Governistas cobram indicação de negro ao STF após Lula defender "igualdade racial" na ONU
Ala cobra mais representatividade no Judiciário; três principais cotados para a vaga são homens
O discurso na ONU, no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que “alcançar a igualdade racial” é um objetivo do seu governo, fez com que a pressão por indicar uma representante negra ao Supremo Tribunal Federal aumentasse em sua base. A indicação de alguém com este perfil não é o mais provável hoje e os três principais cotados para ocupar a cadeira deixada pela ministra Rosa Weber são homens: Flávio Dino, Jorge Messias e Bruno Dantas.
Indicada para o Supremo pela então presidente Dilma Rousseff (PT) após a saída de Ellen Gracie, em dezembro de 2011, Rosa Weber terá de se aposentar no máximo até 2 de outubro, quando completa 75 anos.Alas do governo e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendem a nomeação de uma mulher negra para a cadeira como forma de ampliar a diversidade no STF — hoje, não há negros na Corte, e apenas duas das 11 cadeiras são ocupadas por mulheres, número que cairá para uma com a aposentadoria de Rosa.
Leia também
• Na ONU, Lula projeta Brasil como líder do Sul Global e voz a ser ouvida nas questões mundiais
• Veja a checagem do discurso de Lula na ONU
• Na ONU, Lula diz que multilateralismo global vem sendo corroído
Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), a fala de Lula reflete uma vontade de aumentar a representatividade negra nos espaços de poder. Por este motivo, ele acredita que uma cadeira do STF deve ser preenchida por um representante negro.
- O presidente falou de seu governo colocar o combate à desigualdade racial, voluntariamente, no mesmo patamar dos outros objetivos para o desenvolvimento sustentável. É um compromisso histórico e extraordinário. Isso nos faz acreditar que ele levará em conta a promoção da igualdade racial em todos os seus aspectos. Inclusive ampliando a presença negra no Judiciário. É sempre bom lembrar que temos excelentes quadros, que cumprem com folga os critérios de honorabilidade, experiência e sólida formação jurídica, o que pode garantir uma presença negra, superqualificada, no STF - afirmo
Talíria Petrone (PSOL-RJ) afirma que o discurso deve vir acompanhado de uma ação afirmativa, que coloque a população negra neste espaço de poder.
- O discurso foi conectado com as demandas populares e a luta antirracista no país. Justamente por isso, é fundamental que mudemos a fotografia do poder, do Judiciário. Precisamos da população nessa instância de poder.
Relatora da Lei das Cotas, a deputada Dandara (PT-MG), que foi relatora da Lei das Cotas e acompanha Lula na viagem aos Estados unidos, também afirma que o discurso deve ser acompanhado da indicação para espaços de poder.
- Foi um momento importante para a representatividade. Isso é muito ousado e fundamental. E, ao falar da igualdade, falou de mudanças sociais. Temos demandas importantes no Brasil a serem feitas também. Nós, negros, somos maioria da população e minoria nos espaços de poder, nas cortes mais altas.
A disputa nos bastidores aventa nomes de quadros do governo, de cortes superiores e de políticos, mas a decisão ainda é incerta. O nome indicado por Lula para a vaga deverá ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e, depois, pelo plenário da Casa. Dos três nomes mais fortes no páreo, Dino se autodeclarou pardo quando concorreu nas eleições de 2022 e 2018, e branco na disputa de 2014 (não há informações sobre 2010 e 2006). Messias e Bruno Dantas são brancos.