns anos e diz que passou a ter convulsões desde então. Segundo ela, as crises pioraram depois de presa. A pastora relatou o uso de diversos medicamentos.

“O quadro atual, no que cabe informar a partir deste exame, é de estabilidade emocional. As referências a crises convulsivas carecem de avaliação neurológica, podendo corresponder a episódios dissociativos. Os fenômenos alucinatórios descritos, no meu entender não requerem no momento abordagem medicamentosa diversa da que já faz uso. Entretanto, cabe que seja reavaliada ambulatorialmente, conquanto não haja indicação para que permaneça em regime de internação psiquiátrica, de modo que retornará a sua unidade de origem”, atestou o laudo psiquiátrico. O documento ressalta que no início do exame Flordelis estava tensa, com receio de permanecer internada no Hospital psiquiátrico.

O psicólogo que avaliou Flordelis abordou ainda questões relativas à morte de seu marido. O profissional atestou que a ex-parlamentar evitava falar sobre o crime e observou sinais de ansiedade quando questionada sobre seu relacionamento com Anderson. O psicólogo apontou ainda que Flordelis dissimulou elementos que indicassem conflito no relacionamento com o marido, mas relatou comportamentos que sugerem atitudes abusivas dele contra ela e os filhos.

Flordelis ainda relatou que após o crime ficou sabendo que Anderson abusou de algumas crianças. “Manifesta sinais de vergonha e constrangimento ao fazer tais relatos”, escreveu o psicólogo. Aos dois profissionais, a ex-deputada relatou que tentou suicídio após a morte do marido, com o consumo excessivo de medicamentos, mas alegou arrependimento.

“Apresenta-se sem queixas e não há presença de sinais ou sintomas sugestivos de transtorno psiquiátrico que justifique medida de internação ou acompanhamento ambulatorial em regime intensivo”, atestou o psicólogo. Ao profissional, Flordelis afirmou ainda que pretende provar sua inocência e voltar a estudar.

Sobre as condições gerais de Flordelis, o psiquiatra atestou ainda que a pastora “Discorre com fluidez acerca dos temas arguidos, demonstrando lucidez, clareza de consciência e orientação global”. Já o psicólogo analisou que a ex-deputada “fala de maneira organizada e coerente, com boa articulação verbal”, além de portar-se de maneira cordial.

A avaliação psiquiátrica e psicológica de Flordelis foi pedida por sua defesa antes da realização de seu julgamento. O exame foi avaliado por um profissional contratado pelos advogados da ex-parlamentar. Flordelis já teve seu julgamento adiado duas vezes. A sessão está marcada para acontecer em 12 de dezembro deste ano.

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Dois filhos de Flordelis - Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cezar dos Santos - já foram condenados por participação na morte do pastor Anderson do Carmo. Filho afetivo da ex-deputada, Carlos Ubiraci Francisco foi absolvido, mas o assistente de acusação recorreu, pedindo que ele seja submetido a novo julgamento.

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