General Ramos resiste a entregar Casa Civil a líder do centrão às vésperas de reforma de Bolsonaro
Previsão é que a reforma ministerial prevista pelo presidente envolva três pastas
O ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, resiste a entregar o cargo ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), líder do centrão, e busca convencer o presidente Jair Bolsonaro a preservá-lo na função. O esforço, porém, deve ser em vão, segundo auxiliares e aliados do mandatário.
Até a noite desta segunda-feira (26), a previsão era que Ciro Nogueira seria o substituto de Ramos no ministério mais prestigioso da Esplanada.
O senador tem prevista uma reunião com Bolsonaro, na manhã desta terça-feira (27), para definir os detalhes da nomeação no ministério.
Pelo desenho definido até aqui, a reforma ministerial envolve trocas em três pastas: o senador pelo Piauí e presidente do PP vai para a Casa Civil no lugar de Ramos, que deve passar para a Secretaria-Geral da Presidência - ocupada hoje por Onyx Lorenzoni.
Já Onyx deve ser titular do Ministério do Emprego e Previdência, a ser recriado com o desmembramento do Ministério da Economia. Procurado, Ramos negou, por meio de sua assessoria, estar atuando para ficar no posto.
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O convite de Bolsonaro para que Ciro Nogueira vá para a principal pasta do Palácio do Planalto é a jogada mais robusta que o presidente fez até aqui para assegurar o apoio de partidos e da base de congressistas ao seu governo.
Parlamentares, sobretudo os do centrão, vinham pressionando pela saída de Ramos da Casa Civil. A avaliação é que o general não tem traquejo político, falha na articulação com o Legislativo e breca demandas de senadores e deputados, como a liberação de emendas.
Há ainda a constatação de que, com a proximidade das eleições de 2022, é preciso ter alguém na Casa Civil que saiba dar visibilidade aos feitos do governo.
Aliados também esperam que Ciro Nogueira costure as alianças políticas necessárias para a campanha de reeleição de Bolsonaro.
A prioridade para articuladores políticos e dirigentes de siglas que hoje pretendem apoiar a campanha à reeleição de Bolsonaro é a reformulação do Bolsa Família e outras medidas que impulsionem a recuperação da economia em 2022, após a vacinação da população contra a Covid-19.
A aposta é que, com um programa de forte apelo popular e uma economia aquecida, o presidente deve conseguir recuperar a popularidade.
Atualmente, pesquisas indicam aumento na reprovação do governo e favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o pleito do próximo ano.
Apesar das fortes pressões, Bolsonaro resistia a tirar Ramos da Casa Civil por ser seu amigo de longa data. Diante da performance negativa em pesquisas e do aumento da insatisfação de líderes do centrão com o governo, entre eles Ciro, o presidente resolveu ceder.
Ramos foi pego de surpresa com a decisão, tornada pública na semana passada, e iniciou um movimento para tentar se segurar no cargo.
A justificativa dada por ele é que a Casa Civil funciona como uma espécie de coordenadora da Esplanada e não trata apenas da articulação política.
De acordo com interlocutores, Ramos alegou que o ideal é Ciro ser acomodado em outro ministério para conseguir focar no atendimento aos congressistas.
Segundo dois ministros e outros aliados de Bolsonaro no Congresso ouvidos pela reportagem, a ofensiva de Ramos não funcionou.
Nesta segunda, Bolsonaro defendeu a nomeação de Ciro para a Casa Civil e chegou a minimizar a importância da pasta –embora ela seja o núcleo de coordenação do governo.
"Os ministérios mais importantes continuam por critério técnico. Tem uma possibilidade agora de o Ciro Nogueira assumir o Ministério da Casa Civil. A Casa Civil não tem orçamento em suas mãos. Ela faz a articulação com o Parlamento", disse o presidente, em entrevista à rádio Arapuan FM, de João Pessoa.
"E nós acreditamos que um político, no caso um senador, poderia fazer essa articulação com o Parlamento. Por isso essa aproximação com o Ciro Nogueira, que é de um partido de centro", afirmou.
Bolsonaro também rebateu críticas por ter escolhido para a Casa Civil um congressista que responde a inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal).
"Se eu afastar do meu convívio parlamentares que são réus ou que respondem a inquéritos, eu perco quase metade do Parlamento", disse.
Em seguida, Bolsonaro lembrou que ele mesmo é réu no Supremo por apologia do crime de estupro contra a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
"Então eu não devia estar aqui também. Eu acho que todos nós só somos culpados depois de a sentença transitar em julgado. Então se o Ciro ou qualquer outro ministro meu for julgado e condenado, obviamente se afasta do governo. Mas no momento é o que eu tenho para trabalhar aqui em Brasília."
A ida de Ciro para a Casa Civil e o desmembramento da Economia não são os únicos flancos da investida do centrão sobre o governo.
Congressistas continuam pressionando o Planalto para recriar o Ministério do Planejamento, cujas funções estão hoje dentro da Economia e envolvem o controle do Orçamento federal.
O centrão avalia que o titular da Economia, Paulo Guedes, acumulou muitas atribuições. Além disso, há um desgaste na relação do Congresso com o ministro, principalmente em relação ao orçamento, como volume de emendas.
Bolsonaro está no momento mais fragilizado do seu governo até aqui. Em meio à pandemia do coronavírus e suspeitas de corrupção em negociações de vacinas contra a Covid, o presidente e seu governo vêm assistindo a uma escalada de impopularidade.
O ex-presidente Lula, hoje seu principal adversário, ampliou vantagem nas intenções de voto para 2022 e cravou 58% a 31% no segundo turno, apontou a pesquisa mais recente do Datafolha.
Ainda de acordo com a pesquisa, 59% dos eleitores dizem que não votam de jeito nenhum no atual presidente –esse índice era de 54% no levantamento anterior, feito em 11 e 12 de maio.
Ao trazer Ciro para o coração do governo, Bolsonaro sela seu casamento com o centrão –grupo de legendas fisiológicas que, na campanha eleitoral de 2018, eram frequentemente criticadas pelo então candidato a presidente.