Forças Armadas veem oportunidade de fim de clima de suspeita sobre militares em delação de Mauro Cid
Expectativa é que tenente-coronel traga novas informações em investigações sobre joias, cartão de vacinação e minuta do golpe
Integrantes da cúpula das Forças Armadas avaliam que a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid será uma oportunidade de acelerar esclarecimentos, individualizar condutas e acabar com o clima de suspeitas sobre as instituições militares.
Embora tenha sido firmada no âmbito do inquérito das milícias digitais, a expectativa é que a delação colabore com as investigações sobre as suspeitas de falsificação no cartão de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, com o caso das joias e da minuta do golpe.
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No Ministério da Defesa, o acordo também foi bem recebido e visto como algo “excelente” se for para contribuir no rápido esclarecimento de suspeitas. A percepção entre membros dos comandos das Forças ouvidos pelo Globo é de que a delação será positiva, ajudará Exército, Marinha e Aeronáutica a chegar ao detalhamento necessário para adotar medidas punitivas caso integrantes das Forças sejam citados e incluídos nos inquéritos como investigados.
Outra ponderação feita entre a cúpula militar é de que, como o processo está em segredo de Justiça, é preciso cuidado para não haver pré-julgamentos sem pleno conhecimento dos fatos e do conjunto de provas dos envolvidos. Na avaliação deles, isso poderia ser classificado como invasão de militares de uma seara exclusivamente judicial.
As Forças Armadas querem acabar com o clima de suspeitas sobre militares, após tensionamento gerado com os atos golpistas de 8 de janeiro e o avanço de investigações da Polícia Federal sobre os fardados. O ministro da Defesa, José Múcio, tenta ter acesso aos nomes que estão sendo investigados pela PF para que as Forças possam providenciar punições destes militares e retirar o clima de desconfiança da instituição. Ainda não houve retorno da Corte sobre a solicitação do ministro.
Por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o Exército afastou Mauro Cid de suas funções nas Forças Armadas. O tenente-coronel ficará agora agregado ao Departamento-Geral do Pessoal (DGP) sem ocupar cargo e exercer função. Apesar do afastamento, ele seguirá recebendo a remuneração de oficial superior, correspondente à patente de tenente-coronel do Exército, e outros benefícios, como moradia para militares em Brasília.
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid atuava como braço-direito de Bolsonaro e teve o acordo de delação premiada homologado no sábado. Na mesma data, o ministro concedeu liberdade ao militar. Cid estava preso há quatro meses em um batalhão do Exército, em Brasília. Cid terá de usar tornozeleira eletrônica, não sair de casa à noite, nem ter contato com outros investigados nos casos dos quais é alvo — com exceção de familiares.