Conselhão

Governo anuncia inclusão do MST em 'Conselhão' em meio a crise da Agrishow e instalação de CPI

Anúncio foi feito pelo ministro Alexandre Padilha, que afirmou na mesma publicação que não há "fato determinado" para a criação de uma comissão no Congresso contra o movimento social

Integração do movimento social ao "Conselhão" ocorre em meio a uma crise do governo do presidente Lula com o agronegócio.Integração do movimento social ao "Conselhão" ocorre em meio a uma crise do governo do presidente Lula com o agronegócio. - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), anunciou a inclusão do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), aliado histórico do PT, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, conhecido como "Conselhão". A comissão foi formada em março para auxiliar o Executivo sobre políticas públicas. A integração do movimento social ao "Conselhão" ocorre em meio a uma crise do governo do presidente Lula com o agronegócio, setor em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem boa aceitação.

"O presidente Lula convidou o MST para o Conselhão e o convite foi aceito. O trabalho na agricultura familiar vai contribuir com políticas para a produção de alimentos saudáveis no nosso país”, postou Padilha no fim da tarde deste sábado no Twitter. Na mesma publicação, o ministro ainda se referiu a instalação da CPI do MST, anunciada essa semana pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e alvo de preocupação do Planalto:

"Aproveito para ressaltar que não existe nenhum fato determinado, como exige a Constituição, para a criação de eventual CPI sobre o MST", disse o ministro.

O anúncio ocorre na mesma semana em que o governo tem desentendimentos com o agronegócio. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ter sido "desconvidado" da abertura da Agrishow, uma das maiores feiras agropecuárias do país e que começa nesta segunda-feira, em Ribeirão Preto (SP). O motivo seria a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro no evento. A repercussão chegou a envolver o Banco do Brasil, patrocinador do evento, em um comunicado do governo anunciando que a instituição financeira iria retirar o investimento na Agrishow. Com toda a polêmica, a organização do evento cancelou a cerimônia.

Em declaração ao blog da jornalista Andréia Sadi, do g1, Fávaro disse que a organização do evento "não desceu do palanque" e queria constrangê-lo ao mudar sua apresentação para que ocorresse após a participação do ex-presidente. Neste domingo, após o anúncio da Agrishow cancelando a cerimônia, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, declarou que Bolsonaro "continua bagunçando o coreto e atrapalhando o país".

Salles na CPI preocupa petistas

A CPI do MST virou alvo de preocupação do governo e de parlamentares petistas. O temor de desgaste que a comissão pode trazer cresceu com a possibilidade de que o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP) assumir a relatoria. Dentro do governo petista, ainda há esperança de convencer Lira a voltar atrás antes da instalação da comissão.

Paralelamente, o MST também têm se articulado para tentar impedir o funcionamento da comissão. Lideranças do movimento avaliam que se a comissão for instalada com Salles na relatoria e o deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos) na presidência significa que o governo federal lavou as mãos. As invasões promovidas pelo MST durante o abril vermelho, que incluiu uma área da Embrapa em Pernambuco, provocaram descontentamento no Palácio do Planalto.

O receio principal é que o relator crie uma narrativa para criminalizar o movimento. As ocupações promovidas pelo MST neste início de ano têm gerado mobilização negativa contra o governo Lula nas redes sociais.

Em outra frente, os sem-terra planejam ainda recorrer à Justiça para barrar a CPI com a alegação de falta de objeto específico, como foi publicado neste sábado por Padilha. O argumento é que o requerimento pede a investigação do movimento em si, e não de uma ação específica praticada.

Em entrevista ao GLOBO neste domingo, Arthur Lira condenou as ações do MST e reiterou a CPI vai ocorrer. Para o presidente da Câmara, a "'turma do campo" está "amedrontada, assustada e armada", e teme uma crise maior:

— Estive com o pessoal do MST e disse que o agronegócio não tem problema em conviver com a agricultura familiar, assim como os assentados não são inimigos das terras produtivas. Surgiram mais invasões à Embrapa e a terras produtivas de celulose, principalmente em estados onde o governo estadual é aliado do governo federal. Qual é o risco de não darmos um freio nisso logo? É que a turma do campo está amedrontada, assustada e armada. Para acontecer um problema falta pouco. Integrantes do governo já refutaram as invasões, mas não houve medidas firmes para impedi-las efetivamente. Então, vai ter CPI.

João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, disse, no Twitter que essa é a quinta CPI “em 18 anos usada para perseguir o MST e criminalizar a reforma agrária”. “Sem um objeto definido, é mais um palco para destilar ódio contra nossa luta. Seguiremos com nosso compromisso pela democratização da terra, a produção de alimentos e o combate às injustiças”, afirmou.

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