Foto oficial de Trump chama atenção por semelhanças com "mugshot" tirada em investigação criminal
Republicano, que tomará posse dia 20, aparece com olhar desafiador e sobrancelha arqueada em sua pose como 47º presidente dos EUA
A foto oficial do presidente eleito Donald Trump, que tomará posse na próxima segunda-feira, foi divulgada poucos dias antes da cerimônia. Com o olhar desafiador e uma das sobrancelhas arqueadas, a pose do 47º presidente dos EUA chama atenção pela semelhança com uma outra foto marcante de sua trajetória política e pessoal: sua "mughshot" (fotografia de réu), tirada no âmbito do caso em que é investigado criminalmente por tentar fraudar a eleição de 2020 no estado da Geórgia.
A nova fotografia é bem diferente da foto oficial divulgada durante seu primeiro mandato (2017-2021). Embora a roupa seja semelhante, um terno azul-marinho e a gravata na mesma cor, Trump aparece sorrindo na primeira foto. A nova imagem também contrasta com a do seu vice, Jd Vance, que aparece com os braços cruzados, relaxado, e um leve sorriso. A equipe de transição descreveu as imagens em comunicado como "fortes".
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As fotografias foram compartilhadas três dias antes da cerimônia de posse, cujos eventos devem começar já neste sábado. Em seu primeiro mandato, os retratos oficiais de Trump e seu ex-vice-presidente, Mike Pence, só foram divulgados nove meses após serem empossados.
Para o professor de ciência política da Universidade de George Washington Quardricos Driskell, ao escolher essa pose, o republicano "pode estar adotando uma imagem desafiadora, transformando um momento de adversidade legal em um símbolo de resiliência e força".
— O forte contraste com seu retrato anterior, mais tradicional, também pode significar uma mudança em sua persona pública, enfatizando uma postura mais dura e combativa enquanto ele se prepara para assumir o cargo pela segunda vez — analisou o professor à rede britânica BBC.
O "mugshot" de Trump foi tirado em 25 agosto de 2023. Dias antes, o então ex-presidente havia sido acusado criminalmente pela 4ª vez por supostamente tentar infringir nas leis do estado da Geórgia para tentar reverter o resultado das eleições de 2020, na qual foi derrotado por Joe Biden. Trump se apresentou à Justiça no estado e pagou uma fiança de US$ 200 mil (mais de R$ 1 milhão na cotação atual) para responder o processo em liberdade.
O republicano foi o primeiro ex-ocupante da Casa Branca a ter uma foto de réu — apenas um dos vários ineditismos que viriam. Mas o clique fez pouco para minar sua popularidade e chances de retornar à Presidência. Ao contrário: Trump e sua equipe vinham usando os processos na Justiça (ele era investigado criminalmente em outros três processos, além de outros casos na esfera civil) como palanque para impulsionar sua figura e dominar a narrativa. Com a "mugshot" não foi diferente.
O registro foi parar em canecas, estampas de camisetas, pôsteres e em copos térmicos. Nas redes sociais, o então ex-presidente fez uma postagem sobre a imagem, na qual compartilhava também o link direto para o site de campanha. "Nunca se renda", escreveu o republicano aos seus apoiadores. Parece ter dado certo: em poucos dias, a sua equipe arrecadou US$ 7,1 milhões (R$ 42 milhões na cotação atual), informou a Forbes.
O caso segue atualmente paralisado após um tribunal estadual da Geórgia decidir em dezembro pela remoção da promotora distrital Fani Willis da investigação. O tribunal também rejeitou o pedido da defesa de Trump para arquivar o caso, embora prosseguir com o julgamento de um presidente em exercício seja impossível. O republicano teve outras duas investigações arquivadas por um procurador especial do Departamento de Justiça, seguindo sua política de longa data de não processar presidentes em exercício.
Mas Trump também não escapou da odisseia judicial sem marcas: no início deste mês, o republicano foi sentenciado à "liberação incondicional", um tipo de condenação que reconhece a prática do crime, mas não impõe qualquer tipo de pena. O presidente eleito escapou da prisão, mas pesa sobre ele o efeito simbólico da decisão: além de 47º presidente dos EUA, será também o 1º criminoso sentenciado a assumir o cargo.