Monitoramento

Governo Lula diz que caso Abin vai ser investigado e promete reformulação na agência

Ministros como Alexandre Padilha e Rui Costa classificaram como grave monitoramento feito pelo órgão durante governo Bolsonaro

Presidente Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente Luiz Inácio Lula da Silva - Foto: Evaristo Sá/AFP

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu investigar e punir os responsáveis por utilizar um programa secreto para monitorar alvos na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa, se posicionaram nesta terça-feira sobre o caso revelado pelo Globo.

Padilha disse que considera grave a informação de que a Abin teria utilizado um sistema capaz de monitorar a localização de qualquer pessoa por meio do telefone celular, nos três primeiros anos do governo anterior.

— Isso é muito grave. A matéria que saiu sobre isso é muito grave. É mais uma questão a ser apurada das profundas irregularidades cometidas, não só por Bolsonaro, como por agentes do governo anterior — disse no ministro, completando: —A própria Abin e outros órgãos, como o próprio Ministério da Justiça, certamente irão apurar essas situações e se for comprovada uma irregularidade tão grave na vida íntima das pessoas, nos direitos individuais, na liberdade das pessoas, se isso for confirmado, os responsáveis têm que ser fortemente punidos.

Rui Costa prometeu que a Abin deve ser alvo de investigação por órgãos de fiscalização. Segundo ele, o plano do governo Lula é reformular a agência de inteligência, que deixou de ser subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão tradicionalmente comandado por militares, e passou para o guarda-chuva da Casa Civil.

— Assim que tivermos a nova direção da Abin, nós vamos reformular. Posso dizer que sob nova direção, toda a lei será respeitada no trabalho da Abin. Se algo foi feito no passado, no outro governo, que não tem conformidade com a lei, isso será levado a quem é responsável, à CGU (Controladoria Geral da União), aos órgãos de Justiça, para que as providências cabíveis, a responsabilização devida, seja feita — respondeu o ministro, ao ser questionado sobre quais providências seriam tomadas diante da revelação de uso do programa de monitoramento.

Ele acrescentou:

— Esse episódio da Abin será encaminhado para os órgãos competentes e o que vai ser feito agora são as mudanças de pessoas, de métodos e de práticas para estarem alinhados com a legislação em vigor.

Durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, Abin operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional, segundo documentos obtidos pelo GLOBO e relatos de servidores. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho.

A prática levou a questionamentos dentro da própria Abin, pois a agência não possui autorização legal para acessar dados privados. O caso motivou a abertura de investigação interna e, para especialistas, a vigilância pode ainda violar o direito à privacidade.

Em nota, a agência admitiu que o contrato para uso do programa, de caráter sigiloso, teve início em 26 de dezembro de 2018 e foi encerrado em 8 de maio de 2021. "Atualmente, a Agência está em processo de aperfeiçoamento e revisão de seus normativos internos, em consonância com o interesse público e o compromisso com o Estado Democrático de Direito", diz a agência.

Líder do PT na Câmara, o deputado Zeca Dirceu definiu o caso como um "atentado contra a liberdade individual". Dirceu afirmou que a bancada do partido trabalhará para que as investigações ocorram de maneira rápida e que as denúncias sejam apresentadas. A bancada governista se reúne nesta terça-feira e analisa apossibilidade de protocolar um pedido de CPI na Câmara sobre o assunto.

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