General, amigo de Bolsonaro, cargo em Miami: quem é o pai de Mauro Cid, alvo de operação da PF
Mauro César Lourena Cid foi contemporâneo de ex-presidente na Aman, dirigiu o Departamento de Educação da corporação e passou à reserva para assumir a Apex, nos EUA
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (11) uma operação que investiga um esquema de venda de presentes dados ao Estado brasileiro durante missões oficiais no exterior. Entre os alvos de mandados de busca e apreensão, estão o pai do tenente-coronel Mauro Cid, general Mauro Lourena Cid, e o ex-ajudante de ordens Osmar Crivelatti.
Mauro Cesar Lourena Cid foi colega do ex-presidente Jair Bolsonaro nas turmas de cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), em Resende, no sudoeste do Rio, nos anos 1970.
Mauro Cid foi preso em maio, numa operação que apura fraude em dados de vacinação contra Covid-19. Como mostrou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, nas semanas seguintes à detenção do filho, o general Lourena Cid demonstrou irritação a colegas de caserna e disse a interlocutores que não admitiria que o parente fosse deixado para trás. Chegou a ir ao Quartel General do Exército, em Brasília, para conversar sobre a situação do filho.
Tido por outros militares como discreto e de personalidade conciliadora, o general dirigiu o Departamento de Educação do Exército e passou à reserva em 2019 para assumir um cargo em Miami, nos Estados Unidos, no início do governo Bolsonaro. Ele foi escalado pelo velho colega de Aman para chefiar o escritório brasileiro da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Ele ficou no posto até o início deste ano.
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A Apex é um serviço social autônomo vinculado ao Ministério das Relações Exteriores por meio de um contrato de gestão e atua para promover os produtos e serviços do país no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. A agência foi criada em 2003 pelo governo federal.
A família está na sua terceira geração de militares. O pai de Lourena Cid — avô do ex-ajudante de ordens —, Antônio Carlos Cid, foi coronel do Exército. Ele se formou em 1955 na Aman e chegou a trabalhar na Casa Militar sob as ordens do general Bayma Denys durante o governo de José Sarney.
Lourena Cid passou a visitar o filho com frequência no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, em maio. Com mais de 20 anos de Exército, o tenente-coronel se preparava para assumir um posto também nos Estados Unidos quando foi nomeado para ser ajudante de ordens de Bolsonaro, pouco antes da posse do ex-presidente, em janeiro de 2019. Procurado pelo Globo, em maio, ele não retornou aos contatos.
De acordo com o inquérito da Polícia Federal, Mauro Cid é suspeito de envolvimento no esquema que forjou dados de vacinação no sistema do Ministério da Saúde. A investigação identificou mensagens e documentos que apontam fraude em seu cartão de imunização, além do de sua mulher e filhas. A PF apura crimes como sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
A partir de uma busca e apreensão feita em sua casa, na Vila Militar do Distrito Federal, quando foram localizados US$ 35 mil em espécie, o tenente-coronel também passou a ser investigado por lavagem de dinheiro. Ele também figura em inquéritos que apuram violação de sigilo funcional, incitação ao crime e por suspeita de tentar liberar joias sauditas do ex-presidente que não foram declaradas a Receita Federal.