Governo Lula busca unidade com setor privado em resposta a tarifaço de Trump
Ação precisará ser negociada com empresas brasileiras para evitar prejudicar produção nacional
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está buscando o setor privado para traçar a estratégia de como lidar com a aplicação de uma tarifa de 10% sobre as importações de produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A ideia é que qualquer resposta seja decidida de forma conjunta, para mostrar unidade no país e não prejudicar as empresas nacionais.
O objetivo nas negociações do Brasil é reduzir a taxa de 10% ou excluir o máximo possível de produtos do país da lista. O entendimento corrente no Itamaraty é que essa tarifa foi um mal menor, mas todas as alternativas são estudadas.
Na próxima semana, as negociações entre os dois países serão retomadas, com uma visão mais clara sobre a aplicação de taxas chamadas de “recíprocas” pelo governo americano. Um negociador brasileiro diz que a prioridade é chegar a um acordo com os americanos para evitar o acirramento da guerra comercial deflagrada por Trump.
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O Brasil, porém, já tem a "carta da retaliação na manga", em uma referência ao projeto aprovado pelo Congresso Nacional, com o apoio de governistas e opositores a Lula, que permite a adoção de medidas como a elevação de tarifas de importação e a quebra de patentes e direitos autorais.
Como o aumento das alíquotas cobradas encarece as importações e, por tabela, os custos industriais, o mais provável é focar em propriedade intelectual. Nesse caso, o lado mais afetado seriam os EUA, que detém patentes de medicamentos e são grandes exportadores de filmes. Mas o setor privado dará a última palavra. A ideia é demonstrar unidade, uma junção de estratégia entre governo, Congresso e setor privado.
O tarifaço promovido por Trump, que entra em vigor no próximo sábado, junta-se a uma outra medida, que passou a valer no último dia 12 de março: a criação de uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio de todos os países, inclusive o Brasil, grande exportador de siderúrgicos para os EUA.
As negociações entre Brasil e EUA começaram antes mesmo de vigorar as tarifas de 25%. Segundo interlocutores do governo e do setor privado, as conversas estão mais avançadas e o objetivo é chegar a um acordo que permita o ingresso de determinada quantidade de aço no mercado americano sem essa taxa, como ocorreu no primeiro mandato de Trump.
Nas conversas com os EUA, o Brasil insiste que não é um problema para as indústrias americanas, que precisam de insumos brasileiros e vão pagar mais caro por eles. Além disso, destaca que, historicamente, o comércio bilateral é favorável ao lado americano.