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Governo Federal vê com bons olhos candidatura de Marcos Pereira e avalia que pulverização ajuda Lira

Planalto faz cálculo político e enxerga possível crescimento da postulação do deputado à presidência da Câmara como forma de "empurrar" Tarcísio para o PL

O deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, durante sessão na Câmara O deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, durante sessão na Câmara  - Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/

O governo federal já faz o cálculo político de vantagens de um eventual crescimento da pré-candidatura do deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP) à presidência da Câmara dos Deputados. Articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que o fortalecimento do nome do presidente do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, poderia render frutos positivos ao governo, como aproximar Lula dos evangélicos e empurrar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para o PL, diminuindo o constrangimento de o Republicanos apoiar o governo de forma mais enfática.

Como mostrou O Globo, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, espera que Tarcísio se filie entre junho e agosto e que atue pela legenda já nas eleições municipais de outubro. O governador de São Paulo, no entanto, resiste à possibilidade de migrar para a sigla antes das eleições.

No rol de pré-candidatos à cadeira hoje ocupada por Arthur Lira (PP-AL), Marcos Pereira é visto pelo Planalto como candidato com brilho próprio e que já tem interlocução direta com o presidente Lula. Se até a entrada da legenda no governo esse diálogo era intermediado pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), agora passa por conversas que já dispensam interlocutores. Em fevereiro, Lula convidou Pereira para acompanhá-lo no avião presidencial no trajeto entre Brasília e São Paulo, para o lançamento da construção do túnel que vai ligar Guarujá a Santos.

Na hipótese de vir a se viabilizar, Pereira é considerado um nome que, embora mantivesse discurso de independência e autonomia, teria boa relação com o governo. Uma comparação que já foi feita nos corredores do Planalto é de que Pereira poderia ser para Lula o que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é hoje. Embora tenha pauta própria, o senhor tem postura de colaboração com o governo.

O governo, porém, ainda não tem clareza se a aproximação com parte de líderes evangélicos no Congresso seria suficiente para uma adesão dessa base religiosa a Lula, mas avalia que isso poderia pelo menos posicionar melhor o governo junto a uma bancada que ainda é adversa ao Planalto e identificada com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Pesquisa mostra resistências
Apesar do apelo de ministros, o presidente resiste a fazer um gesto direto a evangélicos, público que, segundo Genial/Quaest, a desaprovação ao trabalho de Lula chega a 62% entre os evangélicos — era de 56% em dezembro do ano passado —, enquanto na média geral da população o índice é de 46%.

Outra expectativa de auxiliares de Lula é que o partido, sem a influência de Tarcísio, estaria mais disposto a aderir à pauta do governo no Congresso — ou desestimularia os parlamentares da legenda identificados com a oposição a trabalhar contra Lula.

Articuladores políticos de Lula têm avaliado que quanto mais pulverizada for a disputa pelo comando da Câmara, com candidaturas como a de Marcos Pereira, Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Antônio Brito (PSD-BA), saindo da órbita de influência direta do presidente Arthur Lira (PP-AL), ficam mais facilitadas as negociações setoriais. Especialmente em um cenário em que o ministro da articulação política de Lula, Alexandre Padilha, está rompido com Lira.

Lira não abre mão de fazer seu sucessor para manter a atual influência na Casa. Embora ainda não tenha anunciado quem será seu candidato, o nome mais bem próximo para ser ungido pelo parlamentar é o de deputado Elmar Nascimento (União-BA). O nome é visto por auxiliares de Lula como o que traria mais problemas a Lula, por ter uma forma de atuar semelhante à de Lira.

Embora Brito seja o candidato mais simpático ao Planalto, auxiliares palacianos veem Marcos Pereira com mais chance de se viabilizar. O governo, no entanto, não despreza a capacidade de articulação do presidente do PSD, Gilberto Kassab, e considera o cenário do dirigente fazer uma dobradinha com MDB, que tem o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) como pré-candidato.

Governo monitora oposição
Único risco visto pelo Planalto é de que a pulverização de candidaturas abra espaço para que um nome de oposição se viabilize — cenário atualmente fora do horizonte, mas que vem sendo monitorado pelo governo.

Embora veja vantagens de Marcos Pereira chegar ao comando da Câmara, o Planalto evita, até aqui, adiantar se fará qualquer movimento, ainda que velado, por algum candidato, sob o argumento de que se Lula se comprometer com um deles, acabará rompendo com os outros, todos líderes ou presidentes de legendas das quais o Planalto espera contar com os votos para aprovar a pauta econômica deste ano. União Brasil, Republicanos, PSD e MDB possuem representantes no primeiro escalão do governo.

Em conversa com Lira em fevereiro, Lula disse que não vai interferir na sucessão do comando da Casa e também se comprometeu a não trabalhar contra o candidato que Lira apoiar para disputar sua cadeira.

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