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MUNDO

G20: Lula cobra redução da desigualdade e afirma que vai lançar "Aliança Global contra a Fome"

Presidente critica mercado financeiro e cobra que mais ricos paguem impostos proporcionais ao patrimônio

Presidente Lula em discurso no G20Presidente Lula em discurso no G20 - Foto: Ludovic Marin / Pool / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado que o Brasil vai lançar uma 'Aliança Global contra a Fome' durante a presidência do G20. O país assume simbolicamente a liderança do bloco no domingo. Lula, no entanto, não deu detalhes do que será feito.

— Segundo a FAO, a fome, que afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo. O mundo desaprendeu a se indignar e normalizou o inaceitável — afirmou Lula, completando: — Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome. Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno.

As declarações de Lula foram dadas durante a Sessão 2 - Uma Família. Em seu discurso, o presidente focou em falar sobre as variadas desigualdades, como a de renda e a de gênero. Citou, por exemplo, o programa Brasil sem Fome, lançado pelo governo federal no mês passado para reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar, e a lei que determina salários iguais para homens e mulheres na mesma função.

— A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída. Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias — afirmou Lula, completando: — Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade. Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais.

Em seguida, Lula criticou "instituições financeiras internacionais" que "em vez de agravar o endividamento", "devem funcionar a serviço do desenvolvimento". O presidente cobrou ainda que o pobre seja colocado no orçamento público e que é preciso fazer com que os mais ricos paguem impostos proporcionais ao patrimônio.

— Como líderes das vinte maiores economias do mundo, é nosso papel fortalecer a capacidade do Estado de cuidar dos seus cidadãos. É preciso colocar os pobres no orçamento público. E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios. As instituições financeiras internacionais devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento.
 

Em outros discursos, ao falar sobre os Brics, Lula já criticou o FMI (Fundo Monetário Internacional) e afirmou que quer criar "um banco muito forte" com "outro critério para emprestar dinheiro para os países".

Leia a íntgra do discurso

Comparo o mundo a uma grande família, cujo bem-estar depende da harmonia entre seus membros – que somos nós.

Eu me pergunto se estamos agindo como bons irmãos. E a resposta, infelizmente, é Não.

Falamos diferentes idiomas, e mesmo assim somos capazes de nos entender perfeitamente.

Temos diferentes personalidades, mas isso não nos impede de trabalharmos juntos pelo bem comum – e tomo como exemplo esta Cúpula do G-20

Apesar de todos os esforços, nossa família está cada vez mais desunida. O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer.

Há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior do que a dos mais pobres.

Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres.

Os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%.

De acordo com as Nações Unidas, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda estarão fora da escola ate 2030.

Precisaremos de quase 300 anos para atingir a igualdade de gênero perante a lei.

Segundo a FAO, a fome, que afeta mais de 700 milhões de pessoas em todo o mundo.

O mundo desaprendeu a se indignar e normalizou o inaceitável.

A crença de que o crescimento econômico, por si só, reduziria as disparidades se provou falsa.

Os recursos não chegaram nas mãos dos mais vulneráveis.

O mercado continuou indiferente à discriminação contra mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência.

A desigualdade não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída.

Combatê-la é uma escolha que temos de fazer todos os dias.

Na semana passada, lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar.

Garantir oportunidades iguais para todos significa assegurar acesso a serviços básicos de qualidade.

Significa formular políticas públicas que contribuam para erradicar o racismo e o sexismo das nossas práticas sociais e institucionais.

No Brasil, tornamos obrigatório que homens e mulheres que fazem o mesmo trabalho recebam o mesmo salário. Essa é uma aspiração antiga da OIT.

Como líderes das vinte maiores economias do mundo, é nosso papel fortalecer a capacidade do Estado de cuidar dos seus cidadãos.

É preciso colocar os pobres no orçamento público.

E fazer os mais ricos pagarem impostos proporcionais aos seus patrimônios.

As instituições financeiras internacionais devem funcionar a serviço do desenvolvimento, em vez de agravar o endividamento.

Novas tecnologias devem ser compartilhadas, em vez de aprofundar o fosso digital entre as nações.

A desigualdade é um flagelo que cresce dentro dos nossos países, mas também entre eles.

A disparidade de renda entre países ricos e pobres quadruplicou entre o começo do século dezenove e o fim do século vinte.

As assimetrias se perpetuaram por nova formas de dependência econômica e financeira, regras e instituições injustas, compromissos não cumpridos.

A Agenda 2030 prometia redefinir essa relação.

É urgente resgatar o espírito de solidariedade que anima os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para formularmos respostas conjuntas aos desafios econômicos do nosso tempo.

Lançaremos, em nossa presidência do G20, uma Aliança Global contra a Fome.

Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês.

Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno.

E nos reconhecermos, de fato, como uma grande família. Que não deixa ninguém para trás.

Muito obrigado.

Outros discursos
Mais cedo, Lula citou em seu discurso de abertura da Cúpula do G20 o ciclone que deixou milhares de desabrigados e dezenas de vítimas fatais no Rio Grande do Sul e cobrou dos países desenvolvidos um comprometimento maior no combate ao aquecimento global. Lula afirmou que medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas são urgentes.

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