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Fraude em cartão de vacinação resultou em prisão de Mauro Cid e avançou investigação sobre golpe

Mensagens encontradas em aparelho de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro revelaram conspirações contra o resultado das urnas

Mauro CidMauro Cid - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

A Polícia Federal cumpre, nesta quinta-feira, mandados de busca e apreensão contra agentes públicos vinculados ao município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no âmbito da Operação Venire, que estariam envolvidos na fraude de comprovantes de vacinação contra a Covid-19.

As investigações sobre o tema avançaram quando a PF prendeu o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, fato que também ajudou nas investigações sobre a tentativa de golpe.

Além do material encontrado no celular de Muro Cid, que também ajudou a avançar as investigação sobre a tentativa de golpe, Cid incriminou diretamente o ex-presidente no caso da fraude no sistema de controle de vacinação.

Em um dos pontos do relatório, os investigadores citam que Cid afirmou que Bolsonaro ordenou que o então ajudante de ordens inserisse os dados dele e de sua filha, Laura Bolsonaro, no sistema. O documento inclui trechos do depoimento.

 

“Que o presidente, após saber que o colaborador (Mauro Cid) possuía os cartões de vacina para si e sua família, solicitou que o colaborador fizesse para ele também; que o ex-presidente deu a ordem para fazer os cartões dele e da sua filha, Laura Bolsonaro; que o colaborador solicitou a Ailton que fizesse os cartões; que o colaborador confirma que pediu os cartões do ex-presidente e sua filha Laura Bolsonaro sob determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e que imprimiu os certificados”, destacou a Polícia Federal.

Cid também implicou outro ex-assessor de Bolsonaro, o coronel Marcelo Câmara, no episódio. Em seu depoimento na delação prestada à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens revelou que, ao saber das inserções falsas, Câmara teria rasgado os certificados e solicitado que Cid desfizesse a fraude.

No celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro também foram encontradas mensagens e documentos que revelam uma trama para dar um golpe de estado, afastar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocar o país sob intervenção militar. Um dos documentos encontrados com o militar era intitulado “Forças Armadas como poder moderador”. Nele é apresentado um plano baseado numa tese controversa em que militares poderiam ser convocados para arbitrar conflitos entre os poderes.

O documento ensina uma espécie de "passo a passo" do golpe e não é o mesmo da minuta golpista encontrada com o ex-ministro Anderson Torres. Segundo o plano, Bolsonaro deveria encaminhar as supostas inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário aos comandantes das Forças Armadas. Os militares então poderiam nomear um interventor investido de poderes absolutos.

Esse interventor, na sequência, poderia fixar um prazo para o “restabelecimento da ordem constitucional”. Assim, poderia suspender decisões que considerasse inconstitucionais, como a diplomação de Lula.

Os documentos fazem parte de um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal. No telefone de Mauro Cid foi encontrado ainda outro documento, onde é aventada a hipótese de decretação de estado de sítio, uma das medidas mais extremadas previstas na Constituição para situações excepcionais, como em caso de guerra.

Em delação à PF, Cid expôs reuniões de Jair Bolsonaro com auxiliares e com os chefes das Forças Armadas na tentativa de formular um decreto com a determinação de um estado de sítio e, em algumas de suas versões, até mesmo a prisão de ministros do STF. O GLOBO revelou em outubro de 2023 que Cid contou à PF que Bolsonaro recebeu de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, uma minuta de um decreto golpista com diversas páginas elencando supostas interferências do Poder Judiciário no Executivo e propondo medidas antidemocráticas.

Cid contou aos investigadores que Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e ministros militares e discutiu detalhes dessas minutas. O ex-ajudante de ordens ainda relatou aos policiais que o comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier, teria sido o único a aprovar a medida e colocar seus oficiais à disposição. Segundo Cid, Freire Gomes e Baptista Júnior teriam rechaçado a ideia. Apesar dos áudios vazados de Mauro Cid, o relato feito na sua delação foi confirmado pelos depoimentos dos dois ex-comandantes.

Cid ainda confirmou no seu acordo que o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o hacker Walter Delgatti. O militar contou ainda nas tratativas como funcionava a operação do chamado gabinete do ódio, grupo de assessores de Bolsonaro acusado de criar e operacionalizar milícias digitais para espalhar narrativas falsas que favoreciam o presidente.

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